terça-feira, janeiro 31, 2006

São Paulo

Essa cidade vai te ensinar muito cedo que, por aqui, nada é de graça. E vai te ensinar o preço de viver sem ser de graça, que custa um pouco desse suor agonizante de quem tem pressa, de quem precisa vencer. E vai te fazer crescer e aprender, com essa dinâmica atônita e fugaz. Você vai ficar um pouco menos cru. Nessa cidade, se aprende logo no primeiro olhar, que a vida é dura, para quem nada tem. E de toda desigualdade, que fica em cada esquina, você vai levar um olhar mais áspero e indiferente, que de repente, se desfaz na poesia que acende junto a tantas luzes. Em meio a tantos prédios. Que vão lhe ensinar a ser pequeno. Ou ainda do tamanho que você realmente tem. Essa cidade vai te ensinar como ninguém a ser do tamanho dos seus sonhos. E, aos poucos, em meio ao caos instalado por aqui, você vai aprender a amá-la, incondicionalmente, com velocidade de seu trânsito estático.Vai conviver com o luxo e o lixo. Vai celebrar a cultura e a aventura de morar em um lugar, de tantos lugares. Um mundo com tantos mundos. Que se subverte em avenidas largas e no som estridente do metrô chegando. E nesse cinza de tantos tons, que doam chuvas e dias nublados, você vai entender que ao anoitecer, todas essas luzes e torres substituem as estrelas que nunca vem. E você vai aprender amar São Paulo, incondicionalmente.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Aquilo que incomoda por dentro

Acordei. Pensei duas vezes no que faria. Tinha centenas de estratégias para os minutos passarem rápido. Mas a preguiça era tanta que a forma mais fácil, de acelerar o relógio do tempo, era virar para o lado e dormir mais um pouco. Acordar tarde, como toda pessoa que precisa de férias poderia fazer. Cultuar meu lado inútil, esquecendo na insensatez o terrível significado dessa quase doença: improdutividade. Santa improdutividade! Rolar na cama. Ver o tempo passar e não ter nenhuma conclusão sobre o que é, o que pode ser ou o que será. Mas levantei. Levantei para correr . É minha maneira lúdica de escorrer no mesmo suor aquilo que incomoda.Fiz meu almoço, que queimou. Perdi a fome. Coloquei uma música triste no ônibus e procurei um ponto bonito na paisagem. Essa mesma paisagem que passeia pelos meus olhos diariamente.Solidão foi inevitável. Um pouco de melancolia, que marejava os pequenos olhos. Sem entender muito essa condição de as vezes ter tanto e se sentir sem nada, segui.A minha tristeza é a minha admiração nas pequenas coisas da vida. Me apego aos detalhes e depois que as coisas vão é difícil transformá-los em lembrança. A saudade sempre fica nessas pequenas coisas. Nos menores trejeitos do olhar de uma pessoa. No timbre da voz. Que não ecoa nessa realidade vazia. O que eu tenho agora senão saudades? Saudades do que foi, ou saudades do que não vai voltar. E me apego a outras pequenas coisas então. Como a paisagem diária do ônibus. Que um dia também sentirei saudades. Nessa eterna saga de viver e deixar viver. Para depois ir.Me entrego na ausência de você, que habita um micro cosmo do meu dia. E sinto saudades do seu jeito.É aquilo que incomoda por dentro. E não sei dizer.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Sem razões ao amanhecer

Tudo bem, eu confesso: foi uma crise, ou melhor, uma tormenta de pensamentos mal humorados no ínicio da manhã. Mas quem não acordaria assim se não estivesse amarrotado no ônibus? As vezes essa situação me irrita profundamente. Porque tenho o azar de andar com papéis para cima e para baixo e sempre, mas sempre mesmo, alguém me abalroa... Sim, porque não é uma simples trombada ou um empurrão que se ganha as 8:30 da manhã. É um literal, visceral e inoportuno abalroamento. Isso sem contar esses sapatos que a profissão me exige, que costumam ser um pneu careca em dia de chuva. Definitivamente, é um abalroamento matinal traumático.
Olhei tantos carros pela janela, mas não vi o meu. Porque não tinha. Mas as janelas comportam boas inspirações. É bom ver São Paulo amanhecendo apressada.
Olhei o ônibus lotado, olhei os carros vazios... Isso sim é uma incógnita. Porque raios os carros que cabem 5 pessoas, levam somente uma para o trabalho?
E aquela fiiiiiiiiiillllllllllllllllaaaaaaaaaaaaaaaaaa que não acaba mais, combinada ao asfalto que timidamente começava a ferver.
Abarrotada e abalroada no ônibus, então, penso... "ainda vou perder muita vida no meio desse trânsito". Talvez seja o preço de tanta individualidade. Ou talvez, estar ali cultuando o meu próprio individualismo, conduzindo meu EU e somente EU, quando até cabia um NÓS, seria assim o santo remédio que me livraria dos abalroamentos individuais.
E não praguejei mais os motoristas que se tornavam maiores do que eram e levavam a si próprios em seus carros que comportavam mais pessoas.
Mas entristeci, ao notificar minha inquieta consciência, que nada vai mudar e todos nós perderemos um pouco de nossas vidas, irritados no trânsito, todos os dias, ao amanhecer.

