terça-feira, dezembro 11, 2012

Olhos

Era o começo de uma noite extremamente quente. As luzes, todas, que iluminavam a avenida, deixavam-na com um aspecto de um forno elétrico onde fervilhavam milhares de pessoas.  Milhares de famílias felizes que vinham ali, nesta época do ano, admirar os enfeites coloridos e brilhantes da Avenida Paulista.
Quando atravessou, com o chinelo maior que os pés e o short maior que o corpo, não me surpreendeu. Afinal, são comuns esses meninos que engraxam sapatos por lá. Cor da pele preta, camisa surrada e no lugar do caixote, trazia inúmeros enfeites piscantes pendurados junto ao corpo, desses vendem aos montes na Rua Vinte Cinco de Março. Gritava qualquer coisa, oferecendo seus produtos a um preço mísero. Fazia paisagem, o pequeno menino piscante.

Quando o sinal fechou e a família toda atravessou. A filha segurava a mão da mãe. O filho vinha agarrado ao pai. Máquina fotográfica em punho e todos sorrindo, maravilhados diante dos ursos enormes que cantarolavam “Merry Christmas” diante dos incontáveis prédios daquele paraíso artificial.

A atenção do menino junto ao pai então se desviou para o outro menino. Aquele que piscava e oferecia as luzinhas. Ele então apontou e na sequencia olhou o pai, com olhos redondos de menino. O outro, se aproximou piscante, até que de modo sorrateiro. Parou de gritar os preços e com olhos redondos, também olhou o pai.

O pai, coagido pelo inferno do consumo em uma noite quente feito aquela, tentou ignorar. Mas o filho, insistentemente puxou-lhe a blusa dizendo imperativo “eu quero”. O outro, que não podia cometer tal insistência permaneceu parado e estendeu ao pai um bastão colorido que brilhava.  O pai ficou sem jeito e ralhou com o filho, que por sua vez, baixou os olhos inconsoláveis. O menino recolheu o bastão colorido rapidamente e da mesma forma baixou os olhos inconsoláveis.

Peguei a carteira em um ato desesperado. Queria comprar o bastão colorido de um e entregar ao outro, a força mesmo. Sem a razão da paternidade. Mas a família feliz sumiu diante da multidão e o menino com seus bastões coloridos não demorou a voltar a gritar seus preços.

Olhei os olhos do papai noel gigante. Estáticos, vítreos, como o de uma estátua deveria ser. Pensei se poderia olhar. E se pudesse ver, o que faria? Porque eram olhos iguais, de meninos que não deveriam ser diferentes. Me perguntei se haveria outro jeito de desejar feliz natal.