terça-feira, junho 20, 2006

Você é um bosta

Eu ainda não havia me cansado quando você me ejetou céu abaixo do seu vôo de um piloto só. Ou será que eu mesma me joguei? Fazer parte das tuas asas foi uma sensação leve de experimentar de novo o amor. Sem medo e sem coragem. Por isso, aguardava ansiosa o teu nome piscar na tela do meu celular para depois sorrir de graça, com toda a meninice que o tempo ainda não me consumiu. Mas você foi embora sem que eu pudesse descobir se era louca pelo seu cheiro, pela sua prolixidade, pela sua pinta do lado esquerdo do queixo ou pelas fantasias de Borges que você recria na sua vida. As vezes eu penso que se meu coração tivesse um detector de mentiras, suas palavras não seriam um tapete vermelho para todas as minhas expectativas. Porque te amei, também, pelo que você não deixou acontecer. Como aquele presente que eu devolvi na loja, porque não tive tempo de te dar. Embora tenha desejado o teu sorriso ao recebê-lo.
Quando sobrou só eu e a saudade, fui para a rua e beijei outras bocas, acordei em outras camas e voltei para casa ouvindo Chico Buarque ("e quantas águas rolaram, tantos homens me amaram, bem mais e melhor que você"...) lamentando o meu lado mesquinho que insistia em sofrer por você. Porque com o tempo, descobri que você era bem menor que todos os meus enormes sentimentos.
Eu deixei você apodrecer aqui dentro. Junto com aquele "eu te amo", que você dizia como quem diz um corriqueiro "bom-dia". Como quem brinca com as palavras para fazer propaganda. E brinca com as palavras para encantar o coração alheio. Mas o alumbramento acabou.
E nessas mesmas palavras, eu encontrei a tua função e o meu consolo, talvez você tenha sido apenas um antídoto para outros relacionamentos furados. Outros amores bandidos e maltrapilhos feito esse que você gravou num cd.
Foram nessas mesmas palavras que eu me libertei e quando não soubrou o sentimento nem a resignação, veio o ponto final, a conclusão. Quando penso em você, quando ainda penso, uso o teu mesmo jogo de palavras para contar uma nova verdade. Dessas mesmas verdades que não são absolutas. Mas o que importa? O que importa desde que você fechou aquela porta, para abrir meus olhos de tanta ilusão. E quando vejo e tento negar, para poupar um aconchego para as lembranças, encontro apenas impossibilidades. Porque as pessoas são, aquilo que elas são. Hoje. E sem negar o passado, sem contar histórias para mim mesma, para desconsiderar sua poética rescunhada de Garcia Lorca, eu precisava dizer.Sem o tom piegas de um amor mal vivido. Sem a nota saudosa de um passado compartilhado. Sem negar o que a realidade nos escarra e o que os olhos lavam com as lágrimas.
Para mim você é um bosta. E ponto final. E um dia eu precisava escrever isso.

6 comentários:

Anônimo disse...

Guiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii...
Olha, acho que você escreveu no momento certo, as palvras tem mais força agora e aquela vestimenta de medo deu lugar ao sinal gráfico que indica fim...
Encontrar o real sentido de suas palavras é fácil para quem te conhece bem. Mas, talvez, para esse bosta, fique complicado, pois ele NUNCA te reconheceu. Pode até ter te conhecido, mas nunca soube olhar com os olhos da alma!!
Mais do que nunca, meu orgulho e prazer absurdo em ser sua amiga - de alma, corpo, lanches e baladas - e ter a plena certeza de sempre encontrar aquela REDÍCULA de sempre, cada vez melhor, com mais histórias e pronta para muitas outras!!!!
Amo você cabeçaaaaaa...estou contigo e ñ abro, sempreeeeeeee!!!
...mas, devo confessar, a crônica do escorpião ainda é a melhor p/ mim...hihihihihihihi

Anônimo disse...

Ô loco! Me empresta as tuas palavras para eu vomitar numa plantação de alface???

Animallll!!!! Fiquei até com inveja da sua precisão com as palavras.

Mas esquenta não. Entre amebas, alfaces e homossexuais, qq dia a gente encontra um homem possível. Ou escreve uma tese sobre eles, ganha muito dinheiro e vive nessa vida bandida prá sempre....

Beijocas.

Rosebud disse...

uôôôu!

Palavras são coisinhas dificeis de se manusear, mas você sempre teve o dom.
Fantastico.

Beijos

Anônimo disse...

Ei Helga,

Aqui é o fernando,japanese, de Sorocaba. Nossa, li seu Blog inteiro. Vc escreve bem meu! E uma dúvida: esses conflitos todos, amorosos e tals, são verdadeiros ou puro exercício de sofrimento literário? Caracas…como se vive bastante coisa desde o colégio, não?
Te admiro mais agora.

fer

Helga disse...

Fernando,
Respondendo a sua pergunta: são desamores revisitados em letras garrafais. O texto não tem destinátario mas tem inspiração sim. É a dor que a gente finge não sentir, mas de tanto fingir acaba sentindo. É o meu jeito de fazer arte...
Valeu pelo comentário! Seja bem vindo!
B'jão
Helga

Anônimo disse...

Toda vez que passo aqui caio nesse texto. E, pela primeira vez, tenho coragem de escrever algo. Na verdade não acho que escrever aqui tudo que já lhe disse incansavelmente ajudaria, ou mudaria algo. Dessa vez vim, pois percebo que seu último texto, de nossa noite de samba e sorrisos, mostra um apaziguamento de toda angústia exposta neste texto...
"Porque era mais fácil que o amor fosse espírito do que realidade. O que é etéreo não machuca, só assusta."
"...de certa forma pactuava a sua vontade de transformar o amor em algo tão distante da realidade, que a paixão, quando acabasse, fosse como se nunca tivesse existido."
"E seria então tudo mágico, se não houvesse o nosso desespero humano..."
"Mas se eu pudesse te dizer, diria que o único amor que dói é aquele que a gente não viveu. Porque aquele que a gente viveu, mas não deu certo, o tempo cura."
Adoro seus textos. Já te disse de diversas formas. Hoje digo aqui.
Beijo grande, minha menininha.