quinta-feira, julho 16, 2009

Viagem ao centro de mim

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”. (Amyr Klink – Mar sem fim).

Tenho uma mania besta de dobrar as orelhas das páginas favoritas dos livros que leio, antes de devolvê-los à minha estante. Deixar meus livros ali marcados é meu jeito de não abandoná-los sobre o pó. Uma espécie de instinto maternal sobre a literatura que consumo e cativo.
Em alguns momentos, instintivamente e quase como um ato de fé, eu sigo até a estante e busco algumas das minhas orelhas. Confesso até que tenho as minhas favoritas e sinto um prazer indescritível em poder voltar a elas para ler novamente. É como congelar um sentimento em um momento. Uma espécie de fotografia sem imagem.
Logo depois de arrumar as malas, segui até a estante. Abri orelha feita na página 77 do livro “Mar sem fim” do Amyr Klink. Li Amyr quando tinha uns quatorze anos. Ou melhor, devorei o livro. Voltar a essa orelha sem dúvida me traz lembranças frescas do que àquela época eu chamava de “liberdade”. Foi um livro que me marcou muito.
Abri o livro na página da orelha, li e depois fechei a mala, certificando-me de que meu diário de viagem seguia junto.
Embarcávamos eu, meu diário e a nossa arrogância acerca do mundo que imaginávamos. Por isso, iríamos lá, ver com os próprios olhos o mundo, na companhia óbvia de mim.
Como não se pode fazer orelhas sobre as experiências e pessoas que cruzam nossos caminhos, escrevi algumas dessas histórias que se seguem.
Como se através do mundo que passava pela janela do ônibus eu traçasse um caminho para dentro de mim.
Um homem precisa viajar. Eu, mais do que tudo, também precisava.

Um comentário:

um tal de André Scarpa disse...

Melhor que orelha de livro (q eu também faço) é entrar no blog e ter texto novo! Que delícia!