domingo, julho 19, 2009

Sabedoria de mãe

Mães falam. Exaustivamente. Como se a nossa cabeça tivesse uma capacidade infinita de absorver fatos, conselhos, regras e até nome de pessoas que nunca conhecemos. E não apenas falam, como também repetem tudo aquilo que dizem. Exaustivamente. Mães eternamente desafiam a nossa capacidade de gravar informações. A minha mãe não é diferente.
De modo que às vezes, em nossas conversas, meu cérebro permanece em ponto morto, apenas observando o som das palavras, como se elas dançassem até atingir os tímpanos. Não é maldade. É que nesses momentos minha atenção amolece e vai longe, até que uma frase mais brusca venha me resgatar.
Mas longe de casa, percebemos porque as mães falam e repetem tanto as coisas. É uma pena que o mundo não obedeça à lógica maravilhosa das mães. Mas nas razões das sem razões, que devem morar no cordão umbilical dos fatos, as mães sabem o que dizem. E, cedo ou tarde, você vai se lembrar disso.
A minha mãe, por exemplo, sempre me alerta quanto ao fato de consumir determinados tipos de alimentos longe de casa ou em lugares pouco seguros. No entanto, como eu já comi em muitos lugares estranhos nessa vida, quando vi aquela lasanha de palmito com camarão repousar fumegante sobre a mesa, eu, obviamente, não lembrei da minha mãe. Pudera, com o estômago apertado e a boca salivando, eu só conseguia imaginar o trajeto mais rápido para aquela iguaria atingisse o meu prato. E, conseqüentemente, o meu estômago. Comi como uma rainha.
E rainha que é rainha, é coroada, obviamente: no trono. Trono que permaneci praticamente a madrugada toda, suando frio e tendo arrepios os quais é melhor não descrever para não lembrar. Um verdadeiro episódio de terror.
Não é a toa que as mães falam tanto.
Me lembrei disso, depois revisitar aquela frase, sempre repetida, com palavras que se amontoam no meu cérebro quando ela fala: “não se come palmito e camarão em qualquer lugar”.

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