domingo, fevereiro 15, 2009

Querido Sr. Freud ( a grande questão)

Quatro cervejas. Quatro cervejas e nada mais. Ela tinha mais do que o suficiente para perder a vergonha e enfim, perguntar.
- Você é gay, não é?
- Sim... – Ele respondeu despretensiosamente.
- Então me responde uma coisa?
- Claro.
- Veja bem, é uma pergunta indiscreta...
- Diga – Ele respondeu dando um sorriso, como se já estivesse habituado a perguntas indiscretas.
- Se o seu namorado brochar, o que você faz?
- Hum? – Ele a olhou com uma cara de interrogação.
- Sim, se o seu namorado brochar o que você faz? Você pode não saber, mas essa é uma das situações mais complicadas de uma mulher lidar. Você nunca sabe o que faz. Se for carinhosa, pode ser que o cara ache que você menospreza a potencia dele. Se fingir que nada aconteceu, ele pode se sentir pior. Conversar também costuma aumentar o desconforto. Bom, você e seu namorado são homens, devem saber como lidar com essa situação de uma maneira mais tranquila...
- Ah... – Ele bocejou – Sabe que isso nunca me aconteceu antes?
Então ela se perguntou – quem sabe Freud explicaria – "Porque nessas horas até os gays respondem como homens? ".

Concluiu que os gays não são a tecla "sap" para o desentendimento entre os sexos.

sábado, fevereiro 07, 2009

Dona Isabel e minhas crises com o trabalho

"Talvez se nunca mais tentar. Viver o cara da TV. Que vive a vida sem suar. Que ganha aplausos sem querer"
(Cara estranho - Los Hermanos)

Todos os dias ela entra na minha sala, de maneira tímida, vestindo suas luvas amarelas e segurando um grande saco de lixo.
Dona Isabel é uma senhora negra, de sorriso fácil e não esconde o desgaste do tempo. Vestindo seu par de óculos azuis, ela bate na porta de vidro e discretamente entra depois de eu acenar:
- Com licença doutora?
Eu logo respondo de um modo espalhafatoso, colocando o telefone no gancho:
- Dona Isabel! Que alegria a Senhora por aqui! Entra, senta, toma um café! Me fale dos seus problemas, vamos ver as medidas judiciais cabíveis...
Ela dá uma gargalhada gostosa:
- Eh, Helga, você não tem jeito!
Rio do seu jeito envergonhado e logo pergunto:
- E aí, tudo bom com a senhora? Olha só: estou de parabéns não fiz muito lixo hoje! – (Levanto a minha lata. Dona Isabel já conhece os meus discursos quanto o desperdício de papel do mundo advocatício. Fico contente quando ela me dá bronca pelo fato da lata estar cheia de papel. Dona Isabel é sustentável).
Ela dá uma gargalhada de novo e sacoleja a cabeça. Despeja o pouco do conteúdo que consegui juntar arduamente. Dona Isabel não sabe, mas há dias que tenho vontade de jogar a advocacia inteira no lixo e pedir para ela levar. Dona Isabel não sabe, mas há dias em que tenho vontade de sair correndo do escritório.
- E ai? Como vão as coisas? E o pé? Melhorou? (Dona Isabel tem um problema crônico de inchaço no tornozelo direito que ela sempre me conta a respeito. E eu desconfio que ela gosta muito da atenção que lhe dou).
- Vixe, não melhora fia! Fui no médico e ele disse que é problema na junta e talvez precise operar.
- Junta tudo e não dá em nada... Eu acho que eu também tenho esse problema...
Dona Isabel ri de novo.
- Sabe, Helga, eu queria fazer um curso...Para ter mais chances na vida, porque isso aqui às vezes é ingrato demais.
Sinto um aperto imenso no peito nessa hora. Maior do que o aperto que sinto quando me pergunto se era ser advogada mesmo que eu queria dessa vida.
- Jura? E se a senhora tivesse chance, que curso faria?
- Ah! Eu ainda ando pensando muito sobre isso...
- Quer virar advogada?
Ela me olha espantada e exclama:
- Deus que me livre!
Caio na gargalhada e lhe digo:
- Mas porque?
- Ah! Primeiro porque advogado só gosta de problema e segundo porque eles só querem complicar as coisas.
Dou outra gargalhada. Definitivamente Dona Isabel é muito sábia.
- Ta certa Dona Isabel!
- Acho que eu faria um curso de dança. Para dançar samba rock. Mas esse meu pé nunca vai deixar...
- Que isso Dona Isabel! Vira essa boca para lá! Logo, logo a senhora vai ficar boa! Tenho certeza.
- Se deus quiser...
Dona Isabel vira-se e pede licença novamente. Enquanto ela fecha porta eu sinto uma tranqüilidade indescritível.
Dona Isabel não sabe, mas junto com o lixo leva metade das minhas crises embora.

domingo, fevereiro 01, 2009

Azul

Queria mesmo era correr. Pra qualquer outro lugar. Mas na ausência da liberdade, resolveu ficar. E escrever tudo sobre novas cores.
Pelo que ainda pode ser azul.
Sempre.
Projetos em azul então.