quarta-feira, junho 13, 2007

Projeto de emprego

Sem titubear (adoro essa palavra!) te digo o ano em que me formei, as minhas cinco últimas experiências profissionais e as minhas singelas pretensões quanto a uma relação empregatícia. E vou sorrir ao final de tudo isso. Mesmo que meus dedos já estejam doloridos de tanto cadastrar currículo em site.
Ando caindo na real. Engolindo o mundo a seco e sem coca-cola light para não fazer cara feia. Sim, sou mais uma ex-idealista vendendo meus sonhos ao mercado de trabalho e brigando contra a minha insatisfação. Afinal eu sempre acreditei que os sonhos valiam... E talvez valham. Num país acima da linha do Equador, onde as relações de emprego não se resumam à simpatia do sujeito entrevistado.
Ando numa crise sobre as possibilidades reais e o inconformismo do ideal. E sem excesso de romantismo o que procuro é a simples resposta: qual o limite da tolerância em uma entrevista? Descrevo o meu desespero:
O telefone toca. E do outro lado uma simpática secretária:
-Bom dia, por favor a Senhora Helga?
-É ela, quem fala?
-É do escritório XYZ.Gostamos do seu currículo e gostaríamos de fazer uma entrevista ainda hoje?(Ponto número 1 do meu inconformismo: porque não analisar a possibilidade do candidato se submeter à entrevista?! Afinal, quando procuramos um emprego nem sempre estamos desempregados e precisamos as vezes contornar a atual relação de emprego sem que isto nos valha uma demissão).
-Ok, posso depois das 15 horas...
-As 16?
-Tudo bem.
-Está marcado! Aguardamos sua presença.
Ela se despede dando maiores detalhes quanto ao local e pontos de referência.
Procuro no maravilhoso site da SPtrans mais um jeito diferente de me aventurar por São Paulo. Desconfio que eles colocam as inúmeras informações erradas no site só para testar a solidariedade de motoristas e das pessoas no ponto de ônibus. Mas como o mundo anda complicado e solidariedade não é coisa que o povo assiste na novela das oito, acabo desistindo de achar o ônibus certo e pego um táxi.E lá se vai meu rico dinheirinho... Tudo bem. Amanhã almoço um sanduba e esta tudo certo.
Chego no local. A entrevista marcada para as 16 horas começa às 16:30. E começa sem um pedido de desculpas por parte do entrevistador (Ponto número 2 do meu inconformismo: odeio esperar. É justo você pagar um táxi para chegar no horário e ainda esperar meia hora?)
A entrevistadora me dá um sorriso amarelo.
-Lemos o seu currículo. Você pode descrever as suas últimas experiências? (Ponto número 3 do meu inconformismo: analfabetismo funcional. Se o cara leu meu currículo qual a necessidade de me pedir que descreva as experiências que ele já sabe quais são?! Mais fácil perguntar sobre essa ou aquela, ou pedir que eu descreva minhas funções enfim. Disfarçar o interesse pelo entrevistado é, na minha opinião, altamente constrangedor para quem esta do outro lado da mesa!).
Mas mesmo assim descrevo as minhas experiências, demonstro interesse, enfatizo coisas em que fiz e me dei bem. Enfim, procuro vender meu peixe.
- Ok. Aqui nós trabalhamos com os seguintes processos e blá blá, blá...
Geralmente nesse ínterim ela descreve a função do escritório e sem delongas sobre o trabalho em si (Ponto número 4 do meu inconformismo: marketing pessoal. Se eu estivesse interessada unicamente no perfil do escritório, visitaria o site do mesmo (coisa que faço regularmente antes da entrevista). Mas numa entrevista de emprego geralmente o enfoque é a função, ou seja, aquilo que se vai fazer dentro da empresa / escritório. Nessas horas pouco interessa se vc trabalha no lugar X ou Y. O que interessa é o que você faz lá dentro e se isso te satisfaz enquanto profissional).
-Salário? Benefícios? (Ponto número 5 do meu inconformismo: não falar sobre a remuneração. Como boa estudante de direito que fui, sei que uma das quatro características da relação de trabalho é o salário. Acho complicado você ter que perguntar sobre esse ponto essencial da relação de trabalho quando você é o entrevistado. Se você esta procurando contratar alguém e busca estabelecer uma relação de emprego, acredito que não seja ofensivo falar sobre um dos pontos primordiais dela! Neste ponto não tive o que se considera como uma “delicadeza”, ao meu ponto de vista, desnecessária. Desculpem se isso soa arrogante, mas naquele momento, eu precisava saber se aquela entrevista ao menos poderia ter uma possibilidade de ser compensatória. Aliás, eu considero de extrema importância saber quanto se paga pelo seu serviço...)
-Bem, pagamos R$ 1.500,00 seco. (Ponto número 6 do meu inconformismo: pagar para trabalhar. É muito exigir que o empregador ao menos subsidie o mínimo de sustentabilidade para que se faça seu serviço? – Falei bem e falei bonito, mas o que eu quis dizer é, no presente caso só com transporte e alimentação meu salário se reduziria à R$ 1.100,00 com o detalhe: para almoçar no kilo e continuar andando de ônibus...)
-Não tem carteira assinada?
-Não. (Ponto número 7 do meu inconformismo: nada mais típico do que advogados desrespeitando as leis trabalhistas...)
E finalizando...
-E ai? Te interessa? (Ponto número 8 do meu inconformismo: barganha! Se não interessasse eu não tinha gastado dez paus de táxi para chegar aqui sua anta!).
Mas mesmo assim eu dou um sorriso, digo que tenho interesse na vaga e que gostei do ambiente do escritório.Não sei explicar, mas nessas horas acredito que brota dentro de mim um segundo EU, desesperado para se adequar ao mundo. Porque ao contrario do que pode pensar o meu leitor desavisado, entrevistas como estas são a grande maioria.
Saio de lá. Espero o ônibus me sentindo uma fracassada por não saber qual o limite da tolerância e do desemprego. Por não saber qual é o meu preço, afinal, eu também preciso pagar as minhas contas!
Arrumo amigos no ponto de ônibus graças à SPtrans. Subo no lotação e acho um lugar perto da janela. Diante dela permaneço questionando a existência de oportunidades melhores. Minha auto-estima embarca depois, procura um lugar e se senta nos fundos.


2 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei EXATA E DETALHADAMENTE o que vc está passando...e isto não é nada básico...por isso, digo que um bom caminho seria montar um belíssimo e luxuoso escritório na Helgolândia...ah, que beleza !

Anônimo disse...

Gostei do que li, no bom sentido é claro, vc. descreveu as difuculdades que todos enfrentam na busca pelo emprego. E comigo não foi diferente. Acho até que a busca pelo primeiro emprego é o pior de todos. Estou escrevendo um projeto sobre isso, onde quero mostrar para todas as autoridades no meu humilde município sobre os dois tipos de recrutamentos, um para o bem e o outro para o mau. E, infelizmente na ala do mau, a placa está escrito temos muitas vagas, não exigimos experiências, basta vender as drogas.
Lá na frente quando alguem reclama que assaltaram minha loja, minha empresa ele tem que ter em mente que aquela pessoa que se apresentou a ele buscando o primeiro emprego, e ele virou as cosatas, foi um candidato com grande potencial e que deu a sua vida pela profissão que escolheu.

Um beijo, qualquer coisa escreva para mim, marcosantonio97@terra.com.br