quinta-feira, maio 18, 2006

15.05.2006

Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem nada. Toda forma de poder é uma forma de morrer por nada. Toda forma de conduta se transforma numa luta armada. Numa cruzada. Se tudo passa. Talvez você passe por aqui e me faça esquecer tudo o que eu vi. É fácil ir adiante, esquecer que a coisa toda ta errada. A história se repete, mas a força deixa a história mal contada (inacabada).
(Toda forma de poder - Engenheiros do Hawai)

Violência

Essa cidade que dormiu no colo do medo acordou em pânico quando se deu conta de que não havia ônibus para trabalhar. E seu ritmo febricitante, agonizado no andar apressado das suas ruas, substituiu uma paisagem de abandono. No dia em que todos nós mitigamos nossa liberdade no transito que não andou. No dia em que o medo assumiu todas as formas de poder, e andávamos acuados sem armas e sem proteção. E aquele Estado Paralelo que tanto se falava, rompia suas fronteiras, no dia em que todos nos fomos mais cedo para casa. Compulsoriamente.
E a violência da sua força bruta, que transparece nesses prédios gigantes, foi substituída pela violência do silêncio. Silêncio do corpo frio que experimentou a terra com o coração dilacerado a balas. Eram lágrimas. Dos mocinhos e dos bandidos. Que somos todos nós. Cúmplices.
No dia em que o abismo social se tornou tão raso, que não podíamos nos afundar mais em nossa hipocrisia. Experimentamos o medo e uma cidade vazia.

segunda-feira, maio 15, 2006

Porque decepei a língua portuguesa (errata)

Bom, embora a manifestações dos leitores desse blog seja tão silenciosa, venho por meio desta, publicar uma singela errata em relação ao meu erro crasso de português. Enfim, na ultima postagem no lugar de "guilhotina", escrevi "gliotina" e acabei, por assim dizer, decepando não só o coração bobo, mas também a língua portuguesa.
Contudo, Professor Pasquale já fez uma visita emergencial a Helgolândia e tudo encontra-se devidamente corrigido.
Em nota oficial, Cinderhelga declarou que vem se desentendendo com a língua portuguesa, por motivos de falta de concentração: "sabe o que é, ando falando demais a língua do P (...)". Conteúdos misteriosos a parte, encontra-se salva a "guilhotina" da língua portuguesa...

domingo, maio 07, 2006

A guilhotina

Num dia de trovoadas na Helgolândia...

