terça-feira, dezembro 06, 2005

Divórcio

Lembro que tudo começou com uma paixão. Como tudo começa. Uma sensação intensa de expectativas que fluem em cores. Lembro-me de todo o futuro que me proporcionava, perdida em seus braços, para sempre. Para sempre é uma palavra incomensurável que ganha sentido em todos os nossos sonhos. Nada é para sempre senão eles. E tudo era fruto inteiramente de algo leve, como um sorriso, bonito e quente, era nada além de uma paixão. Que tentou se transformar em amor e durante um tempo assim permaneceu. Desgostou-se na rotina, envelheceu. Mas como todos os amores que superam barreiras juntas, sobrevivemos. Durante um tempo assim. Até que um dia amor acabou, desgastado em tanta realidade. Não houve mais sonho e mais futuro. Somente realidade. Realidade que amor nenhum suporta. Pesada realidade que se desfez em tantos projetos. Éramos grandes quando nos conhecemos e hoje somos só mais um. Acabou a crença daquilo que nos fazia forte. As bocas se encheram de espuma, porque não havia mais o que dizer. Da vontade cotidiana de colocar fogo em tudo e vir contigo, sobrou a resignação calada de quem não sonha mais. Suportamos-nos porque criamos laços de dependência, embora não exista mais amor. Você não comporta mais meus sonhos. Eu não comporto mais seus anseios. Ficamos juntos pela resignação das bocas de espuma. Pela simples dependência. E vivemos este divórcio que comporta o vazio da rotina, o descompasso dos desejos e a solidão. Eu e você. Faculdade de direito.

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