Ele era assim: encantador. Encantador pelo que tinha de exótico, encantador pelo que tinha de irônico, encantador pelo que tinha de antítese. Ele era uma poesia urbana recitada em meus ouvidos. Um hippie livre e cheio de asas, do tamanho exato que a minha liberdade sempre sonhou. Eu casaria com aquele homem atrás daquele baixo. E o amaria incondicionalmente até por sua esquisitice.
E com um suspiro estupefato e sincero de quem encontra alguém sorrindo para a sua solidão mundana, eu cedi aos seus encantos e ao seu convite para um encontro.
Me convidou para ir a uma praça, ver o sol se pôr em meio a fumaça de São Paulo. Nada poderia ser mais romântico e perfeito para aqueles primeiros dias de verão.
No meio do caminho, comemos amoras no pé. E o calor, a brisa fresca e as conversas que se entrelaçam eram um indicativo forte de que ali acontecia um encontro de almas e não demoraria muito para que as bocas se encontrassem também. Se não fosse a boca de um cachorro que encontrasse meu calcanhar primeiro (sim, eu fui mordida por um cachorro no primeiro encontro com o meu príncipe encantado).
Em meio ao sangue que escorria pelo meu pé, os nossos olhares ficaram desprotegidos e ele colocou sobre todas as feridas do meu coração maltrapilho, uma camiseta surrada. Ele me protegia, me queria e me transformava. E eu era um sorriso de ternura, uma menina feliz que aparecia estatelada na sua retina. Eu amava.
A mordida de cachorro só poderia ser um presente do destino, me indicando que tudo aquilo era mágico e sincero. Como não poderia ser? Levaria cicatrizes daquele encontro no meu pé, pelo resto da minha vida! E se doía, tal qual não poderia deixar de ser, não era menos que amor de verdade.
Nos dividimos em cerveja, em corpos que tremeram em uma noite suja, de um orgasmo que eu nunca mais esqueci. O nosso amor barato, de boteco e consumado, era tão lindo que de tanta poesia eu deitei no seu peito aliviada e adormeci.
Acordei com o seu solo bruto de baixo, no meio da noite, entoando notas para o meu coração abobado. E eu estava tão feliz, mas tão feliz, que o mundo poderia acabar ali.
E acabou. Quando ele nunca mais me ligou. Atropelando esse sentimento raro que eu nunca mais senti...
Não.
Ele era assim: esquisito. Esquisito pelo que tinha de exótico. Esquisito pelo que tinha de irônico, esquisito pelo que tinha de antítese. Um cara de poesia barata escarrada nos meus ouvidos. Um hiponga metido a músico que me entortava os nervos. Eu socaria aquele cara atrás daquele baixo que só queria aparecer mais do que a banda.
Por excesso de álcool no coração e carência em limites acima do normal, eu aceitei seu convite para passar uma tarde vendo o sol se pôr numa cidade que nunca tem sol feito São Paulo.(equivalente a um programa de índio!)
Aceitei, e no meio do caminho, depois de estar com a mão melada de amora, um filho da puta de um cachorro mordeu meu pé. Eu deveria ter mordido o seu pé em seguida, só para demonstrar o quanto foi estapafúrdia a idéia de sair com um cara esquisito feito você.
Não, não me lembro dos seus olhos, mas apenas em pensar como iria sair dali, direto para o hospital tomar uma anti-rábica.(eu tenho pânico de injeção)
E quando ele me deu aquele colar brega que eu nunca usei, tentado consertar a situação, só me lembro de uma vontade insana de mandar enfiá-lo no cu. Afinal, o meu pé tava jorrando sangue e doendo horrores e não era o seu lado bom (que apareceu uma única vez) que iria mudar aquilo. A sua camiseta suada iria infectar essa ferida e para o meu azar eu me lembraria de você pelo o resto da minha vida através de uma cicatriz, ou quem sabe de uma infecção.
Nós dividimos a cerveja e a conta (porque você era um pé rapado) e com mais álcool do que lucidez eu acabei dando para você. Eu nunca mais esqueci o cheiro de incenso barato que você ascendeu no quarto, talvez para disfarçar a sua falta de banho.
Eu dei para você e como não poderia ser menos óbvio e covarde você sumiu. Fiquei meses tentando conservar a mocinha boazinha e desentendida que eu adoraria ser, mas ela se transformou num furacão de ira dentro de mim. Sim, aquela noite eu deveria ter ido embora sem dividir a conta. Eu deveria ter sacado que a tua sedução era proporcional ao teu desamor. Eu deveria ter me protegido no clichê de que todos os homens são iguais.
Mas eu acabei esquecendo o amor que eu jamais esqueceria. Acabei esquecendo o desamor que um dia eu me vingaria. Acabei esquecendo de você...
E sem você, eu me divido entre a vontade de assassinar o romantismo imbecil que faz da minha vida mais poesia do que realidade e a minha vontade de permanecer acreditando que não se vive a realidade se não existir ao menos um pouco de romantismo.
O fato é, que tirando o amor que eu inventei, eu também só queria te comer.
domingo, dezembro 17, 2006
domingo, dezembro 03, 2006
Dezembro
O sentimento não poderia ser mais simples e cheio. E nessa tranqüilidade eu transbordo poesia enquanto você passeia pelos meus medos.Com o seu jeito desengonçado de menino.
O meu suspiro fresco, é porque desisti de procurar amor nos meus sonhos. E agora só desejo que o tempo pare, nessas manhãs preguiçosas de domingo, onde nossos pés se enroscam embaixo do lençol.
Eu agradeço ao meu sorriso bobo, refletido no seu olhar verde mel. Eu agradeço aos seus cachos que enrolam nos meus dedos. E eu agradeço a toda paz que encontro no seu ombro. Meu mais novo travesseiro.
Eu agradeço aos beijos curtos, que me causam saudades. Eu agradeço aos beijos longos que me trazem lembranças. Eu agradeço ao corpo que treme.Quando eu ainda tremo de medo de ter um dia seguinte.
Mas venho aprendendo a sorrir, quando acordo e te encontro velando o meu sono. Venho aprendendo a sorrir, quando te vejo fazer leve, aquilo que eu já vi ser tão pesado.
Choro. Choro de felicidade pelo tempo, que constrói e destrói o que a vida faz inevitável. E inevitável agora é não lavar a alma nessa tempestade que me inunda por dentro. Desentupindo as calhas velhas do meu coração.
São esses dias de verão tão sinceros, de céu azul e tempestades brutas que despencam para esfriar o calor.
São esses dias de dezembro em que te amo.
O meu suspiro fresco, é porque desisti de procurar amor nos meus sonhos. E agora só desejo que o tempo pare, nessas manhãs preguiçosas de domingo, onde nossos pés se enroscam embaixo do lençol.
Eu agradeço ao meu sorriso bobo, refletido no seu olhar verde mel. Eu agradeço aos seus cachos que enrolam nos meus dedos. E eu agradeço a toda paz que encontro no seu ombro. Meu mais novo travesseiro.
Eu agradeço aos beijos curtos, que me causam saudades. Eu agradeço aos beijos longos que me trazem lembranças. Eu agradeço ao corpo que treme.Quando eu ainda tremo de medo de ter um dia seguinte.
Mas venho aprendendo a sorrir, quando acordo e te encontro velando o meu sono. Venho aprendendo a sorrir, quando te vejo fazer leve, aquilo que eu já vi ser tão pesado.
Choro. Choro de felicidade pelo tempo, que constrói e destrói o que a vida faz inevitável. E inevitável agora é não lavar a alma nessa tempestade que me inunda por dentro. Desentupindo as calhas velhas do meu coração.
São esses dias de verão tão sinceros, de céu azul e tempestades brutas que despencam para esfriar o calor.
São esses dias de dezembro em que te amo.
domingo, novembro 05, 2006
A minha vida é um risoto.
Quando a chave de casa terminou sua pequena volta na boca da fechadura, eu senti a boca do meu estômago reclamar num irritado suspiro de fome. Pensei imediatamente em virar as costas e encontrar um restaurante que resolvesse o meu problema. Contudo, nesse exato momento eu contava apenas com R$ 2,00 na carteira e isso não era dinheiro o suficiente para um almoço decente. Pensei então em matar a minha fome com requintes de crueldade na barraca de cachorro quente da esquina, mas lembrei que o custo benefício daquela empreitada talvez não fosse tão bom quanto parecia. Dessa vez eu teria que encarar a geladeira com coragem e fazer um almoço digno de quem ta com pouca grana e muita fome. Era a boa e velha omelete que já fritava nos miolos do meu cérebro. Mas onde estavam os ovos mesmo? Minha geladeira era um cenário de guerra depois da primeira batalha...
Os primeiros passos por aquele campo minado de prateleiras vazias não foram muito encorajadores. Encontramos no meio do caminho alguns destroços de uma cebola estragada, uma cerveja gelada, uma coleção de fungos sobre o tomate e uma maçã velha no fundo da gaveta. Certamente fazer um almoço naquela situação não seria lá uma tarefa fácil, então apelamos para a velha e boa dispensa. Lá você sempre encontra um molho de tomate perto de vencer e um macarrãozinho esperto que costumam se transformar em um belo almoço-quebra-galho. Especialidade no meu menu.
Contudo, nada de macarrão e nada de molho de tomate. Havia um pacote de chá de hortelã, barrinhas de cereal, um pacote de arroz e outro de feijão. E tudo isso não parecia nada motivador.
Ok. Sem desesperos, se ainda nos restava o velho e bom freezer. E sim! Era naquela imensidão gelada que eu certamente iria encontrar algum projeto de almoço congelado pronto para ser servido. Embora a minha vontade nessa hora fosse me alimentar de luz, de ar ou de música. Ou sei lá do quê. Eu tinha fome de quê mesmo?
Finalmente, por trás daquela névoa gelada, encontrei um verdadeiro tesouro: um potinho de molho de queijo com frango e ervilhas, que um dia eu inventei numas dessas bruxarias que eu apronto na minha cozinha. Fechado! Com um arroz, aquilo se passaria facilmente por um estrogonofe albino e autêntico. Era o final feliz dessa história se, obviamente, neste exato momento os problemas de fato não tomassem uma real proporção.
Nasci com uma série de defeitos, mas entre os mais graves, eu confesso: não sei fazer arroz!
Já fiz de tudo: mais água, menos água, só frito com cebola, frito com cebola e alho, ponho sal no começo, no meio e no fim do negócio e ele não sai. Isso quando não queima! O que é uma ironia gastronômica da minha vida, afinal dizem que arroz é algo para se colocar na panela e ta pronto. Não dá para mexer muito... Deve ser por isso que erro tanto.
Ah! Eu me rendi então. Era o final da minha tentativa de salvar um estomago com menos de três reais, e, o começo do meu humor. Já havia quase perdido a fome. Ali tudo se resumia a fé, coragem e bolacha de água e sal.
Mas sem me entregar de vez àquela situação que beirava o auge do ridículo, deixei de exaltar tanto o meu estrogonofe albino para transformá-lo em um prato bem mais simples. Em uma panela com um pouco de óleo e tempero, fritei o arroz e juntei a minha inusitada invenção de queijo com frango e ervilhas. Uns quinze minutos de fogo baixo, e, no auge do meu desespero, brotava diante dos meus olhos um “magnífico” risoto! Que apesar de meia boca, era ao menos sincero.
Comi com satisfação o meu tão batalhado almoço e no deleite do meu estômago saciado me veio um pensamento. De repente eu conclui que, da mesma forma, na minha vida faltam tantas coisas quanto falta na minha geladeira. E, diante de tudo aquilo que falta, fazer um estrogonofe albino pode soar grande e valente, contudo pode ser a garantia de fome.
A minha vida é um risoto.
Os primeiros passos por aquele campo minado de prateleiras vazias não foram muito encorajadores. Encontramos no meio do caminho alguns destroços de uma cebola estragada, uma cerveja gelada, uma coleção de fungos sobre o tomate e uma maçã velha no fundo da gaveta. Certamente fazer um almoço naquela situação não seria lá uma tarefa fácil, então apelamos para a velha e boa dispensa. Lá você sempre encontra um molho de tomate perto de vencer e um macarrãozinho esperto que costumam se transformar em um belo almoço-quebra-galho. Especialidade no meu menu.
Contudo, nada de macarrão e nada de molho de tomate. Havia um pacote de chá de hortelã, barrinhas de cereal, um pacote de arroz e outro de feijão. E tudo isso não parecia nada motivador.
Ok. Sem desesperos, se ainda nos restava o velho e bom freezer. E sim! Era naquela imensidão gelada que eu certamente iria encontrar algum projeto de almoço congelado pronto para ser servido. Embora a minha vontade nessa hora fosse me alimentar de luz, de ar ou de música. Ou sei lá do quê. Eu tinha fome de quê mesmo?
Finalmente, por trás daquela névoa gelada, encontrei um verdadeiro tesouro: um potinho de molho de queijo com frango e ervilhas, que um dia eu inventei numas dessas bruxarias que eu apronto na minha cozinha. Fechado! Com um arroz, aquilo se passaria facilmente por um estrogonofe albino e autêntico. Era o final feliz dessa história se, obviamente, neste exato momento os problemas de fato não tomassem uma real proporção.
Nasci com uma série de defeitos, mas entre os mais graves, eu confesso: não sei fazer arroz!
Já fiz de tudo: mais água, menos água, só frito com cebola, frito com cebola e alho, ponho sal no começo, no meio e no fim do negócio e ele não sai. Isso quando não queima! O que é uma ironia gastronômica da minha vida, afinal dizem que arroz é algo para se colocar na panela e ta pronto. Não dá para mexer muito... Deve ser por isso que erro tanto.
Ah! Eu me rendi então. Era o final da minha tentativa de salvar um estomago com menos de três reais, e, o começo do meu humor. Já havia quase perdido a fome. Ali tudo se resumia a fé, coragem e bolacha de água e sal.
Mas sem me entregar de vez àquela situação que beirava o auge do ridículo, deixei de exaltar tanto o meu estrogonofe albino para transformá-lo em um prato bem mais simples. Em uma panela com um pouco de óleo e tempero, fritei o arroz e juntei a minha inusitada invenção de queijo com frango e ervilhas. Uns quinze minutos de fogo baixo, e, no auge do meu desespero, brotava diante dos meus olhos um “magnífico” risoto! Que apesar de meia boca, era ao menos sincero.
Comi com satisfação o meu tão batalhado almoço e no deleite do meu estômago saciado me veio um pensamento. De repente eu conclui que, da mesma forma, na minha vida faltam tantas coisas quanto falta na minha geladeira. E, diante de tudo aquilo que falta, fazer um estrogonofe albino pode soar grande e valente, contudo pode ser a garantia de fome.
A minha vida é um risoto.
quinta-feira, outubro 19, 2006
A fórceps
Ás exatas 5:44 da manhã, do dia 19 de outubro de 2006, após 6 meses de gestação,520 horas na frente de um computador, aproximadamente 18 litros de café bebidos, 9 barras de chocolate devoradas (da Hersheys porque estava na promoção), dois kilos e meio engordados, 130 kilômetros corridos, aproximadamente um rio de suor escorrido, aproximadamente um oceano de lágrimas choradas, um assassinato imaginário de um orientador desorientado, 30 baladas a menos na minha vida, uma briga com a minha mãe, uma briga na minha república, 23 livros lidos, 40 página escritas, 39 horas de sono a menos, 57 horas perdidas na biblioteca da PUC, 1 porre para afogar as mágoas, 82 acórdãos catalogados... E eu pari uma monografia. A fórceps.
sexta-feira, outubro 13, 2006
Seis coisas que você deveria saber sobre uma Helga
Recebi de um grande amigo da faculdade um desafio bloguerístico, onde eu deveria listar seis coisas que as pessoas não sabem sobre mim, sob pena de um coelho me atacar (É isso mesmo Tucun?!) Pois bem, topei a empreitada e depois de alguns neurônios fritos segue o meu manual das "Seis coisas que você deveria saber sobre uma Helga". Andiamo via!
