domingo, março 26, 2006

Sobrenome projeto

Projeto de limão é uma limonada. Projeto de caminho é uma estrada. Projeto de carinho é cafuné. Projeto de colega é amigo. Projeto de amor é paixão. Projeto de alegria é a felicidade. Projeto de mesada é salário. Projeto de sonho é utopia. Projeto de tristeza é depressão. Projeto de poesia é um soneto. Projeto de música é jazz. Projeto de presente é passado.
Projeto de vida ... é só vivendo.

Mulheres solteiras

Toda mulher solteira é um pouco bruxa, e, isso logo se percebe nessas mandingas praticadas intensamente nos banheiros públicos femininos. O suave polir das armas da sedução, é um ritual de magia intenso, em que se sacramenta o estratégico ajeitar do sutiã, o retoque minucioso do batom e as milhões de formas de se arrumar o fio de cabelo rebelde, que resistiu a mais quente das chapinhas.
É nesse ritual de magia e beleza, que logo se reconhece o poder e a astúcia dessas sábias feiticeiras que investem nos detalhes o sucesso de uma boa conquista.
E quando se pintam, como verdadeiras guerreiras, escondem o rosto da solidão. Porque toda mulher solteira também é uma menina que pede colo.
Toda mulher solteira é uma geladeira com frutas, legumes, verduras, leite desnatado e alguma promessa de vida saudável industrializada. É uma dieta de segunda feira que acaba na terça, quando se decide, com as amigas, que a pizzaria de sempre é o local do encontro para colocar as fofocas do final de semana em dia. Porque toda mulher solteira é cuidado consigo e promessa do que não foi feito. Toda mulher solteira é conselho.
Toda mulher solteira é um sono espaçoso que dorme de um lado da cama para acordar do outro. Toda mulher solteira é uma escova de dentes única na pia, é um sorriso matinal descabelado que logo surge quando se encontra a tampa da privada no lugar certo.
Toda mulher solteira é um coração pendurado no fio de nylon da esperança. Esperando um grande amor que não vem. E criando cores onde não tem.
Porque toda mulher solteira é um amor imaginado. É um poema romântico sem métrica ou destinatário.
Toda mulher solteira é caminho sem mapa. Remédio sem bula. Segredo e não receita.
Toda mulher solteira é uma organização desorganizada, de quem tem tempo demais para si.
De quem tem tempo suficiente para viver. Sem dar nenhuma satisfação.
Toda mulher solteira é a mística da feminilidade experimentada, que se transcreve na busca por si mesma e na riqueza dos detalhes.

segunda-feira, março 13, 2006

Depois (ponto final)

" Um amor assim violento, quando torna-se mágoa, é o avesso de um sentimento, oceano sem água"
(uma música do Caetano que esqueci o nome, assim como precisei esquecer e seguir)

segunda-feira, março 06, 2006

Um grande amor e um grande time

Nasci corinthiana. Por herança de um avô que mal conheci. Dele só me sobraram as histórias e uma curiosidade louca de ter presenciado um pouquinho da sua existência . Meu pai conta que ele era corinthiano fanático, desses de ir ao estádio, acompanhar o time e tudo mais. E por conta dessas histórias que me acostumei a ouvir, não me lembro da existência de outro time, até meu irmão mais novo nascer. Não se sabe por qual descuido genético, o caçula nasceu são paulino. Desses fanáticos, que driblavam a bola e falavam o nome do zagueiro do tricolor. E não havia São Jorge que o transformasse em corinthiano. O caçula é são paulino.Mas, ainda que o entrave futebolístico se instalasse no coração da minha família, continuei corinthiana, mesmo que fosse só para provocar o menorzinho. Só reconheci paixão no time a primeira vez que vi o Viola marcar um gol e dançar no campo. Achei aquilo o máximo, e, motivo maior não existiria para confirmar minha genética. Aprendi a torcer, só para ver ele dançar no campo a cada gol. Virei assim corinthiana por paixão.Na minha casa mulher não gosta de futebol, é quase uma regra. Minha avó conta que o futebol foi a desgraça que impediu minha tia casar. Segundo ela, a paixão da minha tia pelo Guarani afastou uma série de pretendentes. Uma mulher que gostava de futebol naquela época era uma aberração. Por isso ela não casou, embora continue fiel ao Guarani até os dias de hoje.Mas contrariei as expectativas. Nasci corinthiana fazer o quê?Acontece que por um descuido da paixão, me iludi por um novo moço e por um outro time. É um pouco desse zelo que a feminilidade acaba nos legando. Renunciamos um pouco do nosso espaço para cuidar do coração alheio. E como eu sabia que ele quase enfartava com um jogo do São Paulo, pensei em torcer para o time, numa tentativa frustrada de proteger o meu amado de seus ataques histéricos.Mas a paixão acaba e o amor azeda. O moço foi embora, num dia em que eu me irritei com o seu descaso. Levando sua bandeira e um pedaço do meu coração. Ai veio a tristeza atropelando todas as lembranças. Fiquei mais corinthiana do que nunca! Dessas raivosas que deseja ver o time alheio perder. Só pelo sarcasmo do sentimento que move uma paixão decepada. Sim, levantei bandeiras, tirei a camisa do armário e me redimi. Corinthiana de pele. Não mexam comigo! O amor acabou, a raiva passou, precisava resgatar meu lado corinthiana de pequena.Ontem fui ao estádio, me conciliar com meu time. Pedi perdão silenciosamente por ter pensado em abandoná-lo por uma paixão que passou. E logo que a rede chocou com o gol do Nilmar, vibrei junto e saudei com a fiel o “todo poderoso timão”. Gritei, sofri, vibrei e quase chorei com o gol do empate, marcado ao 2 minutos do final. Foi uma zica. Um balde de água fria... Justo na primeira vez que fui ao estádio!Não importa. Sai do Pacaembú corinthiana novamente. De alma lavada e com o sentimento preenchido. Devota do santo guerreiro e do melhor time do Brasil. E sem medo que as premonições da minha avó se confirmem. Talvez a paixão pelo time afaste a paixão por alguns homens e quem sabe meu fim seja o mesmo da minha tia. Não tem problema. Pois um grande time não se troca por um grande amor. Ainda mais quando seu grande amor também é um grande time.

