As perguntas nunca calam quando o assunto é o sofrimento ou a indignação, que às vezes trago nas minhas palavras, nessa estranha brincadeira que faço: a minha própria verborragia relatada. E não me sinto dissecada, numa mesa de anatomia, quando falo de uma tristeza ou de algo que me perturba o sono ou a alma. Não me incomoda a incidência da primeira pessoa no verbo, ainda que o verbo seja “doer”. Embora em nenhum momento eu escape ao crivo dos meus amigos ou daqueles que me conhecem. Muita gente me pergunta: Porque raios publicar um sofrimento que poderia ficar ali, guardado em uma pasta do seu Word? Como se a leitura daquilo que eu escrevo fosse algo compulsório. Muita gente entende que descrever a tristeza e publicar num blog é uma espécie de sado-masoquismo para um voyeur virtual desconhecido, ou, trocando em miúdos, uma exposição desnecessária.
Num mundo onde se compra felicidade em um comprimido de Prozac, não me estranha que as pessoas se acostumem a condenar a falta da felicidade alheia. Num país cujo analfabetismo funcional seja em percentuais tão absurdos, também não me causa espanto que o fato de gostar de escrever, ainda mais sobre a tristeza, seja considerado uma patologia das mais crônicas, das mais graves. Praticamente sintomas de uma depressiva em potencial, ou quem sabe, de uma síndrome ainda inexplorada pela psiquiatria.
Porque relatar um pedaço da tristeza é renunciar um pouco dessa felicidade que todos nós compramos nas propagandas de margarina, e tentamos fazer dela um pouco a nossa existência. Pois bem, eu abdiquei do meu compromisso de ser feliz nas minhas palavras e me sinto à vontade para descrever esse sentimento tão condenável que é a tristeza. Simplesmente o faço sem nenhuma culpa, desnudo e sincero, na primeira pessoa. Porque se tivesse um pincel e aprendesse a pintar, pintaria um quadro. Se tivesse um violão e aprendesse a tocar, faria uma música. Mas aprendi com as palavras a fazer a minha estranha arte, que é tão direta e crua e às vezes toca a sensibilidade de um leitor mais desprotegido da sua pretensa obrigação de ser feliz. Mas logo em seguida, lhe vem a reação não menos humana, de condenar: afinal é melhor ser alegre que ser triste.
Tenho certo que a alegria caricata, que é tão típica do palhaço, se fizesse parte das minhas palavras, nunca seria real e me pouparia muitas linhas. A alegria a gente tem vivendo e não descrevendo. A tristeza não. A tristeza busca a complexidade das palavras, faz a dança dos verbos, sujeitos e a adjetivos se tornar humana. Porque a tristeza precisa de compreensão e não do esquecimento. É certo que como diz o mestre das palavras, que para mim é Carlos Drummond de Andrade, que a dor é inevitável o sofrimento é opcional. Mas é certo também que falar de tristeza não é necessariamente sofrer incondicionalmente. É , ao menos na minha estranha dinâmica, meu jeito de expressar e de interagir, de não deixar a tristeza cair no esquecimento.
Mas não escondo que gosto daquela melancolia de final de domingo, daquela tristeza que sobrevêm com a ressaca, da mágoa explicita no fundo do copo de cerveja, da ferida aberta dos meus desamores dissecados. Porque o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.
E um bom samba, um bom jazz e um bom texto se fazem sim com um bocado de tristeza!
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Um comentário:
Tomara que vc não saiba o que é depressão.
E desde que vc não vote no Lula, eu te perdôo.
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