sexta-feira, junho 30, 2006

"Foda-se"

Conversando com muitas pessoas por esta vida, acho que encontrei o mais potente dos anti-depressivos: o real e moderno caminho da felicidade. Cem por cento natural, não contém transgênicos, sem nenhuma contra indicação, além de ser acessível a qualquer bolso. Rola um certo modismo por aí, afinal é dificil encontrar quem não se valha dele. Confesso que também me rendi.
Prático, cabe na bolsa e desde de a invenção do "abracadabra" e dos psicotrópicos de última geração, nenhum substantivo ou subtância tinha um potencial tão mágico quanto este. Trata-se do "Foda-se".
"Foda-se" ultrapassa a eficiência de um produto comum: pode ser consumido a qualquer momento, sem nenhuma restrição.
Seu manuseio supera as expectativas. O "foda-se" é simples, não precisa de refrigeramento ou temperatura especial, cabe em qualquer espaço, adaptável a todas as situações. E o resultado? I-me-di-a-to. "Foda-se" produz, logo após seu manuseio, um sorriso e um alívio instantâneos. Quer ver?
Pegue uma situação. Qualquer uma da sua vida. Pense naquela que anda te incomodando mais ultimamente. Mentalize com força... Vamos lá? Não acordou num cenário de propaganda de margarina? Pior... Brigou com o chefe? Com a mãe? Com o namorado? Apaixonou-se e levou um pé na bunda? Foi demitido? Engordou três kilos? Foi mal na prova? Teve uma puta dor de barriga no meio de uma reunião importantíssima? Bateu o carro? Cólica menstrual? Calos no pé? Saudade? Frieiras? Solidão? Sarna?Ansiedade? Gripe? Crise existencial? Separação dos pais? Conta do banco no vermelho? Seus problemas acadaram...
Respire fundo, vai sentindo o ventinho do "F" bem ali na frente da sua boca. Deixa vir de dentro, sem medo... Isso. Tá indo bem. Inclui o "O" agora... Deixa fluir o "Fo", já junta com o "Da", mas não se esquece da entonação e da respiração. Isso são detalhes importantissimos! Agora vai vindo! Isso, sem deixar parar sai o "se". Junta tudo, "Foda-se"! Cade o problema? Aposto que você nem se lembra mais dele.
"Foda-se" é assim, imune a todos os incomôdos. Porque o "foda-se" nos torna adapatáveis ao sofrimento. Com o "foda-se" não tem tempo ruim, melancolia de final de domingo ou solidão... Por isso? Se algum sapo não te desce na garganta, não tenha dúvida, beba com um gole de "foda-se" e tudo estará melhor. O "foda-se" desce redondo. Desce macio e reanima!
"Foda-se" em doses não homeopáticas, três vezes ao dia, depois das refeições principais. De repente sua vida começar a andar tão rápido, que você sentirá que o sofrimento não te alcança mais. Pois, quando ele estiver por perto, você já ativou o "foda-se" e tudo já mudou de cenário. O "Foda-se" desapega, minha gente! O "foda-se" salva.
E a tua força é assim tão grande, que pode até virar religião, comunidade no orkut, política pública ou movimento de esquerda. Adeptos do "Foda-se" uni-vos!
"Foda-se". Nada é imune ao "Foda-se". Pois o homem criou no "foda-se" a sua imagem e semelhança.
Por exemplo agora, talvez esse texto te incomode. O blog assumiu um tom sarcástico e as minhas palavras soam quase como um beliscão na alma? "Foda-se".
"Foda-se" muito tudo isso!
E desde que comecei a utilizar o "foda-se" nada mais me incomodou. Exceto um pequeno detalhe que penso até em dividir com os demais usuários, para ver se isso acontece com vocês também.
Em um dia muito ruim, escovando os dentes, percebi que estava chateada com um monte de coisas na minha vida. Imediatamente, fiz o uso do "foda-se". E lembra-se do suspiro seguido do alívio, que comentei? Pois é, me olhei no espelho e percebi que aquele sorriso pós "foda-se" não era um sorriso comum... não era um sorriso normal. Não iluminava, não desarmava, não revolucionava nada. Por alguns segundos eu percebi que aquele sorriso não me trazia humor para lidar com a vida. Percebi que eu estava me tornando não uma pessoa feliz, mas uma pessoa cínica... Então, tomei outro "foda-se" logo em seguida e passou. Já aconteceu isso com você?

sábado, junho 24, 2006

Momento de histeria jurídico



O ultimo pedido de Saddam...

