quinta-feira, abril 13, 2006

Mais uma vez

Acho que foi assim: bateu de novo o amor na minha porta. Como sempre, com a mesma irreverência, que vinha logo ali, num sorriso azul. Chegou sorrateiro, com um novo contrato de adesão, com cláusula de “não sofrimento”.
Não tive reação mais sincera que não bater a porta. Deixando o amor, ali do outro lado entregue ao vazio da minha raivosa indiferença. E não adiantaria insistir. Dessa vez, ainda que meu coração surdo, ouvisse com tanto zelo suas propostas, não aceitaria as mesmas ilusões em roupas novas. Tranquei a porta.
Voltou logo no outro dia. Tocou a campainha e saiu correndo. Como não vi que se tratava do amor, quando abri a porta para ver quem era, ele entrou sem eu perceber. Instalou-se logo no sofá da sala. Confortável, como um moleque só.
Irritada como só eu estava, enxotei o amor de vez e disse que não mais voltasse. Sob pena de me encontrar em estado de fúria profundo.
Mas o amor pulou o muro. E foi parar direto no meu jardim. Quando me dei conta, no meu jardim seco e esquecido, havia sim uma outra semente, e não pude resistir. Num suspiro de quem entrega os pontos, aliviei e sucumbi. Reguei com carinho, aquilo que só molhei com raiva.

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