1) A primeira coisa mais curiosa sobre a minha pessoa é que meu parto foi tão alemão, mas tão alemão, que eu praticamente nasci bebendo cerveja. E essa historia foi mais ou menos assim. Era para eu ter nascido no dia 03/11, mas como a preguiça é algo que domina o meu ser desde muito cedo, acabei colocando os olhos para fora do útero da minha mãe somente no dia 30/11. Um dia antes disso acontecer, minha mãe foi fazer compras no supermercado e ficou com um desejo insano de beber cerveja. Compras feitas, coisas guardadas, cerveja gelada e bebida, ela se deitou e foi dormir. No final da madrugada ela acorda meu pai com aquela deliciosa frase "Benhê, rompeu a bolsa". Meu pai, vira de lado e diz "Você não está acostumada a beber cerveja e deve ter feito xixi na calça". E foi assim que eu nasci.
2) O meu personagem preferido quando criança era a bruxa Malévola da Branca de Neve. Adorava! Contudo, por uma psicologia infantil imbecil que vigorava naquela época, não era aconselhável crianças gostarem dos personagens maus dos contos de fadas. A gente podia gostar de uma loira irritante de voz estridente, mas não podia gostar de bruxa! (vai entender) Foi assim que me colocaram na terapia durante cinco anos, para eu sair de lá uma Cinderhelga. Acho que foi a maior idiotice que poderiam fazer com uma criança...
3) A maior maldade que eu já fiz na minha vida, foi fazer meu irmão mais novo vomitar. Foi de uma crueldade indescritível. Ele não gostava de comer nada e minha mãe fazia um ervilha com ovo que tinha um cheiro horrível. Coloquei a iguaria no nariz do pequeno e ele vomitou uns três dias...
4) Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria para fazer uma coisa só: dizer ao meu avô que eu o amava demais. Quando ele se foi, eu era muito nova para entender que a vida não era para sempre...
5) Sou aficcionada por cheiros. Os meus gostos mais esquisitos? Cheiro de gasolina, de bronzeador e de biblioteca.
6) Acho que poucas pessoas sabem, mas eu tenho um mundo de sardinha nas costas. Um dia eu fiquei pirando sobre a possibilidade delas se tornarem um jogo de ligue-os-pontos e revelarem algum segredo cabalistico sobre mim. Como elas ficam nas costas, ainda não consegui realizar esse desafio...
Bom, é isso aí! Cumprida a lista e ufa! estou livre de um coelho assassino...
1) A primeira coisa mais curiosa sobre a minha pessoa é que meu parto foi tão alemão, mas tão alemão, que eu praticamente nasci bebendo cerveja. E essa historia foi mais ou menos assim. Era para eu ter nascido no dia 03/11, mas como a preguiça é algo que domina o meu ser desde muito cedo, acabei colocando os olhos para fora do útero da minha mãe somente no dia 30/11. Um dia antes disso acontecer, minha mãe foi fazer compras no supermercado e ficou com um desejo insano de beber cerveja. Compras feitas, coisas guardadas, cerveja gelada e bebida, ela se deitou e foi dormir. No final da madrugada ela acorda meu pai com aquela deliciosa frase "Benhê, rompeu a bolsa". Meu pai, vira de lado e diz "Você não está acostumada a beber cerveja e deve ter feito xixi na calça". E foi assim que eu nasci.
2) O meu personagem preferido quando criança era a bruxa Malévola da Branca de Neve. Adorava! Contudo, por uma psicologia infantil imbecil que vigorava naquela época, não era aconselhável crianças gostarem dos personagens maus dos contos de fadas. A gente podia gostar de uma loira irritante de voz estridente, mas não podia gostar de bruxa! (vai entender) Foi assim que me colocaram na terapia durante cinco anos, para eu sair de lá uma Cinderhelga. Acho que foi a maior idiotice que poderiam fazer com uma criança...
3) A maior maldade que eu já fiz na minha vida, foi fazer meu irmão mais novo vomitar. Foi de uma crueldade indescritível. Ele não gostava de comer nada e minha mãe fazia um ervilha com ovo que tinha um cheiro horrível. Coloquei a iguaria no nariz do pequeno e ele vomitou uns três dias...
4) Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria para fazer uma coisa só: dizer ao meu avô que eu o amava demais. Quando ele se foi, eu era muito nova para entender que a vida não era para sempre...
5) Sou aficcionada por cheiros. Os meus gostos mais esquisitos? Cheiro de gasolina, de bronzeador e de biblioteca.
6) Acho que poucas pessoas sabem, mas eu tenho um mundo de sardinha nas costas. Um dia eu fiquei pirando sobre a possibilidade delas se tornarem um jogo de ligue-os-pontos e revelarem algum segredo cabalistico sobre mim. Como elas ficam nas costas, ainda não consegui realizar esse desafio...
Bom, é isso aí! Cumprida a lista e ufa! estou livre de um coelho assassino...
segunda-feira, outubro 02, 2006
Bandini
Eu queria te dizer tantas coisas, dessas que não se diz. Porque quando a gente sabe que precisa ir, é melhor se cobrir de orgulho e partir logo. Esquecer.
E minha vontade de te esquecer é tanta, que eu gostaria que todos os cabeludos ficassem carecas, que todos os baixistas virassem guitarristas, que as cantinas italianas tirassem o molho carbonara do cardápio, que nos meus pés não restassem as cicatrizes do nosso encontro inusitado.
E assim eu também desejo ardentemente que o óleo de massagem da OX pare de ser vendido na farmácia da esquina, que Marte suma do sistema solar, que o gosto da cerveja não me traga o sabor simples do teu beijo.
Eu só queria que o livro do John Fante não estivesse na vitrine da Livraria Cultura...
Porque tudo é tão recente e óbvio, que o meu espontâneo suspiro é de uma tristeza incontida, nos fragmentos do meu dia onde encontro você.
E hoje. Hoje quando peguei o ônibus que passava pela Vila Mariana, tão logo vi a placa da Lins de Vasconcelos, coloquei os óculos escuros, na tentativa de esconder alguma lágrima que denunciasse a minha vontade já vencida de te esquecer.
E por isso eu queria descer no próximo ponto, correr Lins abaixo para bater na sua porta e encontrar nos seus olhos o desamor que eu não conheci. Eu, que me apaixonei no pequeno vazio das conclusões prematuras, queria calar a poesia urbana e livre que me encantou no teu cheiro. No teu beijo elétrico e doce.
Mas eu fui. Fui embora levando saudades do sentimento intenso e bruto que você me despertou, e, que agora eu deixava as rodas do ônibus atropelar.
Eu fui embora levando saudades da tua ternura hippie, do seu All Star verde de cadarços coloridos, da sua solidão embrutecida num solo de baixo na madrugada, do cinismo do seu português mal escrito.
Fui embora levando saudades do seu olhar de menino, que era apenas um vazio de ilusões para um coração de cerâmica feito o meu.
E minha vontade de te esquecer é tanta, que eu gostaria que todos os cabeludos ficassem carecas, que todos os baixistas virassem guitarristas, que as cantinas italianas tirassem o molho carbonara do cardápio, que nos meus pés não restassem as cicatrizes do nosso encontro inusitado.
E assim eu também desejo ardentemente que o óleo de massagem da OX pare de ser vendido na farmácia da esquina, que Marte suma do sistema solar, que o gosto da cerveja não me traga o sabor simples do teu beijo.
Eu só queria que o livro do John Fante não estivesse na vitrine da Livraria Cultura...
Porque tudo é tão recente e óbvio, que o meu espontâneo suspiro é de uma tristeza incontida, nos fragmentos do meu dia onde encontro você.
E hoje. Hoje quando peguei o ônibus que passava pela Vila Mariana, tão logo vi a placa da Lins de Vasconcelos, coloquei os óculos escuros, na tentativa de esconder alguma lágrima que denunciasse a minha vontade já vencida de te esquecer.
E por isso eu queria descer no próximo ponto, correr Lins abaixo para bater na sua porta e encontrar nos seus olhos o desamor que eu não conheci. Eu, que me apaixonei no pequeno vazio das conclusões prematuras, queria calar a poesia urbana e livre que me encantou no teu cheiro. No teu beijo elétrico e doce.
Mas eu fui. Fui embora levando saudades do sentimento intenso e bruto que você me despertou, e, que agora eu deixava as rodas do ônibus atropelar.
Eu fui embora levando saudades da tua ternura hippie, do seu All Star verde de cadarços coloridos, da sua solidão embrutecida num solo de baixo na madrugada, do cinismo do seu português mal escrito.
Fui embora levando saudades do seu olhar de menino, que era apenas um vazio de ilusões para um coração de cerâmica feito o meu.
Rabiscos
Ando caminhando dentro de mim, brincando com as palavras erradas, para procurar o texto certo que anda preso dentro da minha alma e não quer sair. Parece que imediatamente consigo experimentar o nada que sou agora e vivê-lo com quase a mesma certeza que aprendi a viver meus sonhos. Mas é preciso crescer.
Eu que não quero abandonar a minha intensidade menina de rabiscar o mundo, com as minhas cores estapafúrdias que não comportam mais. Eu que não quero me tornar uma burocrata estúpida vestindo roupas sociais amarrotadas pelo ônibus lotado. Eu quero continuar sonhando na janela.
Mas eu sou um nada e diariamente o mundo me cospe um pouco de realidade, para que eu finque meus pés no chão e entorpeça um pouco da minha alma. Mais um PROZAC, por favor?
Eu. Eu que não sou eu, brigando pelo mundo que eu não vou mudar, vendendo as minhas ideologias num mercado negro, sem receber muito por isso.
Mas são todos os rabiscos, que insistem em sair na calada da noite, quando depois de um dia cheio, algo dentro de mim quis falar. Com a intensidade daquilo que eu nunca calo.
São todos rabiscos saídos, para libertar dentro de mim o texto que já está perdido. E que eu não achei as palavras certas para dizer, aquilo que grita e pulsa desordenado dentro de mim: me ensina a viver com os pés no chão.
Eu que não quero abandonar a minha intensidade menina de rabiscar o mundo, com as minhas cores estapafúrdias que não comportam mais. Eu que não quero me tornar uma burocrata estúpida vestindo roupas sociais amarrotadas pelo ônibus lotado. Eu quero continuar sonhando na janela.
Mas eu sou um nada e diariamente o mundo me cospe um pouco de realidade, para que eu finque meus pés no chão e entorpeça um pouco da minha alma. Mais um PROZAC, por favor?
Eu. Eu que não sou eu, brigando pelo mundo que eu não vou mudar, vendendo as minhas ideologias num mercado negro, sem receber muito por isso.
Mas são todos os rabiscos, que insistem em sair na calada da noite, quando depois de um dia cheio, algo dentro de mim quis falar. Com a intensidade daquilo que eu nunca calo.
São todos rabiscos saídos, para libertar dentro de mim o texto que já está perdido. E que eu não achei as palavras certas para dizer, aquilo que grita e pulsa desordenado dentro de mim: me ensina a viver com os pés no chão.
domingo, setembro 03, 2006
Helgolândia, 2 de setembro
ATA DE CONCLUSÕES EXTRAORDINÁRIAS
"Chico Buarque não é um homem. É um deus."
( "Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia" - Quem te viu, quem te vê)
"Chico Buarque não é um homem. É um deus."
( "Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia" - Quem te viu, quem te vê)
sexta-feira, setembro 01, 2006
O dia em que eu chorei vendo a chuva
Desliguei o telefone renunciando os meus dias de ansiedade, para respirar tranqüilamente e recuperar a minha calma, o meu espaço. Olhei de volta e meu mundo que continuava ali, com os mesmos trabalhos se multiplicando sobre a mesa, já me pedia para que eu abandonasse meu coração e voltasse a viver. E voltei.
Quando eu deixei você ir, ainda que eu não quisesse, ainda que eu resistisse, ainda que eu sonhasse, abandonei o teu sorriso para recuperar a minha paz. Essa mesma que você me tirou em um piscar de olhos, quando eu achava que tudo em mim já era tão meu, que ninguém jamais tiraria. Mas você tirou o meu sossego, tão logo o reconheci fácil no teu sono e no teu abraço. E o meu desejo, foi só do teu beijo. Tão rápido chegou, tão rápido partiu.
E enquanto você ia, algumas lágrimas chegavam, não sei se de tristeza ou de felicidade. Ainda que meu coração sentisse a perda, eu sorria por senti-lo ainda cheio. Porque ando olhando as pessoas e seus passados com a humildade daquilo que não nos pertence. E o que me pertencia, ali, partindo na janela do trem da paixão, era apenas aquele sentimento intenso que agora eu guardava na mala, para viver outras coisas.
Foi nesse dia em que eu me senti a pessoa mais sozinha do mundo. Nesse dia eu me senti a pessoa mais livre do mundo. Por saber que todas as pessoas que passam nas nossas vidas acabam nos transformando, deixando algumas marcas. E por compreender que ainda que essas marcas fiquem, colorindo a nossa vontade insana de respirar continuamente, as pessoas sempre vão.
Olhei para a dor com um pouco mais de carinho, pois diante dos meus olhos era só mais um desencontro. Desses que acontecem aos montes por aí.
Mas eu ainda sorria pelo fato dele ter sido um encontro e um momento inexplicável de arte.
Foi o dia em que vi o amor sem poesia, para me perguntar se a gente deve compreendê-lo ou esquecê-lo, por ele nos dar e nos tirar tanta vida.
Quando eu deixei você ir, ainda que eu não quisesse, ainda que eu resistisse, ainda que eu sonhasse, abandonei o teu sorriso para recuperar a minha paz. Essa mesma que você me tirou em um piscar de olhos, quando eu achava que tudo em mim já era tão meu, que ninguém jamais tiraria. Mas você tirou o meu sossego, tão logo o reconheci fácil no teu sono e no teu abraço. E o meu desejo, foi só do teu beijo. Tão rápido chegou, tão rápido partiu.
E enquanto você ia, algumas lágrimas chegavam, não sei se de tristeza ou de felicidade. Ainda que meu coração sentisse a perda, eu sorria por senti-lo ainda cheio. Porque ando olhando as pessoas e seus passados com a humildade daquilo que não nos pertence. E o que me pertencia, ali, partindo na janela do trem da paixão, era apenas aquele sentimento intenso que agora eu guardava na mala, para viver outras coisas.
Foi nesse dia em que eu me senti a pessoa mais sozinha do mundo. Nesse dia eu me senti a pessoa mais livre do mundo. Por saber que todas as pessoas que passam nas nossas vidas acabam nos transformando, deixando algumas marcas. E por compreender que ainda que essas marcas fiquem, colorindo a nossa vontade insana de respirar continuamente, as pessoas sempre vão.
Olhei para a dor com um pouco mais de carinho, pois diante dos meus olhos era só mais um desencontro. Desses que acontecem aos montes por aí.
Mas eu ainda sorria pelo fato dele ter sido um encontro e um momento inexplicável de arte.
Foi o dia em que vi o amor sem poesia, para me perguntar se a gente deve compreendê-lo ou esquecê-lo, por ele nos dar e nos tirar tanta vida.
terça-feira, agosto 29, 2006
It Ain't me, babe
(Eu nunca contei pra ninguém, mas o verdadeiro príncipe da Helgolândia é o Bob Dylan)
It Ain´t me, babe
Go 'way from my window,
Leave at your own chosen speed.
I'm not the one you want, babe,
I'm not the one you need.
You say you're lookin' for someone
Never weak but always strong,
To protect you an' defend you
Whether you are right or wrong,
Someone to open each and every door,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
Go lightly from the ledge, babe,
Go lightly on the ground.
I'm not the one you want, babe,
I will only let you down.
You say you're lookin' for someone
Who will promise never to part,
Someone to close his eyes for you,
Someone to close his heart,
Someone who will die for you an' more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
Go melt back into the night, babe,
Everything inside is made of stone.
There's nothing in here moving
An' anyway I'm not alone.
You say you're looking for someone
Who'll pick you up each time you fall,
To gather flowers constantly
An' to come each time you call,
A lover for your life an' nothing more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
It Ain´t me, babe
Go 'way from my window,
Leave at your own chosen speed.
I'm not the one you want, babe,
I'm not the one you need.
You say you're lookin' for someone
Never weak but always strong,
To protect you an' defend you
Whether you are right or wrong,
Someone to open each and every door,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
Go lightly from the ledge, babe,
Go lightly on the ground.
I'm not the one you want, babe,
I will only let you down.
You say you're lookin' for someone
Who will promise never to part,
Someone to close his eyes for you,
Someone to close his heart,
Someone who will die for you an' more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
Go melt back into the night, babe,
Everything inside is made of stone.
There's nothing in here moving
An' anyway I'm not alone.
