sexta-feira, abril 06, 2007

Perdão

Ele me olha como um pedaço de carne exposto no açougue, com uma certeza infinita de que meu ódio me conserva ali, eternamente, à sua espera. Esperando pelo dia em que ele trará novamente felicidade à minha vida. Contando com o dia em que ele encontrará a mesma menina, bêbada e suja, ajoelhada aos seus pés, jurando-lhe amor eterno.
Ele me olha com a lembrança de um amor impossível, escarrado, declarado e vivo, ali nas veias do silêncio que sobrou. Ele me olha com a ternura de um sentimento abandonado, com o carinho de um coração quebrado. E ele sente dó.
Não. Ele não suporta a minha felicidade. Não reconhece nos meus olhos nenhum tipo de tranqüilidade. Ele só quer arranhar a cicatriz. Para ver se ainda sangra. Para ver quanto do meu desejo ainda orbita sob o seu ego. Para ver quanto do nada que sobrou. Mas há tempos eu já não estou mais ao seu redor.
E por isso ele invade a minha caixa de e-mails com os seus sentimentos mal resolvidos, arranja o número do meu celular por meio de outros amigos e me procura para dizer “Penso em você”. A que horas? Enquanto você trepa com a sua namorada na madrugada de um sábado qualquer? Ou enquanto você tem uma diarréia em meio a uma reunião de trabalho?
Não, eu não o suporto. Pois vejo nele a mesma arrogância com que olho a menina bêbada e suja implorando por um pouco de amor. Eu o odeio, porque odeio os erros que meu coração comete, quando pulo de cabeça num poço de sentimentos rasos. Eu definho no meu ódio, porque ainda sinto ódio do que fui e daquilo que lhe dei de graça. Eu o afasto, porque quero longe a fantasia de palhaço no teatro dos amores mal resolvidos.
Mas eu o perdôo. Perdôo porque é preciso perdoar a mim mesma e parar de chamar de sua a vergonha que carrego em mim. Perdôo porque com ele aprendi uma das lições mais tristes e doloridas, porém eu sobrevivi. Perdôo porque um dia eu não sabia, que amor nenhum sobrevivia, onde não há amor próprio.

4 comentários:

Orquestra de Berimbaus - SP - Brasil disse...

texto muito bom, forte tambem.

Unknown disse...

A Carú me recomendou seu blog.
EXCELENTE.
Especialmente esse último texto. Um tapa na cara...e merecido.

Helga disse...

Escrevi esse texto sem methiolate... deu no que deu! Mas valeu pelos comentários, fico super feliz de lê-los! Valeu mesmo! De coração!

Unknown disse...

Chorona! Pára de reclamar e vamos tomar uma cerveja e relembrar os velhos tempos. Sensibilidade zero, eu sei, mas cerveja é cerveja e vice-versa. Etilicamente, tenho grandes ânsias no que tange nos reencontrarmos.
Aliás…pára de se envolver com canalhas vai!

Bjos

Fernando "no que tange"