terça-feira, janeiro 17, 2006

Futilidades

Eu não acompanho o Big Brother, não sei o que está acontecendo na novela, não entendo de cremes de cabelo e nem de tipos de celulite, nunca ouvi um psytrance, não insiro mais do que quatro "tipo" em uma frase... Tipo eu, tipo tu, tipo eles...Não assinei a "Caras" desse mês e pior, nem consegui ler ela na sala de espera do dentista...Não sei quem casou, não sei quem separou, nem tampouco quem engravidou...Não me ligo nas cores do esmalte e não entendo de futebol. Não coloquei silicone, não finjo orgasmo, não sei quantos centímetros são necessários para encontrar um verdadeiro objeto sexual.Não fiz escova definitiva. Não entendo de marcas, não entendo de preços e não fiz um altar para a minha própria bunda... Sequer coloquei a na apólice do seguro!
Não sei cantar chiclete. Não vou à micaretas.
Não cultuo sapatos e nem bolsas.
Caramba! Eu sou fútil mesmo.

segunda-feira, janeiro 16, 2006

Feliz era minha avó...

Feliz era a minha avó que pegava na mão e sabia que estava namorando. Quando beijou pela primeira vez, era sinal de amor. E, finalmente, quando foi para cama com o fulano, tinha se convencido de que poderia se entregar sem pensar no que "ele iria achar"...
As vezes penso que essa liberdade feminina contemporânea devia vir com manual, afinal nesses tempos onde os minutos significam tanto, as vezes as coisas perdem o sentido. Como a conquista por exemplo...
Amar se aprende amando e isso não é coisa só pra poeta.
Sem falsos moralismos, também fiz as coisas que as "mulheres modernas" fazem e depois entrei em verdadeiros marasmos existenciais. Por isso repito: amar se aprende amando e todo aprendizado precisa de tempo. Um tempo que se sobressai aos segundos...
E por isso feliz era minha avó. Que provavelmente esperou o tempo acontecer e não acreditou que em três meses se construia um grande amor. Não acreditou que aquele fulaninho que ela conheceu numa balada, amigo do amigo e coisa e tal, era um projeto de grande amor e ficou ali, acreditando em tantas palavras.
Minha avó, certamente depois de ter se entregado, tinha um relacionamento com atitudes um tanto mais sólidas, ainda que ditadas por dogmas sociais. E se um dia acabou, ela não pode se auto julgar perguntando se havia feito certo ou errado.
Feliz era a minha avó que não acreditou naquele otário, que entrou na sua casa e na sua vida, disse que te amava, mas não pode ficar. Porque ele sempre ia.
Agora fica ai, procurando entender todos os porquês.
Bem feito. Quem sabe da proxima vez tu não se guia pelos sinais alheios e compreende que amar se aprende amando e deixa o tempo acontecer. Sem erros ou acertos.
E quando doer, deixa doer tranquilamente e não se entrega a correria do dia para ver tudo passar.
Há quem endurecer sem perder a ternura.
Porém, feliz era minha avó...

sábado, janeiro 14, 2006

Dançar

É tanto movimento que não dá para explicar, a leveza que me invade numa noite de lua cheia. Gosto de sentir meu corpo girando sobre as pernas, como se eu tivesse apenas um umbigo. Sou leve assim... com todas as gotas de suor! Eu não quero parar de rodar, por todo esse salão, sou passos e braços e pernas em um movimento que é um sentimento do que é inquieto e flutuante. Não tire a música porque hoje eu quero cansar. Hoje eu quero dançar. Dormir em estado de calamidade pública, em nome de toda a fadiga das minhas pernas. Hoje quando eu fechar os olhos, eu quero estar exausta de tanto rodar... é meu jeito de esquecer, de embriagar e de sentir viver. De novo.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Triste

A solidão comporta o vagar dos passos. Em ir e vir do trabalho, sem se encontrar. Não entendo o que a vida me diz. Só ando para lá e para cá. Estou exausta de sentir. Estou exausta da minha verve em viver. Do tamanho dos meus sonhos. Porque raios eu fiquei assim? Mais quixote do que gente. Um coração partido, que vaga no meio da avenida paulista. Sem respostas. São todas questões... eu estou cansada e triste...

sábado, janeiro 07, 2006

Sobre os cacos

Levantei. Para juntar os cacos, separar os pronomes: o eu, o tu, o nós. Tive que jogar certas coisas. Guardar os bons momentos em um lugar escondido, qualquer. Na tentativa de escapar da saudade e deixar que tudo se torne lembrança. Havia muita coisa estilhaçada, muita dor ali parada e uma vontade imensa de correr, deixar tudo onde estava, ir para vida, ou para um bar qualquer, eu precisava dançar... Dançar a vida! Viver todos os minutos da vida e não deixar doer. Foi inevitável... No primeiro jazz e já vieram milhões de lágrimas. Que ali só podiam lavar a alma. E que feridas o amor não deixa, assim quando não dá certo? Eram tempos de doer... queria correr para qualquer lugar e para lugar nenhum. Queria avançar os minutos do relógio para bem longe dali. Queria ir... somente ir, sabe se lá para qual lugar...Queria saber o que fazer, com esses cacos, agora...