You say you're looking for someone
Who'll pick you up each time you fall,
To gather flowers constantly
An' to come each time you call,
A lover for your life an' nothing more,
But it ain't me, babe,
No, no, no, it ain't me, babe,
It ain't me you're lookin' for, babe.
segunda-feira, agosto 28, 2006
Otimismo
" Mas o tempo linear é uma invenção do ocidente. O tempo não é linear, é um maravilhoso emaranhado onde, a qualquer instante podem ser escolhidos pontos, e inventadas soluções, sem começo nem fim"
(Lina Bo Bardi)
(Lina Bo Bardi)
quinta-feira, agosto 24, 2006
Crime e castigo
Quando o coração subiu no trem da paixão e confortavelmente se acomodou na janelinha, ele ainda não havia percebido que você já se despedia na plataforma. E mesmo solitário, o coração respirou fundo e feliz quando o trem acelerou com a velocidade que lhe era típica e cega.
A viagem prosseguiu até a estação do êxtase, onde o trem parou no mesmo segundo em que o coração já mal conseguia respirar. E aquela sensação fugaz de felicidade que lhe parecia tão verdadeira, fez com que o coração quisesse descer logo ali, se o itinerário da paixão não prometesse muito mais.
Prosseguiu até a estação da inquietude, onde a felicidade intensa de outrora, já lhe tirava a paz e a concentração. O coração então, decidiu ir até a próxima estação para acreditar. Pois a alegria agora ganhava contornos de cansaço, vertigem. Náusea.
Parou na estação do medo,mas não desceu.Temendo perder a felicidade que ainda lhe parecia real, o coração se agarrou em si mesmo lembrando incansavelmente do seu sorriso. Seguiu até a estação da angústia, onde o tempo da ilusão já andava mais lento.
Desceu finalmente na estação da tristeza. Ponto final do itinerário da paixão. Despediu-se cansado daquela viagem inusitada e quando colocou os pés em terra firme, sentiu-lhe de súbito o sangue escorrer pelas costas. E, com a agonia da respiração interrompida, caiu no chão sem mais agüentar. Levou três tiros os quais nunca soube quem quis lhe dar, pois a viagem não falava do risco que era se apaixonar. E foi assim o amor morreu. No ponto final do trem da paixão.
A viagem prosseguiu até a estação do êxtase, onde o trem parou no mesmo segundo em que o coração já mal conseguia respirar. E aquela sensação fugaz de felicidade que lhe parecia tão verdadeira, fez com que o coração quisesse descer logo ali, se o itinerário da paixão não prometesse muito mais.
Prosseguiu até a estação da inquietude, onde a felicidade intensa de outrora, já lhe tirava a paz e a concentração. O coração então, decidiu ir até a próxima estação para acreditar. Pois a alegria agora ganhava contornos de cansaço, vertigem. Náusea.
Parou na estação do medo,mas não desceu.Temendo perder a felicidade que ainda lhe parecia real, o coração se agarrou em si mesmo lembrando incansavelmente do seu sorriso. Seguiu até a estação da angústia, onde o tempo da ilusão já andava mais lento.
Desceu finalmente na estação da tristeza. Ponto final do itinerário da paixão. Despediu-se cansado daquela viagem inusitada e quando colocou os pés em terra firme, sentiu-lhe de súbito o sangue escorrer pelas costas. E, com a agonia da respiração interrompida, caiu no chão sem mais agüentar. Levou três tiros os quais nunca soube quem quis lhe dar, pois a viagem não falava do risco que era se apaixonar. E foi assim o amor morreu. No ponto final do trem da paixão.
domingo, agosto 20, 2006
Inevitável
" Se eu tivesse mais alma para dar eu daria. Isso para mim é viver"
(Caetano Veloso, inevitável é aprender a dor e a delícia de ser o que é)
(Caetano Veloso, inevitável é aprender a dor e a delícia de ser o que é)
domingo, agosto 13, 2006
"A maldição da boca verde"
A tarde ia caindo enquanto Cinderhelga derretia um olhar triste sobre o horizonte da Helgolândia. Debruçada sobre a janela mais alta da Torre do Tempo, a princesa se deixava levar pelos pensamentos que se desfaziam entre um suspiro tedioso e outro, até que foi surpreendida pela chegada do indiscreto Coração...
Coração: Princesa Cinderhelga, o que esta fazendo tão solitária aqui na Torre do Tempo?
Cinderhelga: Nada... Estou só pensando sobre a vida...
(O Coração então se aproximou e pode notar algo diferente nos lábios da princesa)
Coração: Urgh! O que é isso na sua boca? Ela esta verde!!!!
Cinder: (aborrecida). Pois é, beijei outro príncipe e ele virou sapo...
Coração: Mas como assim, virou sapo? Não era o contrário, você beijava o sapo e ele virava príncipe?
Cinder: Não, Coração, isso acontecia naqueles contos de fadas antigos... Aqui na Helgolândia os príncipes já vêm prontos, lembra-se? Você mesmo é quem sinaliza logo que aparece um...
Coração: Eu ou a sua imaginação?
Cinder: Lá vem... Não estou disposta a discussões sobre o meu comportamento amoroso agora. Já avisei que estou de TPM?
Coração: Você nunca vai aprender né?
Cinder: Não... E quer saber? Acho que isso é uma maldição de alguma bruxa má de Solteirópolis. Eu sei, naquele lugar só tem gente invejosa e elas devem ter me lançado alguma urucubaca para eu ficar solteirona e mal amada para o resto da minha vida.
Coração: É pior do que eu pensava! Ainda por cima você esta com mania de perseguição!
Cinder: Eu?!? Você é engraçado sabia? Primeiro você se desmancha pelos caras mais nada a ver que eu conheço. É sempre assim, um olhar carinhoso, mensagenzinhas no celular, flores, jantares, papos cabeça e pronto. Lá esta você com cara de bobo... Você é o sujeito mais fácil aqui da Helgolândia. Parece até que você gosta de ser enganado.
Coração: Olha, eu acho que você esta me confundindo com o Bobo da Corte...
Cinder: Não estou não! Veja só se não é verdade: toda vez que aparece um projeto de príncipe aqui na Helgolândia você já fica amigo, leva para tomar cerveja, se apega. Eu fico atrás de você dizendo que não é para você fazer isso, que você não deve confiar tanto nas pessoas...
Coração: Mas eu sou um bom Coração!!
Cinder: Um bom coração ou um bobo coração?
Coração: Olha Cinder, eu não devia, mas vou te dizer. Sou bacana com todas as pessoas que chegam na Helgolândia, porque você sabe, é da minha natureza ser amoroso, carinhoso e romântico. Mas eu sou assim com todo mundo. Eu nunca te disse que fulano ou beltrano dariam para um bom príncipe. Você que se antecipa com essa sua mania de ter expectativas sobre tudo...
Cinder: Eu?! Expectativas? Não estou ouvindo isso...
Coração: Esta sim! Você, com essas suas expectativas esquece que todo sapo é meio príncipe e todo príncipe é meio sapo.
Cinder: Sem essa agora! Já superamos a era dos contos de fadas antigos!!! Hoje os príncipes já vêm prontos, com certificados de qualidade, pós-graduação e MBA! Na modernidade não tem a necessidade de se ter aquela parte chata, gosmenta e verde de antes... Adeus a Era Sapo!!! Príncipe que é príncipe já vem pronto!
Coração: Será?!
Cinder: Eu tenho certeza disso... E quem discorda que vá para Solteirópolis ser feliz para sempre lá.
Coração: Eu achava que você era feliz solteira
Cinder: Mas eu sou!
Coração: Então porque é que você se preocupa tanto em achar um príncipe?
Cinder: Porque nos contos de fada é sempre assim... A princesa acha o príncipe e é feliz para sempre!
Coração: Mas isso não são nos contos de fadas antigos? E a Helgolândia não é a modernidade?
Cinder: Grrrrrrr!!! Para mim já chega! Já não me basta essa boca verde e eu ainda tenho que aturar um Coração metido a filósofo! Quer saber? Fodam-se os príncipes, fodam-se os sapos! E me deixa em paz que eu não te chamei aqui!
Coração: Adoro quando você fica bravinha!
Cinder: F-o-r-a!
Coração: Ta bom, ta bom, já vou indo... Mas antes eu tenho que te dizer uma coisa. Ninguém é feliz para sempre porque encontrou um príncipe. Nem é infeliz para sempre porque ficou com um sapo. Porque todo mundo tem um lado sapo e um lado príncipe. O amor impossível, esse que só vem com príncipes e que a gente sempre acaba buscando, é também o amor que esta a todo tempo indo embora. Porque o tempo, cedo ou tarde, nos revela aquilo que todos nós temos de mais verdes. E ai? O amor acaba?
Acho que esta na hora da senhorita aprender que a gente se apaixona e quando não dá certo dói mesmo, independente do príncipe ter sido príncipe ou ter virado sapo. E precisa aprender também que aquela história de “final feliz” foi um lugar comum que um autor pouco criativo inventou, porque não sabia como terminar a história. Porque na verdade, a felicidade não fica lá no final te esperando, entende? A felicidade esta ai, entre os altos e baixos da vida.
Se você se esquece na Torre do Tempo, e fica esperando que a felicidade chegue só no final, ou ainda, que ela venha disfarçada de sapo, ou de príncipe, corre o risco de acabar infeliz para sempre...
Coração: Princesa Cinderhelga, o que esta fazendo tão solitária aqui na Torre do Tempo?
Cinderhelga: Nada... Estou só pensando sobre a vida...
(O Coração então se aproximou e pode notar algo diferente nos lábios da princesa)
Coração: Urgh! O que é isso na sua boca? Ela esta verde!!!!
Cinder: (aborrecida). Pois é, beijei outro príncipe e ele virou sapo...
Coração: Mas como assim, virou sapo? Não era o contrário, você beijava o sapo e ele virava príncipe?
Cinder: Não, Coração, isso acontecia naqueles contos de fadas antigos... Aqui na Helgolândia os príncipes já vêm prontos, lembra-se? Você mesmo é quem sinaliza logo que aparece um...
Coração: Eu ou a sua imaginação?
Cinder: Lá vem... Não estou disposta a discussões sobre o meu comportamento amoroso agora. Já avisei que estou de TPM?
Coração: Você nunca vai aprender né?
Cinder: Não... E quer saber? Acho que isso é uma maldição de alguma bruxa má de Solteirópolis. Eu sei, naquele lugar só tem gente invejosa e elas devem ter me lançado alguma urucubaca para eu ficar solteirona e mal amada para o resto da minha vida.
Coração: É pior do que eu pensava! Ainda por cima você esta com mania de perseguição!
Cinder: Eu?!? Você é engraçado sabia? Primeiro você se desmancha pelos caras mais nada a ver que eu conheço. É sempre assim, um olhar carinhoso, mensagenzinhas no celular, flores, jantares, papos cabeça e pronto. Lá esta você com cara de bobo... Você é o sujeito mais fácil aqui da Helgolândia. Parece até que você gosta de ser enganado.
Coração: Olha, eu acho que você esta me confundindo com o Bobo da Corte...
Cinder: Não estou não! Veja só se não é verdade: toda vez que aparece um projeto de príncipe aqui na Helgolândia você já fica amigo, leva para tomar cerveja, se apega. Eu fico atrás de você dizendo que não é para você fazer isso, que você não deve confiar tanto nas pessoas...
Coração: Mas eu sou um bom Coração!!
Cinder: Um bom coração ou um bobo coração?
Coração: Olha Cinder, eu não devia, mas vou te dizer. Sou bacana com todas as pessoas que chegam na Helgolândia, porque você sabe, é da minha natureza ser amoroso, carinhoso e romântico. Mas eu sou assim com todo mundo. Eu nunca te disse que fulano ou beltrano dariam para um bom príncipe. Você que se antecipa com essa sua mania de ter expectativas sobre tudo...
Cinder: Eu?! Expectativas? Não estou ouvindo isso...
Coração: Esta sim! Você, com essas suas expectativas esquece que todo sapo é meio príncipe e todo príncipe é meio sapo.
Cinder: Sem essa agora! Já superamos a era dos contos de fadas antigos!!! Hoje os príncipes já vêm prontos, com certificados de qualidade, pós-graduação e MBA! Na modernidade não tem a necessidade de se ter aquela parte chata, gosmenta e verde de antes... Adeus a Era Sapo!!! Príncipe que é príncipe já vem pronto!
Coração: Será?!
Cinder: Eu tenho certeza disso... E quem discorda que vá para Solteirópolis ser feliz para sempre lá.
Coração: Eu achava que você era feliz solteira
Cinder: Mas eu sou!
Coração: Então porque é que você se preocupa tanto em achar um príncipe?
Cinder: Porque nos contos de fada é sempre assim... A princesa acha o príncipe e é feliz para sempre!
Coração: Mas isso não são nos contos de fadas antigos? E a Helgolândia não é a modernidade?
Cinder: Grrrrrrr!!! Para mim já chega! Já não me basta essa boca verde e eu ainda tenho que aturar um Coração metido a filósofo! Quer saber? Fodam-se os príncipes, fodam-se os sapos! E me deixa em paz que eu não te chamei aqui!
Coração: Adoro quando você fica bravinha!
Cinder: F-o-r-a!
Coração: Ta bom, ta bom, já vou indo... Mas antes eu tenho que te dizer uma coisa. Ninguém é feliz para sempre porque encontrou um príncipe. Nem é infeliz para sempre porque ficou com um sapo. Porque todo mundo tem um lado sapo e um lado príncipe. O amor impossível, esse que só vem com príncipes e que a gente sempre acaba buscando, é também o amor que esta a todo tempo indo embora. Porque o tempo, cedo ou tarde, nos revela aquilo que todos nós temos de mais verdes. E ai? O amor acaba?
Acho que esta na hora da senhorita aprender que a gente se apaixona e quando não dá certo dói mesmo, independente do príncipe ter sido príncipe ou ter virado sapo. E precisa aprender também que aquela história de “final feliz” foi um lugar comum que um autor pouco criativo inventou, porque não sabia como terminar a história. Porque na verdade, a felicidade não fica lá no final te esperando, entende? A felicidade esta ai, entre os altos e baixos da vida.
Se você se esquece na Torre do Tempo, e fica esperando que a felicidade chegue só no final, ou ainda, que ela venha disfarçada de sapo, ou de príncipe, corre o risco de acabar infeliz para sempre...
terça-feira, agosto 01, 2006
Princípio da ampla defesa e do contraditório
"Amo também o balé jurídico da impunidade. Assim que se pega o gatuno, ali, na boca da cumbuca, ali, na hora da mão grande, surgem logo os advogados, com ternos brilhantes, sisudos semblantes, liminares na cinta, cínica serenidade de cafajestes e, por trás deles, vemos as faculdades malfeitas, as chicaninhas decoradas, os diplomas comprados.
E logo acorrem os juízes das comarcas amigas, que dão liminares e mandados de segurança de madrugada, de pijama, no sólido apadrinhamento oligárquico, na cordialidade forense e freguesa, feita de protelações, desaforamentos, instâncias infinitas, até o momento em que surge um juíz decente e jovem, que condena alguém e é logo chamado de "exibicionista"...
(Arnaldo Jabor, "Adoro sepulcros caiados e lágrimas de crocodilo", in "Amor é prosa, sexo é poesia")
E logo acorrem os juízes das comarcas amigas, que dão liminares e mandados de segurança de madrugada, de pijama, no sólido apadrinhamento oligárquico, na cordialidade forense e freguesa, feita de protelações, desaforamentos, instâncias infinitas, até o momento em que surge um juíz decente e jovem, que condena alguém e é logo chamado de "exibicionista"...
(Arnaldo Jabor, "Adoro sepulcros caiados e lágrimas de crocodilo", in "Amor é prosa, sexo é poesia")
segunda-feira, julho 31, 2006
Pai
Um dia ainda quero te encontrar na esquina da desilusão, para dizer que não preciso mais seguir os teus passos, que não preciso mais dos teus abraços, do seu dinheiro e do teu olhar de desaprovação. Um dia vou te encontrar tão grande que vou me esquecer o quanto sou pequena e que não sei nada da vida. Um dia não vou mais ter medo de escuro, de injeção e de ser feliz. Eu vou acordar de bom humor de manhã cedo. Um dia vou te convencer a caminhar algumas horas em silêncio comigo, não porque você esta gordo, mas porque às vezes você me faz falta. Um dia eu ainda vou fazer você se arrepender de dizer que quando você morrer eu vou morrer de saudades. Porque eu vou mesmo. Um dia eu vou deixar de ser a culpa do seu passado mal resolvido e quem sabe ai, me mudo para a pensão da Dona Genoveva, que tantas vezes eu te ouvi amaldiçoar. Um dia eu não vou mais correr para os teus braços porque o mundo anda pesado demais, porque a vida vai me ensinar a chorar sozinha no escuro do meu quarto e eu vou levantar mais forte depois.Um dia eu vou construir meu futuro sem esperar que você esteja na platéia. Um dia eu vou deixar de ser a menina que eu sempre sou quando você me abraça e me dá aquele beijo melado que eu odeio.Um dia eu vou me odiar menos por te amar tanto.
quarta-feira, julho 26, 2006
Psicografia
Quando a encontrei, ela já estava com os olhos fundos e pequenos, mergulhados na melancolia do samba bem tocado e da cerveja bem gelada. Escrevia freneticamente num pedaço de guardanapo todas as suas angústias esperando do papel os ouvidos atenciosos, que nessa hora, estavam ocupados demais com aquele samba. Sentei por perto, silenciosamente, tentando compreender o que se passava. Com os movimentos vagarosamente alcoolizados, ela pousou o guardanapo todo rabiscado na minha frente e me pediu para que lesse. Li atentamente aquele aglomerado de palavras tentando compreender psicografia do medo do amor. Porque era mais fácil que o amor fosse espírito do que realidade. O que é etéreo não machuca, só assusta.
E aquela cena me lembrou muito um trecho de “O pequeno príncipe” em que, ao encontrar um bêbado ele faz a seguinte pergunta “Porque você bebe?”, e o bêbado responde “Bebo para esquecer”. Intrigado o principezinho retruca “esquecer o quê?” e o bêbado responde “esquecer a vergonha que eu tenho de beber”. E assim, exatamente dessa forma, ela me apresentava o amor: como se ele fosse para nunca ser vivido, afim de nós nos poupássemos da nossa autêntica fragilidade humana.
Ai ela me perguntou sobre aquilo que eu compreendia da subjetividade da sua psicografia maluca. E eu, com a sinceridade que somente o álcool permite, respondi que muito pouco. Mas na verdade eu compreendia muito, e, de certa forma pactuava a sua vontade de transformar o amor em algo tão distante da realidade, que a paixão, quando acabasse, fosse como se nunca tivesse existido.
E seria então tudo mágico, se não houvesse o nosso desespero humano de esperar a mensagem do celular, o convite para o aniversário que não veio, o sorriso que iluminava os segundos perdidos do nosso dia. Seria mágico se o medo não fizesse a gente martelar na nossa testa a palavra “amiga”, para conter aquela vontade incontida se ser amor.
E a minha amiga estava ali, incontida e frágil em cima de um papel rabiscado, tentando enfim traçar a receita mágica da paixão indolor.
Receita que eu também não sei. Mas se eu pudesse te dizer, diria que o único amor que dói é aquele que a agente não viveu. Porque aquele que a gente viveu mas não deu certo, o tempo cura.
E aquela cena me lembrou muito um trecho de “O pequeno príncipe” em que, ao encontrar um bêbado ele faz a seguinte pergunta “Porque você bebe?”, e o bêbado responde “Bebo para esquecer”. Intrigado o principezinho retruca “esquecer o quê?” e o bêbado responde “esquecer a vergonha que eu tenho de beber”. E assim, exatamente dessa forma, ela me apresentava o amor: como se ele fosse para nunca ser vivido, afim de nós nos poupássemos da nossa autêntica fragilidade humana.
Ai ela me perguntou sobre aquilo que eu compreendia da subjetividade da sua psicografia maluca. E eu, com a sinceridade que somente o álcool permite, respondi que muito pouco. Mas na verdade eu compreendia muito, e, de certa forma pactuava a sua vontade de transformar o amor em algo tão distante da realidade, que a paixão, quando acabasse, fosse como se nunca tivesse existido.
E seria então tudo mágico, se não houvesse o nosso desespero humano de esperar a mensagem do celular, o convite para o aniversário que não veio, o sorriso que iluminava os segundos perdidos do nosso dia. Seria mágico se o medo não fizesse a gente martelar na nossa testa a palavra “amiga”, para conter aquela vontade incontida se ser amor.
E a minha amiga estava ali, incontida e frágil em cima de um papel rabiscado, tentando enfim traçar a receita mágica da paixão indolor.
Receita que eu também não sei. Mas se eu pudesse te dizer, diria que o único amor que dói é aquele que a agente não viveu. Porque aquele que a gente viveu mas não deu certo, o tempo cura.
sábado, julho 15, 2006
Da arte que simplesmente admiro
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Fernando Pessoa)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Fernando Pessoa)
Um bom samba, um bom jazz e um bom texto...
As perguntas nunca calam quando o assunto é o sofrimento ou a indignação, que às vezes trago nas minhas palavras, nessa estranha brincadeira que faço: a minha própria verborragia relatada. E não me sinto dissecada, numa mesa de anatomia, quando falo de uma tristeza ou de algo que me perturba o sono ou a alma. Não me incomoda a incidência da primeira pessoa no verbo, ainda que o verbo seja “doer”. Embora em nenhum momento eu escape ao crivo dos meus amigos ou daqueles que me conhecem. Muita gente me pergunta: Porque raios publicar um sofrimento que poderia ficar ali, guardado em uma pasta do seu Word? Como se a leitura daquilo que eu escrevo fosse algo compulsório. Muita gente entende que descrever a tristeza e publicar num blog é uma espécie de sado-masoquismo para um voyeur virtual desconhecido, ou, trocando em miúdos, uma exposição desnecessária.
Num mundo onde se compra felicidade em um comprimido de Prozac, não me estranha que as pessoas se acostumem a condenar a falta da felicidade alheia. Num país cujo analfabetismo funcional seja em percentuais tão absurdos, também não me causa espanto que o fato de gostar de escrever, ainda mais sobre a tristeza, seja considerado uma patologia das mais crônicas, das mais graves. Praticamente sintomas de uma depressiva em potencial, ou quem sabe, de uma síndrome ainda inexplorada pela psiquiatria.
Porque relatar um pedaço da tristeza é renunciar um pouco dessa felicidade que todos nós compramos nas propagandas de margarina, e tentamos fazer dela um pouco a nossa existência. Pois bem, eu abdiquei do meu compromisso de ser feliz nas minhas palavras e me sinto à vontade para descrever esse sentimento tão condenável que é a tristeza. Simplesmente o faço sem nenhuma culpa, desnudo e sincero, na primeira pessoa. Porque se tivesse um pincel e aprendesse a pintar, pintaria um quadro. Se tivesse um violão e aprendesse a tocar, faria uma música. Mas aprendi com as palavras a fazer a minha estranha arte, que é tão direta e crua e às vezes toca a sensibilidade de um leitor mais desprotegido da sua pretensa obrigação de ser feliz. Mas logo em seguida, lhe vem a reação não menos humana, de condenar: afinal é melhor ser alegre que ser triste.
Tenho certo que a alegria caricata, que é tão típica do palhaço, se fizesse parte das minhas palavras, nunca seria real e me pouparia muitas linhas. A alegria a gente tem vivendo e não descrevendo. A tristeza não. A tristeza busca a complexidade das palavras, faz a dança dos verbos, sujeitos e a adjetivos se tornar humana. Porque a tristeza precisa de compreensão e não do esquecimento. É certo que como diz o mestre das palavras, que para mim é Carlos Drummond de Andrade, que a dor é inevitável o sofrimento é opcional. Mas é certo também que falar de tristeza não é necessariamente sofrer incondicionalmente. É , ao menos na minha estranha dinâmica, meu jeito de expressar e de interagir, de não deixar a tristeza cair no esquecimento.
Mas não escondo que gosto daquela melancolia de final de domingo, daquela tristeza que sobrevêm com a ressaca, da mágoa explicita no fundo do copo de cerveja, da ferida aberta dos meus desamores dissecados. Porque o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.
E um bom samba, um bom jazz e um bom texto se fazem sim com um bocado de tristeza!
Num mundo onde se compra felicidade em um comprimido de Prozac, não me estranha que as pessoas se acostumem a condenar a falta da felicidade alheia. Num país cujo analfabetismo funcional seja em percentuais tão absurdos, também não me causa espanto que o fato de gostar de escrever, ainda mais sobre a tristeza, seja considerado uma patologia das mais crônicas, das mais graves. Praticamente sintomas de uma depressiva em potencial, ou quem sabe, de uma síndrome ainda inexplorada pela psiquiatria.
Porque relatar um pedaço da tristeza é renunciar um pouco dessa felicidade que todos nós compramos nas propagandas de margarina, e tentamos fazer dela um pouco a nossa existência. Pois bem, eu abdiquei do meu compromisso de ser feliz nas minhas palavras e me sinto à vontade para descrever esse sentimento tão condenável que é a tristeza. Simplesmente o faço sem nenhuma culpa, desnudo e sincero, na primeira pessoa. Porque se tivesse um pincel e aprendesse a pintar, pintaria um quadro. Se tivesse um violão e aprendesse a tocar, faria uma música. Mas aprendi com as palavras a fazer a minha estranha arte, que é tão direta e crua e às vezes toca a sensibilidade de um leitor mais desprotegido da sua pretensa obrigação de ser feliz. Mas logo em seguida, lhe vem a reação não menos humana, de condenar: afinal é melhor ser alegre que ser triste.
Tenho certo que a alegria caricata, que é tão típica do palhaço, se fizesse parte das minhas palavras, nunca seria real e me pouparia muitas linhas. A alegria a gente tem vivendo e não descrevendo. A tristeza não. A tristeza busca a complexidade das palavras, faz a dança dos verbos, sujeitos e a adjetivos se tornar humana. Porque a tristeza precisa de compreensão e não do esquecimento. É certo que como diz o mestre das palavras, que para mim é Carlos Drummond de Andrade, que a dor é inevitável o sofrimento é opcional. Mas é certo também que falar de tristeza não é necessariamente sofrer incondicionalmente. É , ao menos na minha estranha dinâmica, meu jeito de expressar e de interagir, de não deixar a tristeza cair no esquecimento.
Mas não escondo que gosto daquela melancolia de final de domingo, daquela tristeza que sobrevêm com a ressaca, da mágoa explicita no fundo do copo de cerveja, da ferida aberta dos meus desamores dissecados. Porque o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.
E um bom samba, um bom jazz e um bom texto se fazem sim com um bocado de tristeza!
sexta-feira, julho 07, 2006
Eu sonhei
Sonhei com brejo de principes na Helgolândia. Era um cenário de Tim Burton. Tinha um monte de rostos bonitos sorrindo no meio de um monte de lama, e junto com eles, umas poesias do Vinicius e do Drummond e uma confusão de sentimentos. Senti tudo olhando para aquele lugar...
Tinha um coração partido flutuando no meio da lama. E tocava incessantemente "My funny Valentine" na voz do Chet Baker...
Tinha um coração partido flutuando no meio da lama. E tocava incessantemente "My funny Valentine" na voz do Chet Baker...
sexta-feira, junho 30, 2006
"Foda-se"
Conversando com muitas pessoas por esta vida, acho que encontrei o mais potente dos anti-depressivos: o real e moderno caminho da felicidade. Cem por cento natural, não contém transgênicos, sem nenhuma contra indicação, além de ser acessível a qualquer bolso. Rola um certo modismo por aí, afinal é dificil encontrar quem não se valha dele. Confesso que também me rendi.
Prático, cabe na bolsa e desde de a invenção do "abracadabra" e dos psicotrópicos de última geração, nenhum substantivo ou subtância tinha um potencial tão mágico quanto este. Trata-se do "Foda-se".
"Foda-se" ultrapassa a eficiência de um produto comum: pode ser consumido a qualquer momento, sem nenhuma restrição.
Seu manuseio supera as expectativas. O "foda-se" é simples, não precisa de refrigeramento ou temperatura especial, cabe em qualquer espaço, adaptável a todas as situações. E o resultado? I-me-di-a-to. "Foda-se" produz, logo após seu manuseio, um sorriso e um alívio instantâneos. Quer ver?
Pegue uma situação. Qualquer uma da sua vida. Pense naquela que anda te incomodando mais ultimamente. Mentalize com força... Vamos lá? Não acordou num cenário de propaganda de margarina? Pior... Brigou com o chefe? Com a mãe? Com o namorado? Apaixonou-se e levou um pé na bunda? Foi demitido? Engordou três kilos? Foi mal na prova? Teve uma puta dor de barriga no meio de uma reunião importantíssima? Bateu o carro? Cólica menstrual? Calos no pé? Saudade? Frieiras? Solidão? Sarna?Ansiedade? Gripe? Crise existencial? Separação dos pais? Conta do banco no vermelho? Seus problemas acadaram...
Respire fundo, vai sentindo o ventinho do "F" bem ali na frente da sua boca. Deixa vir de dentro, sem medo... Isso. Tá indo bem. Inclui o "O" agora... Deixa fluir o "Fo", já junta com o "Da", mas não se esquece da entonação e da respiração. Isso são detalhes importantissimos! Agora vai vindo! Isso, sem deixar parar sai o "se". Junta tudo, "Foda-se"! Cade o problema? Aposto que você nem se lembra mais dele.
"Foda-se" é assim, imune a todos os incomôdos. Porque o "foda-se" nos torna adapatáveis ao sofrimento. Com o "foda-se" não tem tempo ruim, melancolia de final de domingo ou solidão... Por isso? Se algum sapo não te desce na garganta, não tenha dúvida, beba com um gole de "foda-se" e tudo estará melhor. O "foda-se" desce redondo. Desce macio e reanima!
"Foda-se" em doses não homeopáticas, três vezes ao dia, depois das refeições principais. De repente sua vida começar a andar tão rápido, que você sentirá que o sofrimento não te alcança mais. Pois, quando ele estiver por perto, você já ativou o "foda-se" e tudo já mudou de cenário. O "Foda-se" desapega, minha gente! O "foda-se" salva.
E a tua força é assim tão grande, que pode até virar religião, comunidade no orkut, política pública ou movimento de esquerda. Adeptos do "Foda-se" uni-vos!
"Foda-se". Nada é imune ao "Foda-se". Pois o homem criou no "foda-se" a sua imagem e semelhança.
Por exemplo agora, talvez esse texto te incomode. O blog assumiu um tom sarcástico e as minhas palavras soam quase como um beliscão na alma? "Foda-se".
"Foda-se" muito tudo isso!
E desde que comecei a utilizar o "foda-se" nada mais me incomodou. Exceto um pequeno detalhe que penso até em dividir com os demais usuários, para ver se isso acontece com vocês também.
Em um dia muito ruim, escovando os dentes, percebi que estava chateada com um monte de coisas na minha vida. Imediatamente, fiz o uso do "foda-se". E lembra-se do suspiro seguido do alívio, que comentei? Pois é, me olhei no espelho e percebi que aquele sorriso pós "foda-se" não era um sorriso comum... não era um sorriso normal. Não iluminava, não desarmava, não revolucionava nada. Por alguns segundos eu percebi que aquele sorriso não me trazia humor para lidar com a vida. Percebi que eu estava me tornando não uma pessoa feliz, mas uma pessoa cínica... Então, tomei outro "foda-se" logo em seguida e passou. Já aconteceu isso com você?
sábado, junho 24, 2006
terça-feira, junho 20, 2006
Você é um bosta
Eu ainda não havia me cansado quando você me ejetou céu abaixo do seu vôo de um piloto só. Ou será que eu mesma me joguei? Fazer parte das tuas asas foi uma sensação leve de experimentar de novo o amor. Sem medo e sem coragem. Por isso, aguardava ansiosa o teu nome piscar na tela do meu celular para depois sorrir de graça, com toda a meninice que o tempo ainda não me consumiu. Mas você foi embora sem que eu pudesse descobir se era louca pelo seu cheiro, pela sua prolixidade, pela sua pinta do lado esquerdo do queixo ou pelas fantasias de Borges que você recria na sua vida. As vezes eu penso que se meu coração tivesse um detector de mentiras, suas palavras não seriam um tapete vermelho para todas as minhas expectativas. Porque te amei, também, pelo que você não deixou acontecer. Como aquele presente que eu devolvi na loja, porque não tive tempo de te dar. Embora tenha desejado o teu sorriso ao recebê-lo.
Quando sobrou só eu e a saudade, fui para a rua e beijei outras bocas, acordei em outras camas e voltei para casa ouvindo Chico Buarque ("e quantas águas rolaram, tantos homens me amaram, bem mais e melhor que você"...) lamentando o meu lado mesquinho que insistia em sofrer por você. Porque com o tempo, descobri que você era bem menor que todos os meus enormes sentimentos.
Eu deixei você apodrecer aqui dentro. Junto com aquele "eu te amo", que você dizia como quem diz um corriqueiro "bom-dia". Como quem brinca com as palavras para fazer propaganda. E brinca com as palavras para encantar o coração alheio. Mas o alumbramento acabou.
E nessas mesmas palavras, eu encontrei a tua função e o meu consolo, talvez você tenha sido apenas um antídoto para outros relacionamentos furados. Outros amores bandidos e maltrapilhos feito esse que você gravou num cd.
Foram nessas mesmas palavras que eu me libertei e quando não soubrou o sentimento nem a resignação, veio o ponto final, a conclusão. Quando penso em você, quando ainda penso, uso o teu mesmo jogo de palavras para contar uma nova verdade. Dessas mesmas verdades que não são absolutas. Mas o que importa? O que importa desde que você fechou aquela porta, para abrir meus olhos de tanta ilusão. E quando vejo e tento negar, para poupar um aconchego para as lembranças, encontro apenas impossibilidades. Porque as pessoas são, aquilo que elas são. Hoje. E sem negar o passado, sem contar histórias para mim mesma, para desconsiderar sua poética rescunhada de Garcia Lorca, eu precisava dizer.Sem o tom piegas de um amor mal vivido. Sem a nota saudosa de um passado compartilhado. Sem negar o que a realidade nos escarra e o que os olhos lavam com as lágrimas.
Para mim você é um bosta. E ponto final. E um dia eu precisava escrever isso.
segunda-feira, junho 19, 2006
Sobrenome Projeto 2
"A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro"...
(John Lennon Projeto)
(John Lennon Projeto)
domingo, junho 18, 2006
Sobre ter ou não ter
"Sometimes I can't move my feet it seems As if I'm stuck in the ground somehow like a tree As if I can't even breathe Oh, and my screams come whispering out As if nobody can even see meLike a ghost, sometimes I can't see myself Sometimes, then again, ohIf I were a kingIf I had everything If I had you and I could give you your dreams If I were giant-sized, on top of it all Then tell me what in the world would I sing for If I had it all Sometimes I feel lost As I pull you out like strings of memories Wish I could weave them into youThen I could figure the whole damn puzzle out Then again, oh"
(If I had it all, Dave Matthew's Band- música para a alma, em dias que se tem nada ou muito pouco)
(If I had it all, Dave Matthew's Band- música para a alma, em dias que se tem nada ou muito pouco)
sexta-feira, junho 16, 2006
Cinderhelga!
Cinderhelga é uma princesa que acorda todos os dias atrasada. Motivo pelo qual despenca de sua torre no décimo primeiro andar mastigando alguma possibilidade de café da manhã. Sorri para o porteiro, que retribui num olhar simpático, demonstrando afinidade com a mocinha atribulada. Corre para o ponto de ônibus, desanimada com a sua pequena realidade metafísica de sardinha. Talvez sobre um lugar, mas o consolo surge fácil em sua mente: quem precisa de um carro quando existe um Jardim Helga até o Vale das virtudes?! É o que pisca no ônibus e a moça diz bom dia então, ao cobrador. Esquecendo-se de que é só mais um ser amarrotado. Trabalha.Desistiu de encontrar príncipes e dada a fartura de sapos que rondam sua tragetória, apaixonou-se pela idéia de montar um brejo. Guarda os amores para um samba de Chico Buarque, inpirados com um jazz e uma luz de velas. Não pensa no par perfeito, mas se desilude com a capacidade das pessoas de desentender sua intensidade. No fundo ela gosta mesmo é da fugacidade das paixões. E tem dificuldades em transformá-las no amor.Vive todas as paixões do mundo, ali sentada no ônibus indo para o trabalho.Inconformada com o cotidiano e a realidade. Vive todas as paixões sentada e pensando, em um banco de ônibus.Vive de dieta, exatamanete porque se alimenta de paixões. E sofre de gastrite porque paixões cultivam temperos fortes demais. Corre para esquecer a vida. Corre para passar o tempo.Sofre de um mal constante, coitada dessa princesa! Precisa de endorfina, serotonina e adrenalina em doses não homeopáticas. Senão ela surta. E poucas pessoas entendem isso.Volta para casa com o estômago em frangalhos e sempre se desilude com uma geladeira de final de mês. Atravessa a rua e vai para a realidade. Nesse mundo do dever ser. Direito e reto, não sabe como entender aquilo que não se escreve nas leis. Bom seria que a vida fosse uma norma. Sintética norma.Depois retorna a Helgolândia para um noite de sono tranquilo. Dessas em que se deseja sonhar voando. Abraça o travesseiro, fecha os olhos lentamente. Quando chove, coloca o rádio perto da cama e dorme com Miles Davis. Sonhando com o dia seguinte que não muda.Projetando a vida mudar.Cinderhelga é uma princesa que acorda atrasada. Mas a par disso, tem dentro de si, todos os projetos de sonhos do mundo.
quinta-feira, junho 15, 2006
Comente! (ou seja bem-vindo!)
Já recebi criticas, elogios, sugestões, telefonemas e mensagens na garrafa por conta deste blog. Recados que na maioria das vezes são deixados pessoalmente e que os recebo com um carinho tão grande, que me transborda o peito. Por vezes, não ignoro os olhos silenciosos, que como os teus, devem estar assistindo atentamente a dança das minhas palavras e, silenciosamente também desejo que elas te tragam um pouco dessa alegria e inspiração, que para mim é escrever. Um orgasmo multiplo de sinapse.
Minha relação com as palavras é de um amor estranho, que eu traduzo na minha maneira intensa de experimentar a vida. E por isso escrevo. O que não passa do texto é a sensação mágica da felicidade que me invade, de me transcrever e traduzir tantas vezes.
Já perguntei para alguns desses leitores porque é que eles não comentam meus textos, e muitos deles apontaram que o meu estilo intimista e pessoal dispensa comentários. Discordo.
Na verdade esse meu monólogo com a palavra, pede um pouco dos teus sentidos também. E se você se inspirar pode me deixar um recado, afinal também tenho um lado de escritora carente! E me preocupo, inclusive, com os meus erros de português.
Talvez, dessas minhas palavras, você nunca tenha encontrado um 'bem-vindo", que fica implicito no meu sorriso ao terminar o post. Que é um parto e uma explosão de arte em mim.Mas que também pode ser de você.
Portanto, explicitamente, meu silencioso leitor, seja bem vindo! Meu estilo intimista não escapa o desejo de te ouvir. Mesmo que seja um sonoro "vai tomar no cú, Helga!".
Um recadinho? Unzinho só! Pode ser?! Quem vem lá...?
terça-feira, junho 13, 2006
O fascinio e o absurdo
Acordei para o dia, como todos os dias são. Com a diferença de que hoje as ruas viraram um pedaço do campo, onde camisas 10 desfilam para esbanjar a honra ou o charme de ser brasileiro. Um dia pelo menos. As aulas foram interrompidas mais cedo, por um motivo nobre que é um jogo de copa do mundo. Assim como foi finalizado o expediente. As cornetas e buzinas anunciavam um dia especial. Era uma espécie de dança da chuva, que nos servia para aplacar a ansiedade coletiva deste trovão, que é o nosso grito de gol. Um grito real e forte que extrapola a competencia de um hino, porque simplesmente simboliza e significa, quando dito por si só. Porque o que esse povo tem de povo, é o que rola com aquela bola invejada e desejada, neste espírito que se traduz somente aqui. Neste dia em que vivemos em um país tão distante e diferente. De uma união sólida e nobre que chega a maquiar o absurdo tão bem estampado das nossas manchetes de jornal. Se gritassemos "chega" assim como gritamos "gol", será que um dia isso seria mais do que uma república de bananas? Um sótão com vista para o mar da américa latrina?
Se interrompessemos nossos dias para finalizar uma historia de banalização e corrupção, não teriamos mais motivos para abrir uma cerveja estupidamente gelada? E escandalizar a euforia de um dia acordar um pouco mais digno para finalmente andarmos pelas ruas com a real felicidade de ser brasileiro?
Se um dia a nossa concentração fosse a mesma que se faz, minutos antes do jogo da final começar, só para poder mudar o fascinio e o absurdo de viver aqui, talvez nossa alegria pudesse ser mais sincera, mais honesta.
E eu confesso, com a pieguice tão típica de um Policarpo Quaresma, que eu desejo isso muito mais do que desejo o hexa.
quinta-feira, maio 18, 2006
15.05.2006
Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada. Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada. Toda forma de conduta se transforma numa luta armada. Numa cruzada. Se tudo passa. Talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo o que eu vi. É fácil ir adiante, esquecer que a coisa toda ta errada. A história se repete, mas a força deixa a história mal contada (inacabada).
(Toda forma de poder - Engenheiros do Hawai)
(Toda forma de poder - Engenheiros do Hawai)
Violência
Essa cidade que dormiu no colo do medo acordou em pânico quando se deu conta de que não havia ônibus para trabalhar. E seu ritmo febricitante, agonizado no andar apressado das suas ruas, substituiu uma paisagem de abandono. No dia em que todos nós mitigamos nossa liberdade no transito que não andou. No dia em que o medo assumiu todas as formas de poder, e andávamos acuados sem armas e sem proteção. E aquele Estado Paralelo que tanto se falava, rompia suas fronteiras, no dia em que todos nos fomos mais cedo para casa. Compulsoriamente.
E a violência da sua força bruta, que transparece nesses prédios gigantes, foi substituída pela violência do silêncio. Silêncio do corpo frio que experimentou a terra com o coração dilacerado a balas. Eram lágrimas. Dos mocinhos e dos bandidos. Que somos todos nós. Cúmplices.
No dia em que o abismo social se tornou tão raso, que não podíamos nos afundar mais em nossa hipocrisia. Experimentamos o medo e uma cidade vazia.
E a violência da sua força bruta, que transparece nesses prédios gigantes, foi substituída pela violência do silêncio. Silêncio do corpo frio que experimentou a terra com o coração dilacerado a balas. Eram lágrimas. Dos mocinhos e dos bandidos. Que somos todos nós. Cúmplices.
No dia em que o abismo social se tornou tão raso, que não podíamos nos afundar mais em nossa hipocrisia. Experimentamos o medo e uma cidade vazia.
segunda-feira, maio 15, 2006
Porque decepei a língua portuguesa (errata)
Bom, embora a manifestações dos leitores desse blog seja tão silenciosa, venho por meio desta, publicar uma singela errata em relação ao meu erro crasso de português. Enfim, na ultima postagem no lugar de "guilhotina", escrevi "gliotina" e acabei, por assim dizer, decepando não só o coração bobo, mas também a língua portuguesa.
Contudo, Professor Pasquale já fez uma visita emergencial a Helgolândia e tudo encontra-se devidamente corrigido.
Em nota oficial, Cinderhelga declarou que vem se desentendendo com a língua portuguesa, por motivos de falta de concentração: "sabe o que é, ando falando demais a língua do P (...)". Conteúdos misteriosos a parte, encontra-se salva a "guilhotina" da língua portuguesa...
Contudo, Professor Pasquale já fez uma visita emergencial a Helgolândia e tudo encontra-se devidamente corrigido.
Em nota oficial, Cinderhelga declarou que vem se desentendendo com a língua portuguesa, por motivos de falta de concentração: "sabe o que é, ando falando demais a língua do P (...)". Conteúdos misteriosos a parte, encontra-se salva a "guilhotina" da língua portuguesa...
domingo, maio 07, 2006
A guilhotina
Num dia de trovoadas na Helgolândia...
Cinderhelga: Senhor Bobo da Corte? Pode me fazer um favor?!
Bobo da Corte: Como não minha princesa? O que desejas?
Cinder: Chame o Sr. Coração, temos preparativos a serem realizados: uma nova revolução se aproxima da Helgolândia...
Bobo: Revolução?!
Cinder: Sim, quero inaugurar um “brejo de príncipes” aqui.
Bobo: Mas brejos são para sapos!
Cinder: Por isso que você é bobo! É uma revolução em todos os conceitos da Helgolândia! Até hoje brejos eram para sapos. Mas levando em consideração as nossas estatísticas que demonstram que 99% dos príncipes beijados se tornaram sapos com uma velocidade descomunal, inauguraremos um brejo de príncipes.
Bobo: Mas o que o Coração tem a ver com essa sua idéia maluca?
Cinder: Na verdade, ao lado do “brejo de príncipes” vou inaugurar a “guilhotina das ilusões”. E, para fazer o teste da lâmina, chamarei o Coração.
Bobo: Você esta completamente doida! O teste da guilhotina vai matar o meu melhor amigo e eu não posso colaborar com essa sua idéia...
Cinder: Às vezes você é menos bobo do que eu imagino. Um Coração bobo e um Bobo da Corte só poderiam ser melhores amigos, sempre soube... Mas decepando um Coração, perdemos todas as ilusões. E a Helgolândia será “tranqüila para sempre”.
Bobo: Mas o plano não era “ser feliz para sempre” ? Porque você quer acabar com as ilusões? Não eram elas as responsáveis pelos dias de sol da Helgolândia?
Cinder: Não, elas eram responsáveis por um dia de sol, e uma semana de trovoadas posteriores...
Bobo: Mas porque o Coração tem que ser decepado em nome das ilusões?
Cinder: Para um Bobo parece que se tem que explicar tudo mesmo...Você sabe que além de ser seu melhor amigo, ele adora andar ao lado das ilusões. É só aparecer alguma ilusão que você e esse seu amigo Coração ficam lá feito bobos.
Bobo: Mas eu sou um bobo, nada mais natural...
Cinder: Mas vocês já deram trabalho demais com tantas ilusões e desse jeito eu nunca consigo colocar ordem nesse reino. É só estar tudo tranqüilo na Helgolândia, não demora muito, temos mais um sapo no lugar de um príncipe e por culpa de quem? Das ilusões e do Coração, que faz o favor de deixar que elas entrem na Helgolândia sem nenhuma objeção.
(De repente aparece o Coração no hall do Castelo principal da Helgolândia)
Coração: Vossa Alteza!? Quais as novidades do reino?
Cinder: Tenho uma ótima para você... Inauguraremos dentro de semanas uma “Guilhotina de ilusões” aqui na Helgolândia e você será o nosso teste da lâmina...
O Coração trocou olhares com o Bobo sem entender muita coisa...
Coração: Vai me decepar porque?
Cinder: Para ver se as ilusões não aparecem mais por aqui...Cansei das confusões que vocês aprontam.
Coração: Eu te falei Bobo... Depois que ela colocou o Medo como conselheiro-mor da Helgolândia, iriam acontecer coisas terríveis por aqui...
Cinder: Eu sabia que vocês não gostavam do Medo. Nunca se deram com ele, não? Mas fiquem vocês dois sabendo que o Medo possui uma das melhores qualidades para um conselheiro-mor: a prudência. Aliás, prudência que você e nem esse Bobo tiveram durante muito tempo aqui na Helgolândia...
Coração: Quer saber? Pode me decepar...
Bobo: Você esta louco?! Pronto... Eu que sou o bobo e todo mundo querendo ser mais bobo do que eu... Não suporto mais essa concorrência!
Cinder: É bom que não questione a minha autoridade...
Coração: Eu quero mesmo que você me decepe. Para perceber que não é acabando com um Coração que as ilusões vão embora. Diga-se de passagem, quem gosta mesmo de ilusões é o seu conselheiro-mor e prudente chamado Medo e não eu. São as medidas tomadas pelo Medo, princesa, que te impedem de enxergar a realidade e acabam inundando esse reino de ilusões. Mas faz o que você quiser, Senhorita Autoridade. Eu posso ter lhe causado muitas confusões sim, mas porque decidir viver como foi possível viver. Muitas vezes eu me machuquei, tive retiros imensos na Torre do Tempo, me senti cansado e esfolado. Mas quer saber? Eu não faria nada diferente. Muitas vezes eu estou tranqüilo com o Bobo, divertindo a Helgolândia... Se o amor chega, com ilusões ou não, se ele me apresenta príncipes fantasiados de sapos, se ele me traz dias de angustia por telefonemas que não chegam, se ele me traz dias tristes porque a saudade vem... Eu simplesmente decidi viver, porque sou um Coração e nasci para isso. É essa a minha vocação.
