segunda-feira, outubro 02, 2006

Bandini

Eu queria te dizer tantas coisas, dessas que não se diz. Porque quando a gente sabe que precisa ir, é melhor se cobrir de orgulho e partir logo. Esquecer.
E minha vontade de te esquecer é tanta, que eu gostaria que todos os cabeludos ficassem carecas, que todos os baixistas virassem guitarristas, que as cantinas italianas tirassem o molho carbonara do cardápio, que nos meus pés não restassem as cicatrizes do nosso encontro inusitado.
E assim eu também desejo ardentemente que o óleo de massagem da OX pare de ser vendido na farmácia da esquina, que Marte suma do sistema solar, que o gosto da cerveja não me traga o sabor simples do teu beijo.
Eu só queria que o livro do John Fante não estivesse na vitrine da Livraria Cultura...
Porque tudo é tão recente e óbvio, que o meu espontâneo suspiro é de uma tristeza incontida, nos fragmentos do meu dia onde encontro você.
E hoje. Hoje quando peguei o ônibus que passava pela Vila Mariana, tão logo vi a placa da Lins de Vasconcelos, coloquei os óculos escuros, na tentativa de esconder alguma lágrima que denunciasse a minha vontade já vencida de te esquecer.
E por isso eu queria descer no próximo ponto, correr Lins abaixo para bater na sua porta e encontrar nos seus olhos o desamor que eu não conheci. Eu, que me apaixonei no pequeno vazio das conclusões prematuras, queria calar a poesia urbana e livre que me encantou no teu cheiro. No teu beijo elétrico e doce.
Mas eu fui. Fui embora levando saudades do sentimento intenso e bruto que você me despertou, e, que agora eu deixava as rodas do ônibus atropelar.
Eu fui embora levando saudades da tua ternura hippie, do seu All Star verde de cadarços coloridos, da sua solidão embrutecida num solo de baixo na madrugada, do cinismo do seu português mal escrito.
Fui embora levando saudades do seu olhar de menino, que era apenas um vazio de ilusões para um coração de cerâmica feito o meu.

Nenhum comentário: