quinta-feira, outubro 19, 2006

A fórceps

Ás exatas 5:44 da manhã, do dia 19 de outubro de 2006, após 6 meses de gestação,520 horas na frente de um computador, aproximadamente 18 litros de café bebidos, 9 barras de chocolate devoradas (da Hersheys porque estava na promoção), dois kilos e meio engordados, 130 kilômetros corridos, aproximadamente um rio de suor escorrido, aproximadamente um oceano de lágrimas choradas, um assassinato imaginário de um orientador desorientado, 30 baladas a menos na minha vida, uma briga com a minha mãe, uma briga na minha república, 23 livros lidos, 40 página escritas, 39 horas de sono a menos, 57 horas perdidas na biblioteca da PUC, 1 porre para afogar as mágoas, 82 acórdãos catalogados... E eu pari uma monografia. A fórceps.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Seis coisas que você deveria saber sobre uma Helga

Recebi de um grande amigo da faculdade um desafio bloguerístico, onde eu deveria listar seis coisas que as pessoas não sabem sobre mim, sob pena de um coelho me atacar (É isso mesmo Tucun?!) Pois bem, topei a empreitada e depois de alguns neurônios fritos segue o meu manual das "Seis coisas que você deveria saber sobre uma Helga". Andiamo via!
1) A primeira coisa mais curiosa sobre a minha pessoa é que meu parto foi tão alemão, mas tão alemão, que eu praticamente nasci bebendo cerveja. E essa historia foi mais ou menos assim. Era para eu ter nascido no dia 03/11, mas como a preguiça é algo que domina o meu ser desde muito cedo, acabei colocando os olhos para fora do útero da minha mãe somente no dia 30/11. Um dia antes disso acontecer, minha mãe foi fazer compras no supermercado e ficou com um desejo insano de beber cerveja. Compras feitas, coisas guardadas, cerveja gelada e bebida, ela se deitou e foi dormir. No final da madrugada ela acorda meu pai com aquela deliciosa frase "Benhê, rompeu a bolsa". Meu pai, vira de lado e diz "Você não está acostumada a beber cerveja e deve ter feito xixi na calça". E foi assim que eu nasci.
2) O meu personagem preferido quando criança era a bruxa Malévola da Branca de Neve. Adorava! Contudo, por uma psicologia infantil imbecil que vigorava naquela época, não era aconselhável crianças gostarem dos personagens maus dos contos de fadas. A gente podia gostar de uma loira irritante de voz estridente, mas não podia gostar de bruxa! (vai entender) Foi assim que me colocaram na terapia durante cinco anos, para eu sair de lá uma Cinderhelga. Acho que foi a maior idiotice que poderiam fazer com uma criança...
3) A maior maldade que eu já fiz na minha vida, foi fazer meu irmão mais novo vomitar. Foi de uma crueldade indescritível. Ele não gostava de comer nada e minha mãe fazia um ervilha com ovo que tinha um cheiro horrível. Coloquei a iguaria no nariz do pequeno e ele vomitou uns três dias...
4) Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria para fazer uma coisa só: dizer ao meu avô que eu o amava demais. Quando ele se foi, eu era muito nova para entender que a vida não era para sempre...
5) Sou aficcionada por cheiros. Os meus gostos mais esquisitos? Cheiro de gasolina, de bronzeador e de biblioteca.
6) Acho que poucas pessoas sabem, mas eu tenho um mundo de sardinha nas costas. Um dia eu fiquei pirando sobre a possibilidade delas se tornarem um jogo de ligue-os-pontos e revelarem algum segredo cabalistico sobre mim. Como elas ficam nas costas, ainda não consegui realizar esse desafio...

Bom, é isso aí! Cumprida a lista e ufa! estou livre de um coelho assassino...

segunda-feira, outubro 02, 2006

Bandini

Eu queria te dizer tantas coisas, dessas que não se diz. Porque quando a gente sabe que precisa ir, é melhor se cobrir de orgulho e partir logo. Esquecer.
E minha vontade de te esquecer é tanta, que eu gostaria que todos os cabeludos ficassem carecas, que todos os baixistas virassem guitarristas, que as cantinas italianas tirassem o molho carbonara do cardápio, que nos meus pés não restassem as cicatrizes do nosso encontro inusitado.
E assim eu também desejo ardentemente que o óleo de massagem da OX pare de ser vendido na farmácia da esquina, que Marte suma do sistema solar, que o gosto da cerveja não me traga o sabor simples do teu beijo.
Eu só queria que o livro do John Fante não estivesse na vitrine da Livraria Cultura...
Porque tudo é tão recente e óbvio, que o meu espontâneo suspiro é de uma tristeza incontida, nos fragmentos do meu dia onde encontro você.
E hoje. Hoje quando peguei o ônibus que passava pela Vila Mariana, tão logo vi a placa da Lins de Vasconcelos, coloquei os óculos escuros, na tentativa de esconder alguma lágrima que denunciasse a minha vontade já vencida de te esquecer.
E por isso eu queria descer no próximo ponto, correr Lins abaixo para bater na sua porta e encontrar nos seus olhos o desamor que eu não conheci. Eu, que me apaixonei no pequeno vazio das conclusões prematuras, queria calar a poesia urbana e livre que me encantou no teu cheiro. No teu beijo elétrico e doce.
Mas eu fui. Fui embora levando saudades do sentimento intenso e bruto que você me despertou, e, que agora eu deixava as rodas do ônibus atropelar.
Eu fui embora levando saudades da tua ternura hippie, do seu All Star verde de cadarços coloridos, da sua solidão embrutecida num solo de baixo na madrugada, do cinismo do seu português mal escrito.
Fui embora levando saudades do seu olhar de menino, que era apenas um vazio de ilusões para um coração de cerâmica feito o meu.

Rabiscos

Ando caminhando dentro de mim, brincando com as palavras erradas, para procurar o texto certo que anda preso dentro da minha alma e não quer sair. Parece que imediatamente consigo experimentar o nada que sou agora e vivê-lo com quase a mesma certeza que aprendi a viver meus sonhos. Mas é preciso crescer.
Eu que não quero abandonar a minha intensidade menina de rabiscar o mundo, com as minhas cores estapafúrdias que não comportam mais. Eu que não quero me tornar uma burocrata estúpida vestindo roupas sociais amarrotadas pelo ônibus lotado. Eu quero continuar sonhando na janela.
Mas eu sou um nada e diariamente o mundo me cospe um pouco de realidade, para que eu finque meus pés no chão e entorpeça um pouco da minha alma. Mais um PROZAC, por favor?
Eu. Eu que não sou eu, brigando pelo mundo que eu não vou mudar, vendendo as minhas ideologias num mercado negro, sem receber muito por isso.
Mas são todos os rabiscos, que insistem em sair na calada da noite, quando depois de um dia cheio, algo dentro de mim quis falar. Com a intensidade daquilo que eu nunca calo.
São todos rabiscos saídos, para libertar dentro de mim o texto que já está perdido. E que eu não achei as palavras certas para dizer, aquilo que grita e pulsa desordenado dentro de mim: me ensina a viver com os pés no chão.