Você fecha as portas desse reino para as ilusões porque teme o amor. O amor que você procura em todos esses príncipes sapos que são só um lado bom e um lado ruim na mesma pessoa. Porque você acha que o amor se procura, não é?
Cinder: E quando se acha, encontramos o “final feliz”, o maior tesouro da Helgolândia.
Coração: Os finais não são felizes, porque acabam. E felicidade não é fim, nem começo, nem meio. É só um dia de sol, que você coloca as mágoas para secar.
Eu sei que o Medo e você fizeram milhões de estratégias para encontrar o amor. O sarcasmo de construir guilhotinas e brejos só poderia vir da cabeça dele...
Cinder: Já chega de ironias, senhor Coração sabido... Continuarei com o meu conselheiro e aguarde a minha revolução. A Helgolândia vai mudar, e tenho dito...
Coração: Pois bem Vossa Alteza... Agora, anota essa aí no seu protocolo de medidas revolucionárias: o grande problema da prudência do seu conselheiro Medo é que ele não consegue enxergar que as ilusões invadem esse reino por um motivo só! O amor, não se procura. O amor acontece.
Por hoje é só, Vossa Alteza às vezes me cansa... Vamos Bobo, chega de questionar a autoridade da nossa princesa...
E o Coração, que era impulsivo demais, se fartou da prudência autoritária da princesa e saiu batendo as portas do Castelo principal da Helgolândia.
Cinderhelga olhou na ante-sala do Hall principal do Castelo e encontrou o conselheiro Medo fazendo planos estratégicos para a revolução que em breve aconteceria. Depois olhou pelas janelas da Helgolândia... Chovia torrencialmente. Era um dia triste.
Ela colocou um jazz para tocar e foi correr alguns quarteirões. Porque as palavras daquele Coração incomodavam bastante...
Cinderhelga: Senhor Bobo da Corte? Pode me fazer um favor?!
Bobo da Corte: Como não minha princesa? O que desejas?
Cinder: Chame o Sr. Coração, temos preparativos a serem realizados: uma nova revolução se aproxima da Helgolândia...
Bobo: Revolução?!
Cinder: Sim, quero inaugurar um “brejo de príncipes” aqui.
Bobo: Mas brejos são para sapos!
Cinder: Por isso que você é bobo! É uma revolução em todos os conceitos da Helgolândia! Até hoje brejos eram para sapos. Mas levando em consideração as nossas estatísticas que demonstram que 99% dos príncipes beijados se tornaram sapos com uma velocidade descomunal, inauguraremos um brejo de príncipes.
Bobo: Mas o que o Coração tem a ver com essa sua idéia maluca?
Cinder: Na verdade, ao lado do “brejo de príncipes” vou inaugurar a “guilhotina das ilusões”. E, para fazer o teste da lâmina, chamarei o Coração.
Bobo: Você esta completamente doida! O teste da guilhotina vai matar o meu melhor amigo e eu não posso colaborar com essa sua idéia...
Cinder: Às vezes você é menos bobo do que eu imagino. Um Coração bobo e um Bobo da Corte só poderiam ser melhores amigos, sempre soube... Mas decepando um Coração, perdemos todas as ilusões. E a Helgolândia será “tranqüila para sempre”.
Bobo: Mas o plano não era “ser feliz para sempre” ? Porque você quer acabar com as ilusões? Não eram elas as responsáveis pelos dias de sol da Helgolândia?
Cinder: Não, elas eram responsáveis por um dia de sol, e uma semana de trovoadas posteriores...
Bobo: Mas porque o Coração tem que ser decepado em nome das ilusões?
Cinder: Para um Bobo parece que se tem que explicar tudo mesmo...Você sabe que além de ser seu melhor amigo, ele adora andar ao lado das ilusões. É só aparecer alguma ilusão que você e esse seu amigo Coração ficam lá feito bobos.
Bobo: Mas eu sou um bobo, nada mais natural...
Cinder: Mas vocês já deram trabalho demais com tantas ilusões e desse jeito eu nunca consigo colocar ordem nesse reino. É só estar tudo tranqüilo na Helgolândia, não demora muito, temos mais um sapo no lugar de um príncipe e por culpa de quem? Das ilusões e do Coração, que faz o favor de deixar que elas entrem na Helgolândia sem nenhuma objeção.
(De repente aparece o Coração no hall do Castelo principal da Helgolândia)
Coração: Vossa Alteza!? Quais as novidades do reino?
Cinder: Tenho uma ótima para você... Inauguraremos dentro de semanas uma “Guilhotina de ilusões” aqui na Helgolândia e você será o nosso teste da lâmina...
O Coração trocou olhares com o Bobo sem entender muita coisa...
Coração: Vai me decepar porque?
Cinder: Para ver se as ilusões não aparecem mais por aqui...Cansei das confusões que vocês aprontam.
Coração: Eu te falei Bobo... Depois que ela colocou o Medo como conselheiro-mor da Helgolândia, iriam acontecer coisas terríveis por aqui...
Cinder: Eu sabia que vocês não gostavam do Medo. Nunca se deram com ele, não? Mas fiquem vocês dois sabendo que o Medo possui uma das melhores qualidades para um conselheiro-mor: a prudência. Aliás, prudência que você e nem esse Bobo tiveram durante muito tempo aqui na Helgolândia...
Coração: Quer saber? Pode me decepar...
Bobo: Você esta louco?! Pronto... Eu que sou o bobo e todo mundo querendo ser mais bobo do que eu... Não suporto mais essa concorrência!
Cinder: É bom que não questione a minha autoridade...
Coração: Eu quero mesmo que você me decepe. Para perceber que não é acabando com um Coração que as ilusões vão embora. Diga-se de passagem, quem gosta mesmo de ilusões é o seu conselheiro-mor e prudente chamado Medo e não eu. São as medidas tomadas pelo Medo, princesa, que te impedem de enxergar a realidade e acabam inundando esse reino de ilusões. Mas faz o que você quiser, Senhorita Autoridade. Eu posso ter lhe causado muitas confusões sim, mas porque decidir viver como foi possível viver. Muitas vezes eu me machuquei, tive retiros imensos na Torre do Tempo, me senti cansado e esfolado. Mas quer saber? Eu não faria nada diferente. Muitas vezes eu estou tranqüilo com o Bobo, divertindo a Helgolândia... Se o amor chega, com ilusões ou não, se ele me apresenta príncipes fantasiados de sapos, se ele me traz dias de angustia por telefonemas que não chegam, se ele me traz dias tristes porque a saudade vem... Eu simplesmente decidi viver, porque sou um Coração e nasci para isso. É essa a minha vocação.
Você fecha as portas desse reino para as ilusões porque teme o amor. O amor que você procura em todos esses príncipes sapos que são só um lado bom e um lado ruim na mesma pessoa. Porque você acha que o amor se procura, não é?
Cinder: E quando se acha, encontramos o “final feliz”, o maior tesouro da Helgolândia.
Coração: Os finais não são felizes, porque acabam. E felicidade não é fim, nem começo, nem meio. É só um dia de sol, que você coloca as mágoas para secar.
Eu sei que o Medo e você fizeram milhões de estratégias para encontrar o amor. O sarcasmo de construir guilhotinas e brejos só poderia vir da cabeça dele...
Cinder: Já chega de ironias, senhor Coração sabido... Continuarei com o meu conselheiro e aguarde a minha revolução. A Helgolândia vai mudar, e tenho dito...
Coração: Pois bem Vossa Alteza... Agora, anota essa aí no seu protocolo de medidas revolucionárias: o grande problema da prudência do seu conselheiro Medo é que ele não consegue enxergar que as ilusões invadem esse reino por um motivo só! O amor, não se procura. O amor acontece.
Por hoje é só, Vossa Alteza às vezes me cansa... Vamos Bobo, chega de questionar a autoridade da nossa princesa...
E o Coração, que era impulsivo demais, se fartou da prudência autoritária da princesa e saiu batendo as portas do Castelo principal da Helgolândia.
Cinderhelga olhou na ante-sala do Hall principal do Castelo e encontrou o conselheiro Medo fazendo planos estratégicos para a revolução que em breve aconteceria. Depois olhou pelas janelas da Helgolândia... Chovia torrencialmente. Era um dia triste.
Ela colocou um jazz para tocar e foi correr alguns quarteirões. Porque as palavras daquele Coração incomodavam bastante...
terça-feira, abril 25, 2006
sobre o sol...
Essa luz amarela que invade o quarto, roubando toda a minha concentração. É o espetáculo majestoso de mais um sol que se põem. Para este dia que se vai assim, trancado neste quarto, que são mais livros do que poesia.
Mas neste instante amarelo de profunda respiração, deu tempo para não pensar em nada. Passei o dia todo tentando saber mais do que podia. Mas que esqueci que tudo o que é sábio e grande nesta vida, são pequenos momentos, deste jeito, que nos levam a tarde e reticências...
Respirei no meio dessa confusão de amadurecer sem endurecer, todo dia, um pouquinho. E fui feliz no minuto assim.Amarelo que foi ficando rosa até escurecer. E pedi para esse céu de estrelas, um pouco dessa fé, que fica neste céu aqui de dentro e que uns tempos para cá deu para nublar...
Mas neste instante amarelo de profunda respiração, deu tempo para não pensar em nada. Passei o dia todo tentando saber mais do que podia. Mas que esqueci que tudo o que é sábio e grande nesta vida, são pequenos momentos, deste jeito, que nos levam a tarde e reticências...
Respirei no meio dessa confusão de amadurecer sem endurecer, todo dia, um pouquinho. E fui feliz no minuto assim.Amarelo que foi ficando rosa até escurecer. E pedi para esse céu de estrelas, um pouco dessa fé, que fica neste céu aqui de dentro e que uns tempos para cá deu para nublar...
domingo, abril 23, 2006
Vinho
"Esse papo seu tá qualquer coisa, você já esta pra lá de Marraqueshhhhhhhhhhhh
Mexe qualquer coisa, dentro doida, já qualquer coisa doida dentro mexe..."
(Qualquer coisa - Caetano Veloso)
Mexe qualquer coisa, dentro doida, já qualquer coisa doida dentro mexe..."
(Qualquer coisa - Caetano Veloso)
sexta-feira, abril 21, 2006
Injustiça
Se a boca cala, é porque sente que os gritos são como um assovio, que nada ou muito pouco conseguem protestar. Porque não há razão, quando aquilo que se impõem é só a força bruta e nada mais. Do que é hierárquico e injusto. Porque não foi institucionalizado no respeito. E é desse desrespeito caricato, que nos acostumamos a sobreviver, para ler as próximas manchetes dos jornais.Que vem logo no dia seguinte. É do desrespeito assim, legislativo, positivado, socializado e interno. Mas a boca cala e seca, porque não adianta gritar. E talvez a melhor saída para isso tudo, seja aquela porta do próximo aeroporto.
É a boca que seca, a garganta que seca. E os olhos molham, porque ainda conseguem sucumbir ao desrespeito que corta a alma. Para aqueles poucos que escolheram ter um pouco de valor. Ou valores.
Injustiça é dor da alma. Que machuca a honra. Fere a dignidade.
É dor que esse povo não tem.
Ou se tem. Fica escondida no próximo escândalo, na próxima novela que a gente costuma comprar. O circo pelo pão. O pão pelo circo.
É a boca que seca, a garganta que seca. E os olhos molham, porque ainda conseguem sucumbir ao desrespeito que corta a alma. Para aqueles poucos que escolheram ter um pouco de valor. Ou valores.
Injustiça é dor da alma. Que machuca a honra. Fere a dignidade.
É dor que esse povo não tem.
Ou se tem. Fica escondida no próximo escândalo, na próxima novela que a gente costuma comprar. O circo pelo pão. O pão pelo circo.
sexta-feira, abril 14, 2006
Sem forma
A minha natureza é curiosa e insubordinada. Sempre questionando, sempre questionada. Porque preciso dizer o que acho que as palavras podem dizer. E por isso digo. Digo porque não sei ser, quem não posso ser, e se é preciso falar, ainda que não seja interessante dizer, simplesmente não calo. E eu sempre falo.
Porque sou uma tempestade com trovões. Uma verdadeira chuva de verão. E se é preciso molhar: me encharco. Não sei ser garoa. É na constância daqueles pingos finos que justamente me afogo.
É cotidiano que me mata, todo dia um pouquinho. Porque perdi o cabresto dos meus sonhos e não sei mais.
É a rebeldia de quem nunca se adestra. De quem nasceu sem a forma, ou perdeu a bula.
Porque o que eu tenho de doce, é temperado com canela. Acrescente mel, se quiser me entender.
Porque sou uma tempestade com trovões. Uma verdadeira chuva de verão. E se é preciso molhar: me encharco. Não sei ser garoa. É na constância daqueles pingos finos que justamente me afogo.
É cotidiano que me mata, todo dia um pouquinho. Porque perdi o cabresto dos meus sonhos e não sei mais.
É a rebeldia de quem nunca se adestra. De quem nasceu sem a forma, ou perdeu a bula.
Porque o que eu tenho de doce, é temperado com canela. Acrescente mel, se quiser me entender.
quinta-feira, abril 13, 2006
Avenida Paulista, sexta feira, 7 de abril de 2006
"Você vai pagar e é dobrado, cada lágrima rolada nesse meu penar
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia"
(Chico Buarque, "Apesar de você" - trilha sonora de uma demissão devidamente chorada em um ônibus lotado, numa sexta feira injusta)
Apesar de você, amanhã há de ser outro dia"
(Chico Buarque, "Apesar de você" - trilha sonora de uma demissão devidamente chorada em um ônibus lotado, numa sexta feira injusta)
Mais uma vez
Acho que foi assim: bateu de novo o amor na minha porta. Como sempre, com a mesma irreverência, que vinha logo ali, num sorriso azul. Chegou sorrateiro, com um novo contrato de adesão, com cláusula de “não sofrimento”.
Não tive reação mais sincera que não bater a porta. Deixando o amor, ali do outro lado entregue ao vazio da minha raivosa indiferença. E não adiantaria insistir. Dessa vez, ainda que meu coração surdo, ouvisse com tanto zelo suas propostas, não aceitaria as mesmas ilusões em roupas novas. Tranquei a porta.
Voltou logo no outro dia. Tocou a campainha e saiu correndo. Como não vi que se tratava do amor, quando abri a porta para ver quem era, ele entrou sem eu perceber. Instalou-se logo no sofá da sala. Confortável, como um moleque só.
Irritada como só eu estava, enxotei o amor de vez e disse que não mais voltasse. Sob pena de me encontrar em estado de fúria profundo.
Mas o amor pulou o muro. E foi parar direto no meu jardim. Quando me dei conta, no meu jardim seco e esquecido, havia sim uma outra semente, e não pude resistir. Num suspiro de quem entrega os pontos, aliviei e sucumbi. Reguei com carinho, aquilo que só molhei com raiva.
Não tive reação mais sincera que não bater a porta. Deixando o amor, ali do outro lado entregue ao vazio da minha raivosa indiferença. E não adiantaria insistir. Dessa vez, ainda que meu coração surdo, ouvisse com tanto zelo suas propostas, não aceitaria as mesmas ilusões em roupas novas. Tranquei a porta.
Voltou logo no outro dia. Tocou a campainha e saiu correndo. Como não vi que se tratava do amor, quando abri a porta para ver quem era, ele entrou sem eu perceber. Instalou-se logo no sofá da sala. Confortável, como um moleque só.
Irritada como só eu estava, enxotei o amor de vez e disse que não mais voltasse. Sob pena de me encontrar em estado de fúria profundo.
Mas o amor pulou o muro. E foi parar direto no meu jardim. Quando me dei conta, no meu jardim seco e esquecido, havia sim uma outra semente, e não pude resistir. Num suspiro de quem entrega os pontos, aliviei e sucumbi. Reguei com carinho, aquilo que só molhei com raiva.
sábado, abril 01, 2006
(...)