Cinderhelga: Senhor Bobo da Corte? Pode me fazer um favor?!
Bobo da Corte: Como não minha princesa? O que desejas?
Cinder: Chame o Sr. Coração, temos preparativos a serem realizados: uma nova revolução se aproxima da Helgolândia...
Bobo: Revolução?!
Cinder: Sim, quero inaugurar um “brejo de príncipes” aqui.
Bobo: Mas brejos são para sapos!
Cinder: Por isso que você é bobo! É uma revolução em todos os conceitos da Helgolândia! Até hoje brejos eram para sapos. Mas levando em consideração as nossas estatísticas que demonstram que 99% dos príncipes beijados se tornaram sapos com uma velocidade descomunal, inauguraremos um brejo de príncipes.
Bobo: Mas o que o Coração tem a ver com essa sua idéia maluca?
Cinder: Na verdade, ao lado do “brejo de príncipes” vou inaugurar a “guilhotina das ilusões”. E, para fazer o teste da lâmina, chamarei o Coração.
Bobo: Você esta completamente doida! O teste da guilhotina vai matar o meu melhor amigo e eu não posso colaborar com essa sua idéia...
Cinder: Às vezes você é menos bobo do que eu imagino. Um Coração bobo e um Bobo da Corte só poderiam ser melhores amigos, sempre soube... Mas decepando um Coração, perdemos todas as ilusões. E a Helgolândia será “tranqüila para sempre”.
Bobo: Mas o plano não era “ser feliz para sempre” ? Porque você quer acabar com as ilusões? Não eram elas as responsáveis pelos dias de sol da Helgolândia?
Cinder: Não, elas eram responsáveis por um dia de sol, e uma semana de trovoadas posteriores...
Bobo: Mas porque o Coração tem que ser decepado em nome das ilusões?
Cinder: Para um Bobo parece que se tem que explicar tudo mesmo...Você sabe que além de ser seu melhor amigo, ele adora andar ao lado das ilusões. É só aparecer alguma ilusão que você e esse seu amigo Coração ficam lá feito bobos.
Bobo: Mas eu sou um bobo, nada mais natural...
Cinder: Mas vocês já deram trabalho demais com tantas ilusões e desse jeito eu nunca consigo colocar ordem nesse reino. É só estar tudo tranqüilo na Helgolândia, não demora muito, temos mais um sapo no lugar de um príncipe e por culpa de quem? Das ilusões e do Coração, que faz o favor de deixar que elas entrem na Helgolândia sem nenhuma objeção.
(De repente aparece o Coração no hall do Castelo principal da Helgolândia)
Coração: Vossa Alteza!? Quais as novidades do reino?
Cinder: Tenho uma ótima para você... Inauguraremos dentro de semanas uma “Guilhotina de ilusões” aqui na Helgolândia e você será o nosso teste da lâmina...
O Coração trocou olhares com o Bobo sem entender muita coisa...
Coração: Vai me decepar porque?
Cinder: Para ver se as ilusões não aparecem mais por aqui...Cansei das confusões que vocês aprontam.
Coração: Eu te falei Bobo... Depois que ela colocou o Medo como conselheiro-mor da Helgolândia, iriam acontecer coisas terríveis por aqui...
Cinder: Eu sabia que vocês não gostavam do Medo. Nunca se deram com ele, não? Mas fiquem vocês dois sabendo que o Medo possui uma das melhores qualidades para um conselheiro-mor: a prudência. Aliás, prudência que você e nem esse Bobo tiveram durante muito tempo aqui na Helgolândia...
Coração: Quer saber? Pode me decepar...
Bobo: Você esta louco?! Pronto... Eu que sou o bobo e todo mundo querendo ser mais bobo do que eu... Não suporto mais essa concorrência!
Cinder: É bom que não questione a minha autoridade...
Coração: Eu quero mesmo que você me decepe. Para perceber que não é acabando com um Coração que as ilusões vão embora. Diga-se de passagem, quem gosta mesmo de ilusões é o seu conselheiro-mor e prudente chamado Medo e não eu. São as medidas tomadas pelo Medo, princesa, que te impedem de enxergar a realidade e acabam inundando esse reino de ilusões. Mas faz o que você quiser, Senhorita Autoridade. Eu posso ter lhe causado muitas confusões sim, mas porque decidir viver como foi possível viver. Muitas vezes eu me machuquei, tive retiros imensos na Torre do Tempo, me senti cansado e esfolado. Mas quer saber? Eu não faria nada diferente. Muitas vezes eu estou tranqüilo com o Bobo, divertindo a Helgolândia... Se o amor chega, com ilusões ou não, se ele me apresenta príncipes fantasiados de sapos, se ele me traz dias de angustia por telefonemas que não chegam, se ele me traz dias tristes porque a saudade vem... Eu simplesmente decidi viver, porque sou um Coração e nasci para isso. É essa a minha vocação.
Você fecha as portas desse reino para as ilusões porque teme o amor. O amor que você procura em todos esses príncipes sapos que são só um lado bom e um lado ruim na mesma pessoa. Porque você acha que o amor se procura, não é?
Cinder: E quando se acha, encontramos o “final feliz”, o maior tesouro da Helgolândia.
Coração: Os finais não são felizes, porque acabam. E felicidade não é fim, nem começo, nem meio. É só um dia de sol, que você coloca as mágoas para secar.
Eu sei que o Medo e você fizeram milhões de estratégias para encontrar o amor. O sarcasmo de construir guilhotinas e brejos só poderia vir da cabeça dele...
Cinder: Já chega de ironias, senhor Coração sabido... Continuarei com o meu conselheiro e aguarde a minha revolução. A Helgolândia vai mudar, e tenho dito...
Coração: Pois bem Vossa Alteza... Agora, anota essa aí no seu protocolo de medidas revolucionárias: o grande problema da prudência do seu conselheiro Medo é que ele não consegue enxergar que as ilusões invadem esse reino por um motivo só! O amor, não se procura. O amor acontece.
Por hoje é só, Vossa Alteza às vezes me cansa... Vamos Bobo, chega de questionar a autoridade da nossa princesa...

E o Coração, que era impulsivo demais, se fartou da prudência autoritária da princesa e saiu batendo as portas do Castelo principal da Helgolândia.
Cinderhelga olhou na ante-sala do Hall principal do Castelo e encontrou o conselheiro Medo fazendo planos estratégicos para a revolução que em breve aconteceria. Depois olhou pelas janelas da Helgolândia... Chovia torrencialmente. Era um dia triste.
Ela colocou um jazz para tocar e foi correr alguns quarteirões. Porque as palavras daquele Coração incomodavam bastante...