sexta-feira, maio 23, 2008

Socorro: contrataram a minha bunda!

Hoje é sexta feira. Uma linda sexta feira de sol e céu azul, precedida de um lindo feriado, de sol e céu azul. Nada é mais propício do que, em um dia como hoje, você acordar cedo, feliz, disposta, saltitante, feliz e cheia de vontade para... TRA-BA-LHAR! Sim, trabalhar, como não? Quem teria algo melhor para fazer numa sexta-feira-pós-feriado do que vir trabalhar? É certo que os meus chefes devem ter a resposta, pois nenhum deles veio...
Ai eu estou aqui, indignada diante de tanto egoísmo da parte deles, afinal, eu também gostaria sinceramente de saber o que é melhor para se fazer numa sexta-feira-pós-feriado do que vir trabalhar.
Eu pensei em ir para a praia com meus amigos da faculdade, eu pensei em voltar mais cedo para o interior e ler um livro na rede, eu pensei em lavar roupa e arrumar a casa que há tempos não sabe o que é organização, eu pensei em tomar um sorvete, em ouvir música, em ficar em algum lugar em silêncio, no mais profundo silencio até enjoar.
Mais aí acordei, com o despertador berrando e a minha conclusão óbvia para um dia de sol como esse foi: Querida!!!! Hoje não está um dia perfeito para trabalhar? Óbvio que estava... Peguei meu carro, não peguei trânsito algum e cheguei aqui feliz para dividir o escritório com meia dúzia de moscas. Enfim, encontrei o silêncio que tanto precisava. (Eu fico pensando se existe Deus nesses momentos...)
No meu e-mail, alguma meia dúzia de tarefas e o escritório vazio. Conclui com uma certeza nefasta de que o espírito de equipe corporativo entre eu e as moscas era algo bonito de se presenciar. Você também se solidarizaria, se não tivesse nada mais útil, prazeroso e importante do que vir trabalhar, numa SEXTA-FEIRA-PÓS-FERIADO com o sol e um céu azul, sorrindo ironicamente para você lá fora!

Pois bem, então, antes de pingar o colírio alucinógeno do “foda-se”, vamos à sessão descarrego!

Este é, pelo menos, o quarto lugar em que sinto que contrataram a minha bunda. Explico. Eu me esforcei para fortalecer o meu cérebro, concluindo em uma boa faculdade um curso universitário. No entanto, não obstante tanta leitura e conhecimento acadêmico, sinto que sou aproveitada por um órgão localizado mais abaixo e nada fortalecido no meu caso: o glúteo! Vejo que meus chefes se satisfazem bastante com o fato de eu vir em dias que ninguém vem para sentar a minha bunda nessa cadeira e ficar aqui sorrindo. Como nesses dias meus chefes só usam o telefone para se certificar de que realmente estou aqui, no entanto não demandam absolutamente nada, e, meus clientes obviamente aproveitam o feriado, eu não tenho nada para fazer. No entanto, tenho que vir trabalhar para mostrar a dedicação e comprometimento esperados. Nesses dias, eu confesso: aqueles discursos gloriosos do “espírito em equipe”, do “profissionalismo dinâmico e integrado” e do “vestir a camisa” me embrulham o estômago. E eu respondo com cinismo a máxima por mim identificada: alguém tem que se foder. Então vamos lá, camisa no estômago, bunda na cadeira, sorriso amarelo e umas gotinhas de colírio alucinógeno.
Afinal eu e os mosquitos formamos uma bela equipe!
E num dia como hoje, há um perfeito sentido na sincronia de umas palavras que um barbudinho tonto falava sobre o tal capitalismo: é a porra da mais valia! A porra a mais valia...

segunda-feira, maio 05, 2008

antes de dormir

O relógio revira volta, com as voltas que dou em mim, no meu próprio silêncio: caçando inspiração antes de dormir. Quero evitar meu próprio tempo, insistir na janela até que as luzes de São Paulo se apaguem e me tragam um novo céu azul. Para eu poder inventar uma nova história e esquecer o atraso do ônibus do dia seguinte.
Quero viver a minha própria bagunça, na calada da noite, ainda que isso signifique acordar despenteada e mau humorada de manhã. Ainda que meu céu azul já não me faça mais nenhum efeito.
O relógio revira e volta, quando já não quero voltar para mim. Quando já não quero mais saber dos minutos que me aprisionam. Quando já não posso mais viver só de paixões.
Nessa vida possível, eu queria mesmo é deitar lá naquela cama e cobrir-me toda cotidiana, como se nada fosse o além daquilo que se faz e constrói todo dia. Eu não quero mais todo dia e sequer quero o dia seguinte.
Eu quero que os minutos do relógio parem. Preciso de mais tempo para sonhar.