terça-feira, abril 25, 2006

sobre o sol...

Essa luz amarela que invade o quarto, roubando toda a minha concentração. É o espetáculo majestoso de mais um sol que se põem. Para este dia que se vai assim, trancado neste quarto, que são mais livros do que poesia.
Mas neste instante amarelo de profunda respiração, deu tempo para não pensar em nada. Passei o dia todo tentando saber mais do que podia. Mas que esqueci que tudo o que é sábio e grande nesta vida, são pequenos momentos, deste jeito, que nos levam a tarde e reticências...
Respirei no meio dessa confusão de amadurecer sem endurecer, todo dia, um pouquinho. E fui feliz no minuto assim.Amarelo que foi ficando rosa até escurecer. E pedi para esse céu de estrelas, um pouco dessa fé, que fica neste céu aqui de dentro e que uns tempos para cá deu para nublar...

domingo, abril 23, 2006

Vinho

"Esse papo seu tá qualquer coisa, você já esta pra lá de Marraqueshhhhhhhhhhhh
Mexe qualquer coisa, dentro doida, já qualquer coisa doida dentro mexe..."
(Qualquer coisa - Caetano Veloso)

sexta-feira, abril 21, 2006

Injustiça

Se a boca cala, é porque sente que os gritos são como um assovio, que nada ou muito pouco conseguem protestar. Porque não há razão, quando aquilo que se impõem é só a força bruta e nada mais. Do que é hierárquico e injusto. Porque não foi institucionalizado no respeito. E é desse desrespeito caricato, que nos acostumamos a sobreviver, para ler as próximas manchetes dos jornais.Que vem logo no dia seguinte. É do desrespeito assim, legislativo, positivado, socializado e interno. Mas a boca cala e seca, porque não adianta gritar. E talvez a melhor saída para isso tudo, seja aquela porta do próximo aeroporto.
É a boca que seca, a garganta que seca. E os olhos molham, porque ainda conseguem sucumbir ao desrespeito que corta a alma. Para aqueles poucos que escolheram ter um pouco de valor. Ou valores.
Injustiça é dor da alma. Que machuca a honra. Fere a dignidade.
É dor que esse povo não tem.
Ou se tem. Fica escondida no próximo escândalo, na próxima novela que a gente costuma comprar. O circo pelo pão. O pão pelo circo.

sexta-feira, abril 14, 2006

Sem forma

A minha natureza é curiosa e insubordinada. Sempre questionando, sempre questionada. Porque preciso dizer o que acho que as palavras podem dizer. E por isso digo. Digo porque não sei ser, quem não posso ser, e se é preciso falar, ainda que não seja interessante dizer, simplesmente não calo. E eu sempre falo.
Porque sou uma tempestade com trovões. Uma verdadeira chuva de verão. E se é preciso molhar: me encharco. Não sei ser garoa. É na constância daqueles pingos finos que justamente me afogo.
É cotidiano que me mata, todo dia um pouquinho. Porque perdi o cabresto dos meus sonhos e não sei mais.
É a rebeldia de quem nunca se adestra. De quem nasceu sem a forma, ou perdeu a bula.
Porque o que eu tenho de doce, é temperado com canela. Acrescente mel, se quiser me entender.

quinta-feira, abril 13, 2006

Avenida Paulista, sexta feira, 7 de abril de 2006

"Você vai pagar e é dobrado, cada lágrima rolada nesse meu penar
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia"

(Chico Buarque, "Apesar de você" - trilha sonora de uma demissão devidamente chorada em um ônibus lotado, numa sexta feira injusta)

Mais uma vez

Acho que foi assim: bateu de novo o amor na minha porta. Como sempre, com a mesma irreverência, que vinha logo ali, num sorriso azul. Chegou sorrateiro, com um novo contrato de adesão, com cláusula de “não sofrimento”.
Não tive reação mais sincera que não bater a porta. Deixando o amor, ali do outro lado entregue ao vazio da minha raivosa indiferença. E não adiantaria insistir. Dessa vez, ainda que meu coração surdo, ouvisse com tanto zelo suas propostas, não aceitaria as mesmas ilusões em roupas novas. Tranquei a porta.
Voltou logo no outro dia. Tocou a campainha e saiu correndo. Como não vi que se tratava do amor, quando abri a porta para ver quem era, ele entrou sem eu perceber. Instalou-se logo no sofá da sala. Confortável, como um moleque só.
Irritada como só eu estava, enxotei o amor de vez e disse que não mais voltasse. Sob pena de me encontrar em estado de fúria profundo.
Mas o amor pulou o muro. E foi parar direto no meu jardim. Quando me dei conta, no meu jardim seco e esquecido, havia sim uma outra semente, e não pude resistir. Num suspiro de quem entrega os pontos, aliviei e sucumbi. Reguei com carinho, aquilo que só molhei com raiva.

sábado, abril 01, 2006

(...)

"I know someday you'll have a beautiful life, I know you'll be a star
In somebody else's sky, but why, why, why
Can't it be, can't it be mine"

(Pearl Jam, Black)

Deixe o menino brincar...

A cada sinal fechado é quase sempre a mesma cena. Realidade incômoda. O medo do assalto, a fragilidade dos nossos sentimentos, a impotência de nossos esforços. A indiferença para a diferença. Nos escondemos atrás dos vidros escurecidos então. Cada vez mais escuros. É melhor não ver. A garganta fecha e o próximo gole de saliva vai ser mais difícil de escorregar. Talvez você compre uma bala, para doar em moedas um futuro para essas crianças sem futuro. Que fazem da faixa de pedestres o novo palco da tristeza. Malabaristas da pobreza humana. A que preço? Das balas mais caras e menos doces que compramos...A cada sinal.
Há quantas os olhos agüentam? Deixe o menino brincar... Por favor, deixe o menino brincar. Brincar.Deixe ele ser palhaço.