sexta-feira, março 02, 2007

Fevereiro

É assim que o dia amanhece: com o mesmo beijo de bom dia que estala no pescoço, antes mesmo dos olhos se abrirem. E a cama fica desarrumada sempre do mesmo jeito. Porque aquilo que também se chama nós, agora tem o mesmo jeito.
Jeito que transforma a rotina. Quando nosso cotidiano é, como são as pequenas pedras de um caleidoscópio. Com um simples girar, as mesmas cores ganham outras formas. E tudo fica nosso. Do mesmo jeito.
Às vezes eu quero fugir. Pois o amor já não comporta a instabilidade que tanto me instiga. Ainda busco a paixão nos detalhes. Mas agora os detalhes são apenas cores repetidas em formas diferentes. Assim como é fevereiro, quando as tempestades de verão já não trazem tantas novidades.
Tenho medo da rotina que aprisiona e incomoda. A felicidade para mim é a instabilidade de uma aventura. Aventura que eu aprendi a chamar de amor.
Mas aos poucos, presa aos telefonemas dos mesmos horários, presa ao silêncio das mãos atadas no cinema, presa aos restaurantes preferidos onde dividimos a mesma cerveja, a vida fica tão simples, que o meu prazer não é mais mergulhar. E sim dilapidar. Aos poucos. Sem compreender o que de fato é tão profundo.
Fico cúmplice de uma alegria que desconheço e me fascina. Porque é calma e óbvia. Assim como o céu preto que monta o cenário das chuvas. Que aplacam o calor. Ao final do dia.
Enquanto fevereiro se repete, entre os dias de calor e de chuva, deixo o amor se repetir também. Brincando com as mesmas cores. E dando vida às formas diferentes.

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