Odeio hippies. Por uma razão muito óbvia: eles consomem a nossa carência de liberdade. E isso me irrita. Profundamente.
É um clichê de férias: você com cara de turista, ele com uma bandeja de brincos de arame. Você fazendo de tudo para se sentir de férias. Ele rindo da sua cara como se vivesse eternamente de férias.
Então ele se aproxima, conta histórias fascinantes de quem já rodou o mundo, enquanto você sabe que morria na frente de um computador. Você se comove e leva os brincos. Para se sentir mais liberta e depois abandoná-los em algum lugar da mala.
Até que um dia, quando você estiver muito puta com a lei da mais valia, vai se lembrar do sujeito, vai se lembrar das tais histórias e vai se perguntar se felicidade não é aquilo que se vende junto dos cocos da praia ou nas bandejas de brincos de arame.
Quanta vida é desperdiçada enquanto o trabalho nos consome?
Odeio hippies. Eles são um calo na minha excitação em relação ao mundo corporativo.
Mas obviamente sem saber disso, Mathias se aproximou. Trazendo sua bandeja de brincos de arame, ele vestia um chapéu que me lembrava um duende e possuía olhos espetaculares, azuis e bem firmes. Tentei desviar a atenção, mas ele foi mais insistente. Conseguiu que eu desse um sorriso para que então ele se aproximasse.
- Você enxerga bem? – Ele me perguntou isso com um sotaque bem carregado.
- De onde você é? – retruquei.
- Sou alemão. Mas não gosto disso. Estou no mundo há muito tempo.
- Jura? O que você está fazendo aqui?
- Fugi da Alemanha. Você enxerga bem?
- Como você chama?
- Mathias.
- Você não sente saudades da Alemanha? Eu adoraria morar lá.
Ele permaneceu em silêncio.
Percebi por uma razão estranha que aquela reação ríspida era fruto de alguma ferida, da qual Mathias preferia silenciar. Enquanto eu o bombardeava com perguntas que respingavam meu ódio pelos hippies, ele pegou um pedaço de arame e um alicate bem fino.
- Você enxerga bem?
- Não sou míope.
- Então toma.
Enquanto se esquivava de minhas perguntas, Mathias confeccionava com muita habilidade um objeto de arame. Tratava-se de um óculos em miniatura, para ser pendurado na ponta do nariz.
- Vou continuar sem enxergar nada com esses óculos tão pequenos. – Eu disse.
- Se não souber ver o que é pequeno, não vai saber o que é beleza.
- Você me deu esses óculos para ver seus brincos, certo?
Mathias riu.
- Não. Te dei esses óculos para você ver o mundo. Os brincos eu só queria te mostrar.
- Desculpa, estou sem dinheiro.
- Tudo bem. Obrigado. A gente se encontra.
Mathias partiu. E eu permaneci com os pequenos óculos na ponta do nariz. Odiando os hippies.
Hippies sabem que toda liberdade tem um preço. Mas a beleza não.
Desperdiçamos muita vida na frente dos computadores nos esquecendo disso.
É um clichê de férias: você com cara de turista, ele com uma bandeja de brincos de arame. Você fazendo de tudo para se sentir de férias. Ele rindo da sua cara como se vivesse eternamente de férias.
Então ele se aproxima, conta histórias fascinantes de quem já rodou o mundo, enquanto você sabe que morria na frente de um computador. Você se comove e leva os brincos. Para se sentir mais liberta e depois abandoná-los em algum lugar da mala.
Até que um dia, quando você estiver muito puta com a lei da mais valia, vai se lembrar do sujeito, vai se lembrar das tais histórias e vai se perguntar se felicidade não é aquilo que se vende junto dos cocos da praia ou nas bandejas de brincos de arame.
Quanta vida é desperdiçada enquanto o trabalho nos consome?
Odeio hippies. Eles são um calo na minha excitação em relação ao mundo corporativo.
Mas obviamente sem saber disso, Mathias se aproximou. Trazendo sua bandeja de brincos de arame, ele vestia um chapéu que me lembrava um duende e possuía olhos espetaculares, azuis e bem firmes. Tentei desviar a atenção, mas ele foi mais insistente. Conseguiu que eu desse um sorriso para que então ele se aproximasse.
- Você enxerga bem? – Ele me perguntou isso com um sotaque bem carregado.
- De onde você é? – retruquei.
- Sou alemão. Mas não gosto disso. Estou no mundo há muito tempo.
- Jura? O que você está fazendo aqui?
- Fugi da Alemanha. Você enxerga bem?
- Como você chama?
- Mathias.
- Você não sente saudades da Alemanha? Eu adoraria morar lá.
Ele permaneceu em silêncio.
Percebi por uma razão estranha que aquela reação ríspida era fruto de alguma ferida, da qual Mathias preferia silenciar. Enquanto eu o bombardeava com perguntas que respingavam meu ódio pelos hippies, ele pegou um pedaço de arame e um alicate bem fino.
- Você enxerga bem?
- Não sou míope.
- Então toma.
Enquanto se esquivava de minhas perguntas, Mathias confeccionava com muita habilidade um objeto de arame. Tratava-se de um óculos em miniatura, para ser pendurado na ponta do nariz.
- Vou continuar sem enxergar nada com esses óculos tão pequenos. – Eu disse.
- Se não souber ver o que é pequeno, não vai saber o que é beleza.
- Você me deu esses óculos para ver seus brincos, certo?
Mathias riu.
- Não. Te dei esses óculos para você ver o mundo. Os brincos eu só queria te mostrar.
- Desculpa, estou sem dinheiro.
- Tudo bem. Obrigado. A gente se encontra.
Mathias partiu. E eu permaneci com os pequenos óculos na ponta do nariz. Odiando os hippies.
Hippies sabem que toda liberdade tem um preço. Mas a beleza não.
Desperdiçamos muita vida na frente dos computadores nos esquecendo disso.
Um comentário:
Ripongô de vez, fia?
Mais valia?
Que o desodorante te seja leve.
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