terça-feira, junho 20, 2006

Você é um bosta

Eu ainda não havia me cansado quando você me ejetou céu abaixo do seu vôo de um piloto só. Ou será que eu mesma me joguei? Fazer parte das tuas asas foi uma sensação leve de experimentar de novo o amor. Sem medo e sem coragem. Por isso, aguardava ansiosa o teu nome piscar na tela do meu celular para depois sorrir de graça, com toda a meninice que o tempo ainda não me consumiu. Mas você foi embora sem que eu pudesse descobir se era louca pelo seu cheiro, pela sua prolixidade, pela sua pinta do lado esquerdo do queixo ou pelas fantasias de Borges que você recria na sua vida. As vezes eu penso que se meu coração tivesse um detector de mentiras, suas palavras não seriam um tapete vermelho para todas as minhas expectativas. Porque te amei, também, pelo que você não deixou acontecer. Como aquele presente que eu devolvi na loja, porque não tive tempo de te dar. Embora tenha desejado o teu sorriso ao recebê-lo.
Quando sobrou só eu e a saudade, fui para a rua e beijei outras bocas, acordei em outras camas e voltei para casa ouvindo Chico Buarque ("e quantas águas rolaram, tantos homens me amaram, bem mais e melhor que você"...) lamentando o meu lado mesquinho que insistia em sofrer por você. Porque com o tempo, descobri que você era bem menor que todos os meus enormes sentimentos.
Eu deixei você apodrecer aqui dentro. Junto com aquele "eu te amo", que você dizia como quem diz um corriqueiro "bom-dia". Como quem brinca com as palavras para fazer propaganda. E brinca com as palavras para encantar o coração alheio. Mas o alumbramento acabou.
E nessas mesmas palavras, eu encontrei a tua função e o meu consolo, talvez você tenha sido apenas um antídoto para outros relacionamentos furados. Outros amores bandidos e maltrapilhos feito esse que você gravou num cd.
Foram nessas mesmas palavras que eu me libertei e quando não soubrou o sentimento nem a resignação, veio o ponto final, a conclusão. Quando penso em você, quando ainda penso, uso o teu mesmo jogo de palavras para contar uma nova verdade. Dessas mesmas verdades que não são absolutas. Mas o que importa? O que importa desde que você fechou aquela porta, para abrir meus olhos de tanta ilusão. E quando vejo e tento negar, para poupar um aconchego para as lembranças, encontro apenas impossibilidades. Porque as pessoas são, aquilo que elas são. Hoje. E sem negar o passado, sem contar histórias para mim mesma, para desconsiderar sua poética rescunhada de Garcia Lorca, eu precisava dizer.Sem o tom piegas de um amor mal vivido. Sem a nota saudosa de um passado compartilhado. Sem negar o que a realidade nos escarra e o que os olhos lavam com as lágrimas.
Para mim você é um bosta. E ponto final. E um dia eu precisava escrever isso.

segunda-feira, junho 19, 2006

Sobrenome Projeto 2

"A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro"...
(John Lennon Projeto)

domingo, junho 18, 2006

Sobre ter ou não ter

"Sometimes I can't move my feet it seems As if I'm stuck in the ground somehow like a tree As if I can't even breathe Oh, and my screams come whispering out As if nobody can even see meLike a ghost, sometimes I can't see myself Sometimes, then again, ohIf I were a kingIf I had everything If I had you and I could give you your dreams If I were giant-sized, on top of it all Then tell me what in the world would I sing for If I had it all Sometimes I feel lost As I pull you out like strings of memories Wish I could weave them into youThen I could figure the whole damn puzzle out Then again, oh"
(If I had it all, Dave Matthew's Band- música para a alma, em dias que se tem nada ou muito pouco)

sexta-feira, junho 16, 2006

Cinderhelga!


Cinderhelga é uma princesa que acorda todos os dias atrasada. Motivo pelo qual despenca de sua torre no décimo primeiro andar mastigando alguma possibilidade de café da manhã. Sorri para o porteiro, que retribui num olhar simpático, demonstrando afinidade com a mocinha atribulada. Corre para o ponto de ônibus, desanimada com a sua pequena realidade metafísica de sardinha. Talvez sobre um lugar, mas o consolo surge fácil em sua mente: quem precisa de um carro quando existe um Jardim Helga até o Vale das virtudes?! É o que pisca no ônibus e a moça diz bom dia então, ao cobrador. Esquecendo-se de que é só mais um ser amarrotado. Trabalha.Desistiu de encontrar príncipes e dada a fartura de sapos que rondam sua tragetória, apaixonou-se pela idéia de montar um brejo. Guarda os amores para um samba de Chico Buarque, inpirados com um jazz e uma luz de velas. Não pensa no par perfeito, mas se desilude com a capacidade das pessoas de desentender sua intensidade. No fundo ela gosta mesmo é da fugacidade das paixões. E tem dificuldades em transformá-las no amor.Vive todas as paixões do mundo, ali sentada no ônibus indo para o trabalho.Inconformada com o cotidiano e a realidade. Vive todas as paixões sentada e pensando, em um banco de ônibus.Vive de dieta, exatamanete porque se alimenta de paixões. E sofre de gastrite porque paixões cultivam temperos fortes demais. Corre para esquecer a vida. Corre para passar o tempo.Sofre de um mal constante, coitada dessa princesa! Precisa de endorfina, serotonina e adrenalina em doses não homeopáticas. Senão ela surta. E poucas pessoas entendem isso.Volta para casa com o estômago em frangalhos e sempre se desilude com uma geladeira de final de mês. Atravessa a rua e vai para a realidade. Nesse mundo do dever ser. Direito e reto, não sabe como entender aquilo que não se escreve nas leis. Bom seria que a vida fosse uma norma. Sintética norma.Depois retorna a Helgolândia para um noite de sono tranquilo. Dessas em que se deseja sonhar voando. Abraça o travesseiro, fecha os olhos lentamente. Quando chove, coloca o rádio perto da cama e dorme com Miles Davis. Sonhando com o dia seguinte que não muda.Projetando a vida mudar.Cinderhelga é uma princesa que acorda atrasada. Mas a par disso, tem dentro de si, todos os projetos de sonhos do mundo.

