Era o começo de uma noite
extremamente quente. As luzes, todas, que iluminavam a avenida, deixavam-na com
um aspecto de um forno elétrico onde fervilhavam milhares de pessoas. Milhares de famílias felizes que vinham ali,
nesta época do ano, admirar os enfeites coloridos e brilhantes da Avenida
Paulista.
Quando atravessou, com o chinelo
maior que os pés e o short maior que o corpo, não me surpreendeu. Afinal, são
comuns esses meninos que engraxam sapatos por lá. Cor da pele preta, camisa surrada
e no lugar do caixote, trazia inúmeros enfeites piscantes pendurados junto ao
corpo, desses vendem aos montes na Rua Vinte Cinco de Março. Gritava qualquer
coisa, oferecendo seus produtos a um preço mísero. Fazia paisagem, o pequeno
menino piscante.
Quando o sinal fechou e a família
toda atravessou. A filha segurava a mão da mãe. O filho vinha agarrado ao pai.
Máquina fotográfica em punho e todos sorrindo, maravilhados diante dos ursos
enormes que cantarolavam “Merry Christmas” diante dos incontáveis prédios
daquele paraíso artificial.
A atenção do menino junto ao pai
então se desviou para o outro menino. Aquele que piscava e oferecia as
luzinhas. Ele então apontou e na sequencia olhou o pai, com olhos redondos de
menino. O outro, se aproximou piscante, até que de modo sorrateiro. Parou de
gritar os preços e com olhos redondos, também olhou o pai.
O pai, coagido pelo inferno do
consumo em uma noite quente feito aquela, tentou ignorar. Mas o filho,
insistentemente puxou-lhe a blusa dizendo imperativo “eu quero”. O outro, que
não podia cometer tal insistência permaneceu parado e estendeu ao pai um bastão
colorido que brilhava. O pai ficou sem
jeito e ralhou com o filho, que por sua vez, baixou os olhos inconsoláveis. O
menino recolheu o bastão colorido rapidamente e da mesma forma baixou os olhos
inconsoláveis.
Peguei a carteira em um ato
desesperado. Queria comprar o bastão colorido de um e entregar ao outro, a
força mesmo. Sem a razão da paternidade. Mas a família feliz sumiu diante da
multidão e o menino com seus bastões coloridos não demorou a voltar a gritar
seus preços.
Olhei os olhos do papai noel
gigante. Estáticos, vítreos, como o de uma estátua deveria ser. Pensei se
poderia olhar. E se pudesse ver, o que faria? Porque eram olhos iguais, de
meninos que não deveriam ser diferentes. Me perguntei se haveria outro jeito de
desejar feliz natal.
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