sexta-feira, março 03, 2006

Como matar um escorpião (ou um escorpiano)

Não sei se a natureza é sábia ou irônica. Mas fato é, que no caso do escorpião esta sabedoria ou ironia desafia a lógica das coisas. Senão vejamos. O escorpião é um bichinho bastante pretencioso. Isto porque, ciente daquela enorme pinça presente em sua bunda, ele usa e abusa do veneno letal e poderoso que tem. Não só quando pica, mas principalmente quando ameaça.
Isto faz com que o bicho se ache imponente diante de todas as coisas. Ninguém mexe com um escorpião... E nada mais óbvio, afinal, quem confiaria em alguém que tem o seu maior trunfo, logo ali no rabo?! Típico de escorpianos, que carregam suas armas, também, nas costas.
Mas esse bicho que de tão pretencioso, ficou vaidoso demais, não soube que a natureza lhe guardou uma boa peça. Que faz, na verdade, uma ótima analogia para os devaneios da vaidade.
Então, esse bichinho poderoso e pretencioso, cheio de si, que chega a ter o ego maior do que pode carregar, prova um pouco do seu veneno logo que vê fogo.
Não se sabe ao certo a explicação, mas para matar um escorpião o que se deve fazer é colocá-lo no meio de uma roda de fogo. Acuado, o bicho não suporta a impotência, coisas típicas de quem tem muita vaidade e ego, e prefere provar do seu veneno letal a se ver literalmente queimado. E morre assim, com a sina de covarde. Como um suicida que não enfrenta os problemas da vida. Como alguém que adora o papel de vítima mas não suporta a idéia das pessoas lhe dizerem isso.
Triste sina que a gente vê por aí, reservada a essas pessoas que têm o ego na lua e acabam muitas vezes sendo bastante covardes.
O bicho do teu signo é o escorpião. O elemento do meu signo é o fogo. Tinhamos armas poderosas em nossas palavras. Por óbvio, um entrave escrito nas estrelas. Uma bela briga financiada pelo zodíaco. Mas eu quis colocar fogo, só para provocar o tamanho do teu ego. Chamei-te vítima, só para sentir sua pretensão. Entendi que seu veneno era letal e mataria qualquer sombra de saudade, de boas lembranças. Mas não imaginei que assistiria a sua covardia, assim, de camarote.

quinta-feira, março 02, 2006

Na frente do mar

Placebo para todas as dores da alma, assim é o mar. Ficar olhando horas a fio o vai e vem de tantas ondas faz repensar a vida, faz acalmar a mente, faz experimentar um pouco de paz. Salgado como a mesma água humana que vem das lágrimas, pensei em todas as coisas ali na frente das ondas. E deixei passar. Desprendi. Deixei levar. Precisava viver. As ondas que vem e vão refletem o movimento absurdo da vida, que as vezes é tão difícil de aceitar. E se encarar humano.
Diante de todas as ondas, daquela imensidão azul, fui pequena como realmente sou. Fui um pedaço de projeto, caminhando por rotas que só eu traço, e desfaço, logo que vem a primeira calmaria. Porque sou inquieta e inconstante diante de toda a dinâmica da vida. Por isso me entrego nos sentidos e sou assim, intensidade.
Mas ali, na frente do mar, sou um projeto pequeno diante do infinito de todo esse azul. Precisava entender o que havia de pequeno em mim. Então deixei ir. Para aceitar, o vazio de tudo aquilo que não tem sentido, mas que ganha beleza e força, assim, na frente do mar.