quinta-feira, junho 15, 2006

Comente! (ou seja bem-vindo!)

Já recebi criticas, elogios, sugestões, telefonemas e mensagens na garrafa por conta deste blog. Recados que na maioria das vezes são deixados pessoalmente e que os recebo com um carinho tão grande, que me transborda o peito. Por vezes, não ignoro os olhos silenciosos, que como os teus, devem estar assistindo atentamente a dança das minhas palavras e, silenciosamente também desejo que elas te tragam um pouco dessa alegria e inspiração, que para mim é escrever. Um orgasmo multiplo de sinapse.
Minha relação com as palavras é de um amor estranho, que eu traduzo na minha maneira intensa de experimentar a vida. E por isso escrevo. O que não passa do texto é a sensação mágica da felicidade que me invade, de me transcrever e traduzir tantas vezes.
Já perguntei para alguns desses leitores porque é que eles não comentam meus textos, e muitos deles apontaram que o meu estilo intimista e pessoal dispensa comentários. Discordo.
Na verdade esse meu monólogo com a palavra, pede um pouco dos teus sentidos também. E se você se inspirar pode me deixar um recado, afinal também tenho um lado de escritora carente! E me preocupo, inclusive, com os meus erros de português.
Talvez, dessas minhas palavras, você nunca tenha encontrado um 'bem-vindo", que fica implicito no meu sorriso ao terminar o post. Que é um parto e uma explosão de arte em mim.Mas que também pode ser de você.
Portanto, explicitamente, meu silencioso leitor, seja bem vindo! Meu estilo intimista não escapa o desejo de te ouvir. Mesmo que seja um sonoro "vai tomar no cú, Helga!".
Um recadinho? Unzinho só! Pode ser?! Quem vem lá...?

terça-feira, junho 13, 2006

O fascinio e o absurdo

Acordei para o dia, como todos os dias são. Com a diferença de que hoje as ruas viraram um pedaço do campo, onde camisas 10 desfilam para esbanjar a honra ou o charme de ser brasileiro. Um dia pelo menos. As aulas foram interrompidas mais cedo, por um motivo nobre que é um jogo de copa do mundo. Assim como foi finalizado o expediente. As cornetas e buzinas anunciavam um dia especial. Era uma espécie de dança da chuva, que nos servia para aplacar a ansiedade coletiva deste trovão, que é o nosso grito de gol. Um grito real e forte que extrapola a competencia de um hino, porque simplesmente simboliza e significa, quando dito por si só. Porque o que esse povo tem de povo, é o que rola com aquela bola invejada e desejada, neste espírito que se traduz somente aqui. Neste dia em que vivemos em um país tão distante e diferente. De uma união sólida e nobre que chega a maquiar o absurdo tão bem estampado das nossas manchetes de jornal. Se gritassemos "chega" assim como gritamos "gol", será que um dia isso seria mais do que uma república de bananas? Um sótão com vista para o mar da américa latrina?
Se interrompessemos nossos dias para finalizar uma historia de banalização e corrupção, não teriamos mais motivos para abrir uma cerveja estupidamente gelada? E escandalizar a euforia de um dia acordar um pouco mais digno para finalmente andarmos pelas ruas com a real felicidade de ser brasileiro?
Se um dia a nossa concentração fosse a mesma que se faz, minutos antes do jogo da final começar, só para poder mudar o fascinio e o absurdo de viver aqui, talvez nossa alegria pudesse ser mais sincera, mais honesta.
E eu confesso, com a pieguice tão típica de um Policarpo Quaresma, que eu desejo isso muito mais do que desejo o hexa.