quarta-feira, janeiro 18, 2006

Sem razões ao amanhecer

Tudo bem, eu confesso: foi uma crise, ou melhor, uma tormenta de pensamentos mal humorados no ínicio da manhã. Mas quem não acordaria assim se não estivesse amarrotado no ônibus? As vezes essa situação me irrita profundamente. Porque tenho o azar de andar com papéis para cima e para baixo e sempre, mas sempre mesmo, alguém me abalroa... Sim, porque não é uma simples trombada ou um empurrão que se ganha as 8:30 da manhã. É um literal, visceral e inoportuno abalroamento. Isso sem contar esses sapatos que a profissão me exige, que costumam ser um pneu careca em dia de chuva. Definitivamente, é um abalroamento matinal traumático.
Olhei tantos carros pela janela, mas não vi o meu. Porque não tinha. Mas as janelas comportam boas inspirações. É bom ver São Paulo amanhecendo apressada.
Olhei o ônibus lotado, olhei os carros vazios... Isso sim é uma incógnita. Porque raios os carros que cabem 5 pessoas, levam somente uma para o trabalho?
E aquela fiiiiiiiiiillllllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaaa que não acaba mais, combinada ao asfalto que timidamente começava a ferver.
Abarrotada e abalroada no ônibus, então, penso... "ainda vou perder muita vida no meio desse trânsito". Talvez seja o preço de tanta individualidade. Ou talvez, estar ali cultuando o meu próprio individualismo, conduzindo meu EU e somente EU, quando até cabia um NÓS, seria assim o santo remédio que me livraria dos abalroamentos individuais.
E não praguejei mais os motoristas que se tornavam maiores do que eram e levavam a si próprios em seus carros que comportavam mais pessoas.
Mas entristeci, ao notificar minha inquieta consciência, que nada vai mudar e todos nós perderemos um pouco de nossas vidas, irritados no trânsito, todos os dias, ao amanhecer.

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