"I know someday you'll have a beautiful life, I know you'll be a star
In somebody else's sky, but why, why, why
Can't it be, can't it be mine"
(Pearl Jam, Black)
In somebody else's sky, but why, why, why
Can't it be, can't it be mine"
(Pearl Jam, Black)
Deixe o menino brincar...
A cada sinal fechado é quase sempre a mesma cena. Realidade incômoda. O medo do assalto, a fragilidade dos nossos sentimentos, a impotência de nossos esforços. A indiferença para a diferença. Nos escondemos atrás dos vidros escurecidos então. Cada vez mais escuros. É melhor não ver. A garganta fecha e o próximo gole de saliva vai ser mais difícil de escorregar. Talvez você compre uma bala, para doar em moedas um futuro para essas crianças sem futuro. Que fazem da faixa de pedestres o novo palco da tristeza. Malabaristas da pobreza humana. A que preço? Das balas mais caras e menos doces que compramos...A cada sinal.
Há quantas os olhos agüentam? Deixe o menino brincar... Por favor, deixe o menino brincar. Brincar.Deixe ele ser palhaço.
Há quantas os olhos agüentam? Deixe o menino brincar... Por favor, deixe o menino brincar. Brincar.Deixe ele ser palhaço.
domingo, março 26, 2006
Sobrenome projeto
Projeto de limão é uma limonada. Projeto de caminho é uma estrada. Projeto de carinho é cafuné. Projeto de colega é amigo. Projeto de amor é paixão. Projeto de alegria é a felicidade. Projeto de mesada é salário. Projeto de sonho é utopia. Projeto de tristeza é depressão. Projeto de poesia é um soneto. Projeto de música é jazz. Projeto de presente é passado.
Projeto de vida ... é só vivendo.
Projeto de vida ... é só vivendo.
Mulheres solteiras
Toda mulher solteira é um pouco bruxa, e, isso logo se percebe nessas mandingas praticadas intensamente nos banheiros públicos femininos. O suave polir das armas da sedução, é um ritual de magia intenso, em que se sacramenta o estratégico ajeitar do sutiã, o retoque minucioso do batom e as milhões de formas de se arrumar o fio de cabelo rebelde, que resistiu a mais quente das chapinhas.
É nesse ritual de magia e beleza, que logo se reconhece o poder e a astúcia dessas sábias feiticeiras que investem nos detalhes o sucesso de uma boa conquista.
E quando se pintam, como verdadeiras guerreiras, escondem o rosto da solidão. Porque toda mulher solteira também é uma menina que pede colo.
Toda mulher solteira é uma geladeira com frutas, legumes, verduras, leite desnatado e alguma promessa de vida saudável industrializada. É uma dieta de segunda feira que acaba na terça, quando se decide, com as amigas, que a pizzaria de sempre é o local do encontro para colocar as fofocas do final de semana em dia. Porque toda mulher solteira é cuidado consigo e promessa do que não foi feito. Toda mulher solteira é conselho.
Toda mulher solteira é um sono espaçoso que dorme de um lado da cama para acordar do outro. Toda mulher solteira é uma escova de dentes única na pia, é um sorriso matinal descabelado que logo surge quando se encontra a tampa da privada no lugar certo.
Toda mulher solteira é um coração pendurado no fio de nylon da esperança. Esperando um grande amor que não vem. E criando cores onde não tem.
Porque toda mulher solteira é um amor imaginado. É um poema romântico sem métrica ou destinatário.
É nesse ritual de magia e beleza, que logo se reconhece o poder e a astúcia dessas sábias feiticeiras que investem nos detalhes o sucesso de uma boa conquista.
E quando se pintam, como verdadeiras guerreiras, escondem o rosto da solidão. Porque toda mulher solteira também é uma menina que pede colo.
Toda mulher solteira é uma geladeira com frutas, legumes, verduras, leite desnatado e alguma promessa de vida saudável industrializada. É uma dieta de segunda feira que acaba na terça, quando se decide, com as amigas, que a pizzaria de sempre é o local do encontro para colocar as fofocas do final de semana em dia. Porque toda mulher solteira é cuidado consigo e promessa do que não foi feito. Toda mulher solteira é conselho.
Toda mulher solteira é um sono espaçoso que dorme de um lado da cama para acordar do outro. Toda mulher solteira é uma escova de dentes única na pia, é um sorriso matinal descabelado que logo surge quando se encontra a tampa da privada no lugar certo.
Toda mulher solteira é um coração pendurado no fio de nylon da esperança. Esperando um grande amor que não vem. E criando cores onde não tem.
Porque toda mulher solteira é um amor imaginado. É um poema romântico sem métrica ou destinatário.
Toda mulher solteira é caminho sem mapa. Remédio sem bula. Segredo e não receita.
Toda mulher solteira é uma organização desorganizada, de quem tem tempo demais para si.
De quem tem tempo suficiente para viver. Sem dar nenhuma satisfação.
Toda mulher solteira é a mística da feminilidade experimentada, que se transcreve na busca por si mesma e na riqueza dos detalhes.
Toda mulher solteira é uma organização desorganizada, de quem tem tempo demais para si.
De quem tem tempo suficiente para viver. Sem dar nenhuma satisfação.
Toda mulher solteira é a mística da feminilidade experimentada, que se transcreve na busca por si mesma e na riqueza dos detalhes.
segunda-feira, março 13, 2006
Depois (ponto final)
" Um amor assim violento, quando torna-se mágoa, é o avesso de um sentimento, oceano sem água"
(uma música do Caetano que esqueci o nome, assim como precisei esquecer e seguir)
(uma música do Caetano que esqueci o nome, assim como precisei esquecer e seguir)
segunda-feira, março 06, 2006
Um grande amor e um grande time
Nasci corinthiana. Por herança de um avô que mal conheci. Dele só me sobraram as histórias e uma curiosidade louca de ter presenciado um pouquinho da sua existência . Meu pai conta que ele era corinthiano fanático, desses de ir ao estádio, acompanhar o time e tudo mais. E por conta dessas histórias que me acostumei a ouvir, não me lembro da existência de outro time, até meu irmão mais novo nascer. Não se sabe por qual descuido genético, o caçula nasceu são paulino. Desses fanáticos, que driblavam a bola e falavam o nome do zagueiro do tricolor. E não havia São Jorge que o transformasse em corinthiano. O caçula é são paulino.Mas, ainda que o entrave futebolístico se instalasse no coração da minha família, continuei corinthiana, mesmo que fosse só para provocar o menorzinho. Só reconheci paixão no time a primeira vez que vi o Viola marcar um gol e dançar no campo. Achei aquilo o máximo, e, motivo maior não existiria para confirmar minha genética. Aprendi a torcer, só para ver ele dançar no campo a cada gol. Virei assim corinthiana por paixão.Na minha casa mulher não gosta de futebol, é quase uma regra. Minha avó conta que o futebol foi a desgraça que impediu minha tia casar. Segundo ela, a paixão da minha tia pelo Guarani afastou uma série de pretendentes. Uma mulher que gostava de futebol naquela época era uma aberração. Por isso ela não casou, embora continue fiel ao Guarani até os dias de hoje.Mas contrariei as expectativas. Nasci corinthiana fazer o quê?Acontece que por um descuido da paixão, me iludi por um novo moço e por um outro time. É um pouco desse zelo que a feminilidade acaba nos legando. Renunciamos um pouco do nosso espaço para cuidar do coração alheio. E como eu sabia que ele quase enfartava com um jogo do São Paulo, pensei em torcer para o time, numa tentativa frustrada de proteger o meu amado de seus ataques histéricos.Mas a paixão acaba e o amor azeda. O moço foi embora, num dia em que eu me irritei com o seu descaso. Levando sua bandeira e um pedaço do meu coração. Ai veio a tristeza atropelando todas as lembranças. Fiquei mais corinthiana do que nunca! Dessas raivosas que deseja ver o time alheio perder. Só pelo sarcasmo do sentimento que move uma paixão decepada. Sim, levantei bandeiras, tirei a camisa do armário e me redimi. Corinthiana de pele. Não mexam comigo! O amor acabou, a raiva passou, precisava resgatar meu lado corinthiana de pequena.Ontem fui ao estádio, me conciliar com meu time. Pedi perdão silenciosamente por ter pensado em abandoná-lo por uma paixão que passou. E logo que a rede chocou com o gol do Nilmar, vibrei junto e saudei com a fiel o “todo poderoso timão”. Gritei, sofri, vibrei e quase chorei com o gol do empate, marcado ao 2 minutos do final. Foi uma zica. Um balde de água fria... Justo na primeira vez que fui ao estádio!Não importa. Sai do Pacaembú corinthiana novamente. De alma lavada e com o sentimento preenchido. Devota do santo guerreiro e do melhor time do Brasil. E sem medo que as premonições da minha avó se confirmem. Talvez a paixão pelo time afaste a paixão por alguns homens e quem sabe meu fim seja o mesmo da minha tia. Não tem problema. Pois um grande time não se troca por um grande amor. Ainda mais quando seu grande amor também é um grande time.
sexta-feira, março 03, 2006
Como matar um escorpião (ou um escorpiano)
Não sei se a natureza é sábia ou irônica. Mas fato é, que no caso do escorpião esta sabedoria ou ironia desafia a lógica das coisas. Senão vejamos. O escorpião é um bichinho bastante pretencioso. Isto porque, ciente daquela enorme pinça presente em sua bunda, ele usa e abusa do veneno letal e poderoso que tem. Não só quando pica, mas principalmente quando ameaça.
Isto faz com que o bicho se ache imponente diante de todas as coisas. Ninguém mexe com um escorpião... E nada mais óbvio, afinal, quem confiaria em alguém que tem o seu maior trunfo, logo ali no rabo?! Típico de escorpianos, que carregam suas armas, também, nas costas.
Mas esse bicho que de tão pretencioso, ficou vaidoso demais, não soube que a natureza lhe guardou uma boa peça. Que faz, na verdade, uma ótima analogia para os devaneios da vaidade.
Então, esse bichinho poderoso e pretencioso, cheio de si, que chega a ter o ego maior do que pode carregar, prova um pouco do seu veneno logo que vê fogo.
Não se sabe ao certo a explicação, mas para matar um escorpião o que se deve fazer é colocá-lo no meio de uma roda de fogo. Acuado, o bicho não suporta a impotência, coisas típicas de quem tem muita vaidade e ego, e prefere provar do seu veneno letal a se ver literalmente queimado. E morre assim, com a sina de covarde. Como um suicida que não enfrenta os problemas da vida. Como alguém que adora o papel de vítima mas não suporta a idéia das pessoas lhe dizerem isso.
Triste sina que a gente vê por aí, reservada a essas pessoas que têm o ego na lua e acabam muitas vezes sendo bastante covardes.
O bicho do teu signo é o escorpião. O elemento do meu signo é o fogo. Tinhamos armas poderosas em nossas palavras. Por óbvio, um entrave escrito nas estrelas. Uma bela briga financiada pelo zodíaco. Mas eu quis colocar fogo, só para provocar o tamanho do teu ego. Chamei-te vítima, só para sentir sua pretensão. Entendi que seu veneno era letal e mataria qualquer sombra de saudade, de boas lembranças. Mas não imaginei que assistiria a sua covardia, assim, de camarote.
quinta-feira, março 02, 2006
Na frente do mar
Placebo para todas as dores da alma, assim é o mar. Ficar olhando horas a fio o vai e vem de tantas ondas faz repensar a vida, faz acalmar a mente, faz experimentar um pouco de paz. Salgado como a mesma água humana que vem das lágrimas, pensei em todas as coisas ali na frente das ondas. E deixei passar. Desprendi. Deixei levar. Precisava viver. As ondas que vem e vão refletem o movimento absurdo da vida, que as vezes é tão difícil de aceitar. E se encarar humano.
Diante de todas as ondas, daquela imensidão azul, fui pequena como realmente sou. Fui um pedaço de projeto, caminhando por rotas que só eu traço, e desfaço, logo que vem a primeira calmaria. Porque sou inquieta e inconstante diante de toda a dinâmica da vida. Por isso me entrego nos sentidos e sou assim, intensidade.
Mas ali, na frente do mar, sou um projeto pequeno diante do infinito de todo esse azul. Precisava entender o que havia de pequeno em mim. Então deixei ir. Para aceitar, o vazio de tudo aquilo que não tem sentido, mas que ganha beleza e força, assim, na frente do mar.
Diante de todas as ondas, daquela imensidão azul, fui pequena como realmente sou. Fui um pedaço de projeto, caminhando por rotas que só eu traço, e desfaço, logo que vem a primeira calmaria. Porque sou inquieta e inconstante diante de toda a dinâmica da vida. Por isso me entrego nos sentidos e sou assim, intensidade.
Mas ali, na frente do mar, sou um projeto pequeno diante do infinito de todo esse azul. Precisava entender o que havia de pequeno em mim. Então deixei ir. Para aceitar, o vazio de tudo aquilo que não tem sentido, mas que ganha beleza e força, assim, na frente do mar.
terça-feira, fevereiro 21, 2006
In the name of love
Não preciso nem confessar que me desfiz em lágrimas depois de ver o Bono tocar “In the name of love (Pride)” e finalizar, ali no telão, com a Convenção Internacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Uma ironia, um tapa na cara, um orgasmo múltiplo de sinapse após um estupro craniano, ou ainda, o que porcamente se descreveria como algo que “até arrepia”. Porque as palavras sempre são insuficientes para descrever um sentimento. Chorei. Chorei pela verdade bruta que escancara aquilo que nós temos de demasiado humano: orgulho. Quantas atrocidades serão justificadas em nome do amor ? Essas atrocidades públicas e particulares que acontecem a todo momento. Bono está certo. Escreveremos leis, convenções, tratados de paz, inventaremos direitos, conceberemos garantias... Mas justificaremos, ainda sim, toda essa barbárie organizada, assistida passivamente e aplacada na nossa impotência, em nome do amor. Quantas crianças serão mutiladas física ou psicologicamente, terão o futuro confiscado, e viverão no silêncio que sobrevem a dor? Essas crianças que andam pelos morros, vestidas de soldados de uma guerra civil explicita, mas que ninguém vê. Essas crianças que páram os sinais das grandes avenidas, sinalizando a triste multiplicação da miséria que continua num futuro sem explicação, sem projetos. Essas crianças tão cheias de direitos, acolhidas em um berço de espinhos chamado FEBEM. Essas crianças que conheceram muito cedo o preço de não poder brincar.Problema que o direito não resolve, porque esse amor, em que todos nós nos justificamos, não será nunca institucionalizado.Em nome do amor, assinamos nosso orgulho, assim, na terceira pessoa, para não dizer que é com a gente, para não ver aquilo que não se quer ver. E quando se vê, tem alguém logo ali, promovendo a miséria do mundo, em meio a luzes muito caras, gritando em boa voz, tudo aquilo que se faz em nome do amor.Obrigada, Sr. Bono.
sábado, fevereiro 18, 2006
Amigos
É quase um céu cheio de estrelas onde não importam as noites nubladas, porque quando se vê, é quase como se sempre estivessem ali. E não importa quanto o tempo passe ou as despedidas. O reencontro é sempre como se fosse ontem... Então deixa ir. Porque o melhor é sempre ver voltar. E ainda que se tenha mudado tanto, nada mudou, no mesmo abraço. E na mesma cerveja, em que agente divide um pouco da vida. São momentos raros, que preenchem as melhores lembranças. Na mesma caixa de bombons, divida justamente, com algumas lágrimas, daquilo que um dia machucou. São os melhores ombros, quando o mundo fica dificil demais.Pesado demais. São um céu de estrelas, que ainda que não se veja em noites nubladas, nos iluminam e nos guiam. Para respirar fundo e poder ser aquilo que a gente realmente é. E sempre raros... seletos e raros.
sábado, fevereiro 11, 2006
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Quem tem medo do fórum?
Não faz tanto tempo assim quando me dei conta de que nada seria tão dificil na minha vida quanto compreender um fórum. Foi lá que tive todas as minhas crises jurídicas de forma mais veemente. Foi lá, pela primeira vez, que a questão que percorre o íntimo do meu ser, se manifestou de forma cáustica, acidental e expressa: porque diabos você foi fazer direito?!Já chorei no fórum, já briguei no cartório do fórum, aprendi a odiar a magistratura no fórum, ganhei imensas e doloridas bolhas no pé andando pelo fórum. E aprendi, da forma mais lúdica possível, o que significa o verbete "asco" logo que entrei, pela primeira vez no fórum. Foi um conceito logo compreendido, quando aquele cartorário gordo, mal humorado e seboso perguntou : "o que você quer doutorinha?!". Engoli a seco. Eram tantos sapos que, no fórum, meu estômago já virou brejo.No final do segunda ano da faculdade, quando iniciei a minha árdua trilha como estagiária, logo entendi que o fórum seria um campo de batalhas e, aos poucos, teria que aprender onde é que ficavam as trincheiras daquele lugar . E apanhei viu... e como!Me lembro que no segundo ano, tudo aquilo parecia um livro de Kafka ao vivo. Coisa que só compreendi, um ano depois quando li "O processo". Eu ia para lá saber do processo e quanto mais procurava saber, menos eu entendia. Maldita hora que fui ser mexeriqueira e aprendi que no fórum as poucas palavras sempre compensam mais.Foi a primeira lição. Com o tempo e os ensinamentos de processo civil, entendi que quanto mais objetivo o fórum for, menos dolorido ele é. Isto significa ir atrás do que você quer e ignorar as pequenas vicissitudes que habitam aquele lugar, quais sejam, os gracejos infelizes de advogados metidos a sabichões, cartorários que pesem toneladas ou ainda juizes que precisam de uma lei da boa educação para entender que ela não é só uma ficção jurídica. Não é fácil, mas é compensador. Saber o que se passa no processo e requisitar informações profissionalmente é a melhor trincheira dentro desse campo de batalha. Ajuda a sair com elegância de todos os obstáculos já citados, bem como, acaba por cativar os minutos do relógio, que costumam render mais quando não se preocupa com o inútil.Outra boa lição foi usar tênis para caminhar por lá. Nada mais "old fashion" e libertador do que vestir o bom e amigo par de tênis junto ao seu mais belo terninho. Estagiário é quase um atleta e nada mais ridículo do que andar fantasiado o dia inteiro a troco de um salário de merda e algumas bolhas no pé. Abaixo a ditadura da fantasia das roupas sociais! Havaianas no fórum...Afinal, o elevador tem grande probabilidade de quebrar e o número de bolhas duplica se você tiver que subir as escadas a pé.As lições dentro do fórum sempre foram as mais difíceis. Mas foram também aquelas que me colocaram a frente da profissão e me deram coragem e esperança de reinventá-la.As desilusões ali foram todas, mas a cada dia sobrevivido, acredito que fiquei um pouco mais forte, um pouco menos piegas, um pouco menos poeta, um pouco mais real. Amadureci e envelheci anos naquele lugar. Mandei a justiça a merda, fiz discursos imensos, ainda que no intimo, sobre toda a morosidade do judiciário.Foi triste, mas foi real.E para todas as desilusões, sempre resta o conforto de que "viver é melhor que sonhar".Quem tem medo do fórum? Só quem tem medo de encarar, que aquela realidade de justiça, é um entrave e uma batalha para nossos mais profundos ideais de justiça e para a realidade da nossa profissão.Tem medo de fórum quem busca a justiça nos livros e se esquece de que ela esta bem ali, entruncada num amontoado de processos, empilhada neste insalubre habitat chamado fórum, esperando um pouco mais de vontade e de profissionalismo de todos aqueles que por ali passam, diariamente.
terça-feira, janeiro 31, 2006
São Paulo
Essa cidade vai te ensinar muito cedo que, por aqui, nada é de graça. E vai te ensinar o preço de viver sem ser de graça, que custa um pouco desse suor agonizante de quem tem pressa, de quem precisa vencer. E vai te fazer crescer e aprender, com essa dinâmica atônita e fugaz. Você vai ficar um pouco menos cru. Nessa cidade, se aprende logo no primeiro olhar, que a vida é dura, para quem nada tem. E de toda desigualdade, que fica em cada esquina, você vai levar um olhar mais áspero e indiferente, que de repente, se desfaz na poesia que acende junto a tantas luzes. Em meio a tantos prédios. Que vão lhe ensinar a ser pequeno. Ou ainda do tamanho que você realmente tem. Essa cidade vai te ensinar como ninguém a ser do tamanho dos seus sonhos. E, aos poucos, em meio ao caos instalado por aqui, você vai aprender a amá-la, incondicionalmente, com velocidade de seu trânsito estático.Vai conviver com o luxo e o lixo. Vai celebrar a cultura e a aventura de morar em um lugar, de tantos lugares. Um mundo com tantos mundos. Que se subverte em avenidas largas e no som estridente do metrô chegando. E nesse cinza de tantos tons, que doam chuvas e dias nublados, você vai entender que ao anoitecer, todas essas luzes e torres substituem as estrelas que nunca vem. E você vai aprender amar São Paulo, incondicionalmente.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Aquilo que incomoda por dentro
Acordei. Pensei duas vezes no que faria. Tinha centenas de estratégias para os minutos passarem rápido. Mas a preguiça era tanta que a forma mais fácil, de acelerar o relógio do tempo, era virar para o lado e dormir mais um pouco. Acordar tarde, como toda pessoa que precisa de férias poderia fazer. Cultuar meu lado inútil, esquecendo na insensatez o terrível significado dessa quase doença: improdutividade. Santa improdutividade! Rolar na cama. Ver o tempo passar e não ter nenhuma conclusão sobre o que é, o que pode ser ou o que será. Mas levantei. Levantei para correr . É minha maneira lúdica de escorrer no mesmo suor aquilo que incomoda.Fiz meu almoço, que queimou. Perdi a fome. Coloquei uma música triste no ônibus e procurei um ponto bonito na paisagem. Essa mesma paisagem que passeia pelos meus olhos diariamente.Solidão foi inevitável. Um pouco de melancolia, que marejava os pequenos olhos. Sem entender muito essa condição de as vezes ter tanto e se sentir sem nada, segui.A minha tristeza é a minha admiração nas pequenas coisas da vida. Me apego aos detalhes e depois que as coisas vão é difícil transformá-los em lembrança. A saudade sempre fica nessas pequenas coisas. Nos menores trejeitos do olhar de uma pessoa. No timbre da voz. Que não ecoa nessa realidade vazia. O que eu tenho agora senão saudades? Saudades do que foi, ou saudades do que não vai voltar. E me apego a outras pequenas coisas então. Como a paisagem diária do ônibus. Que um dia também sentirei saudades. Nessa eterna saga de viver e deixar viver. Para depois ir.Me entrego na ausência de você, que habita um micro cosmo do meu dia. E sinto saudades do seu jeito.É aquilo que incomoda por dentro. E não sei dizer.
quarta-feira, janeiro 18, 2006
Sem razões ao amanhecer
Tudo bem, eu confesso: foi uma crise, ou melhor, uma tormenta de pensamentos mal humorados no ínicio da manhã. Mas quem não acordaria assim se não estivesse amarrotado no ônibus? As vezes essa situação me irrita profundamente. Porque tenho o azar de andar com papéis para cima e para baixo e sempre, mas sempre mesmo, alguém me abalroa... Sim, porque não é uma simples trombada ou um empurrão que se ganha as 8:30 da manhã. É um literal, visceral e inoportuno abalroamento. Isso sem contar esses sapatos que a profissão me exige, que costumam ser um pneu careca em dia de chuva. Definitivamente, é um abalroamento matinal traumático.
Olhei tantos carros pela janela, mas não vi o meu. Porque não tinha. Mas as janelas comportam boas inspirações. É bom ver São Paulo amanhecendo apressada.
Olhei o ônibus lotado, olhei os carros vazios... Isso sim é uma incógnita. Porque raios os carros que cabem 5 pessoas, levam somente uma para o trabalho?
E aquela fiiiiiiiiiillllllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaaa que não acaba mais, combinada ao asfalto que timidamente começava a ferver.
Abarrotada e abalroada no ônibus, então, penso... "ainda vou perder muita vida no meio desse trânsito". Talvez seja o preço de tanta individualidade. Ou talvez, estar ali cultuando o meu próprio individualismo, conduzindo meu EU e somente EU, quando até cabia um NÓS, seria assim o santo remédio que me livraria dos abalroamentos individuais.
E não praguejei mais os motoristas que se tornavam maiores do que eram e levavam a si próprios em seus carros que comportavam mais pessoas.
Mas entristeci, ao notificar minha inquieta consciência, que nada vai mudar e todos nós perderemos um pouco de nossas vidas, irritados no trânsito, todos os dias, ao amanhecer.
Olhei tantos carros pela janela, mas não vi o meu. Porque não tinha. Mas as janelas comportam boas inspirações. É bom ver São Paulo amanhecendo apressada.
Olhei o ônibus lotado, olhei os carros vazios... Isso sim é uma incógnita. Porque raios os carros que cabem 5 pessoas, levam somente uma para o trabalho?
E aquela fiiiiiiiiiillllllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaaa que não acaba mais, combinada ao asfalto que timidamente começava a ferver.
Abarrotada e abalroada no ônibus, então, penso... "ainda vou perder muita vida no meio desse trânsito". Talvez seja o preço de tanta individualidade. Ou talvez, estar ali cultuando o meu próprio individualismo, conduzindo meu EU e somente EU, quando até cabia um NÓS, seria assim o santo remédio que me livraria dos abalroamentos individuais.
E não praguejei mais os motoristas que se tornavam maiores do que eram e levavam a si próprios em seus carros que comportavam mais pessoas.
Mas entristeci, ao notificar minha inquieta consciência, que nada vai mudar e todos nós perderemos um pouco de nossas vidas, irritados no trânsito, todos os dias, ao amanhecer.
terça-feira, janeiro 17, 2006
Futilidades
Eu não acompanho o Big Brother, não sei o que está acontecendo na novela, não entendo de cremes de cabelo e nem de tipos de celulite, nunca ouvi um psytrance, não insiro mais do que quatro "tipo" em uma frase... Tipo eu, tipo tu, tipo eles...Não assinei a "Caras" desse mês e pior, nem consegui ler ela na sala de espera do dentista...Não sei quem casou, não sei quem separou, nem tampouco quem engravidou...Não me ligo nas cores do esmalte e não entendo de futebol. Não coloquei silicone, não finjo orgasmo, não sei quantos centímetros são necessários para encontrar um verdadeiro objeto sexual.Não fiz escova definitiva. Não entendo de marcas, não entendo de preços e não fiz um altar para a minha própria bunda... Sequer coloquei a na apólice do seguro!
Não sei cantar chiclete. Não vou à micaretas.
Não cultuo sapatos e nem bolsas.
Caramba! Eu sou fútil mesmo.
Não sei cantar chiclete. Não vou à micaretas.
Não cultuo sapatos e nem bolsas.
Caramba! Eu sou fútil mesmo.
segunda-feira, janeiro 16, 2006
Feliz era minha avó...
Feliz era a minha avó que pegava na mão e sabia que estava namorando. Quando beijou pela primeira vez, era sinal de amor. E, finalmente, quando foi para cama com o fulano, tinha se convencido de que poderia se entregar sem pensar no que "ele iria achar"...
As vezes penso que essa liberdade feminina contemporânea devia vir com manual, afinal nesses tempos onde os minutos significam tanto, as vezes as coisas perdem o sentido. Como a conquista por exemplo...
Amar se aprende amando e isso não é coisa só pra poeta.
Sem falsos moralismos, também fiz as coisas que as "mulheres modernas" fazem e depois entrei em verdadeiros marasmos existenciais. Por isso repito: amar se aprende amando e todo aprendizado precisa de tempo. Um tempo que se sobressai aos segundos...
E por isso feliz era minha avó. Que provavelmente esperou o tempo acontecer e não acreditou que em três meses se construia um grande amor. Não acreditou que aquele fulaninho que ela conheceu numa balada, amigo do amigo e coisa e tal, era um projeto de grande amor e ficou ali, acreditando em tantas palavras.
Minha avó, certamente depois de ter se entregado, tinha um relacionamento com atitudes um tanto mais sólidas, ainda que ditadas por dogmas sociais. E se um dia acabou, ela não pode se auto julgar perguntando se havia feito certo ou errado.
Feliz era a minha avó que não acreditou naquele otário, que entrou na sua casa e na sua vida, disse que te amava, mas não pode ficar. Porque ele sempre ia.
Agora fica ai, procurando entender todos os porquês.
Bem feito. Quem sabe da proxima vez tu não se guia pelos sinais alheios e compreende que amar se aprende amando e deixa o tempo acontecer. Sem erros ou acertos.
E quando doer, deixa doer tranquilamente e não se entrega a correria do dia para ver tudo passar.
Há quem endurecer sem perder a ternura.
Porém, feliz era minha avó...
As vezes penso que essa liberdade feminina contemporânea devia vir com manual, afinal nesses tempos onde os minutos significam tanto, as vezes as coisas perdem o sentido. Como a conquista por exemplo...
Amar se aprende amando e isso não é coisa só pra poeta.
Sem falsos moralismos, também fiz as coisas que as "mulheres modernas" fazem e depois entrei em verdadeiros marasmos existenciais. Por isso repito: amar se aprende amando e todo aprendizado precisa de tempo. Um tempo que se sobressai aos segundos...
E por isso feliz era minha avó. Que provavelmente esperou o tempo acontecer e não acreditou que em três meses se construia um grande amor. Não acreditou que aquele fulaninho que ela conheceu numa balada, amigo do amigo e coisa e tal, era um projeto de grande amor e ficou ali, acreditando em tantas palavras.
Minha avó, certamente depois de ter se entregado, tinha um relacionamento com atitudes um tanto mais sólidas, ainda que ditadas por dogmas sociais. E se um dia acabou, ela não pode se auto julgar perguntando se havia feito certo ou errado.
Feliz era a minha avó que não acreditou naquele otário, que entrou na sua casa e na sua vida, disse que te amava, mas não pode ficar. Porque ele sempre ia.
Agora fica ai, procurando entender todos os porquês.
Bem feito. Quem sabe da proxima vez tu não se guia pelos sinais alheios e compreende que amar se aprende amando e deixa o tempo acontecer. Sem erros ou acertos.
E quando doer, deixa doer tranquilamente e não se entrega a correria do dia para ver tudo passar.
Há quem endurecer sem perder a ternura.
Porém, feliz era minha avó...
sábado, janeiro 14, 2006
Dançar
É tanto movimento que não dá para explicar, a leveza que me invade numa noite de lua cheia. Gosto de sentir meu corpo girando sobre as pernas, como se eu tivesse apenas um umbigo. Sou leve assim... com todas as gotas de suor! Eu não quero parar de rodar, por todo esse salão, sou passos e braços e pernas em um movimento que é um sentimento do que é inquieto e flutuante. Não tire a música porque hoje eu quero cansar. Hoje eu quero dançar. Dormir em estado de calamidade pública, em nome de toda a fadiga das minhas pernas. Hoje quando eu fechar os olhos, eu quero estar exausta de tanto rodar... é meu jeito de esquecer, de embriagar e de sentir viver. De novo.
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Triste
A solidão comporta o vagar dos passos. Em ir e vir do trabalho, sem se encontrar. Não entendo o que a vida me diz. Só ando para lá e para cá. Estou exausta de sentir. Estou exausta da minha verve em viver. Do tamanho dos meus sonhos. Porque raios eu fiquei assim? Mais quixote do que gente. Um coração partido, que vaga no meio da avenida paulista. Sem respostas. São todas questões... eu estou cansada e triste...
sábado, janeiro 07, 2006
Sobre os cacos
Levantei. Para juntar os cacos, separar os pronomes: o eu, o tu, o nós. Tive que jogar certas coisas. Guardar os bons momentos em um lugar escondido, qualquer. Na tentativa de escapar da saudade e deixar que tudo se torne lembrança. Havia muita coisa estilhaçada, muita dor ali parada e uma vontade imensa de correr, deixar tudo onde estava, ir para vida, ou para um bar qualquer, eu precisava dançar... Dançar a vida! Viver todos os minutos da vida e não deixar doer. Foi inevitável... No primeiro jazz e já vieram milhões de lágrimas. Que ali só podiam lavar a alma. E que feridas o amor não deixa, assim quando não dá certo? Eram tempos de doer... queria correr para qualquer lugar e para lugar nenhum. Queria avançar os minutos do relógio para bem longe dali. Queria ir... somente ir, sabe se lá para qual lugar...Queria saber o que fazer, com esses cacos, agora...
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